terça-feira, dezembro 14, 2004

O mundo ainda vai acabar por falta de verba.

FÉCHION - Qualquer pessoa cujo crânio contenha uma quantidade mínima de massa cinzenta sabe que essa coisa chamada moda pode ser uma das instituições mais nefastas já surgidas na história da humanidade. Vitimiza brancos, pretos, amarelos, pardos, ricos, pobres, dentistas, jornalistas, músicos, arquitetos, publicitários (especialmente), apresentadores de tv, professores universitários, agitadores culturais e joselitos-sem-noção em geral, sem qualquer forma de distinção. Por outro lado, é preciso dar o devido crédito que essa coisa chamada moda teve na divulgação do rock e suas tendências ao longo das décadas. Claro, meros dois segundos após os Sex Pistols estourarem no Reino Unido e mandarem o entrevistador da BBC se fuder, o mainstream, na forma dos estilistas oportunistas da ocasião (e qual não é?), já havia absorvido e diluído toda a estética punk em roupinhas inofensivas para as madames e seus cachorrinhos poodle desfilarem em Picadilly Circus. E na época do grunge, então? Quer coisa mais constrangedora do que ver na Caras aquelas senhoras de alta sociedade travestidas de Kurt Cobain? Constrangedora e irritante para quem realmente era do movimento. Bom, todo esse falatório é para dar uma refletida antes de dar uma olhada nessa matéria aqui, da BBC em Português, sobre o lançamento do livro Fashion Forever: 30 Years of Subculture, do fotógrafo inglês Iain McKell, que passou os últimos 30 anos registrando os variados movimentos que entraram na moda na Grã-Bretanha. Muitíssimo bem posicionado, do epicentro lançador da maioria das tendências dominantes do rock, McKell registrou em belas fotos os punks, os new romantics, os góticos, new wavers, rockers, mods, clubbers etc. Vendo as imagens, dá até para olhar com mais simpatia para essa coisa chamada moda, já que, de um modo ou de outro, o rock sempre esteve ligado à ela. Pro bem ou pro mal. Mas que, no geral, essa coisa é uma instituição terrivelmente nefasta à dignidade, ao bolso e à cabeça das pessoas (especialmente àquelas não tão privilegiadas por uma inteligência mais acurada), ah, isso é. É meeeesmo.

CRUMB & THOMPSON - A Conrad Editora, dos jornalistas André (kill Regina Casé) Forastieri e Rogério de Campos é hoje, o que a Brasiliense era nos anos 80: a editora mais antenada em contracultura do Brasil. Além da Coleção Baderna, quadrinhos europeus e japoneses (pilhas e pilhas), romances alternativos e que tais, a Conrad está preenchendo uma importante lacuna no mercado editorial brasileiro ao lançar, aos poucos, as obras completas de Robert Crumb e Hunter S. Thompson, dois dos maiores pilares da contracultura americana de todos os tempos.
Crumb é o pai de personagens essenciais do movimento comix underground como Fritz The Cat e Mr. Natural (o pai do Ralah Rikota, do Angeli, certamente seu maior seguidor em terras brazucas). Dele, a Conrad já lançou as mais completas coletâneas de histórias de ambos os personagens. Além dessas duas, tem também América, maravilhoso álbum com sua visão destruidora da Terra de Marlboro e Blues, álbum em que conta diversas histórias sobre o ritmo pai do rock, uma de suas paixões. Edições primorosas, traduções decentíssimas (cortesia do Alexandre Matias), imperdível é apelido. Essencial. Tudo bem, é meio caro, não dá pra comprar tudo de vez, mas vai aos pouquinhos que compensa, e como. Além desses álbuns, a Conrad lançou ainda uma coletânea da Zap Comix, principal revista do movimento e outra coletânea só dos maravilhosos, extraordinários e ultracool Freak Brothers, imortal criação de Gilbert Shelton. Quem já tinha os dois volumes lançados pela LP&M na década de 80 vai ficar coçando na dúvida se compra esse ou não, com medo de ter histórias repetidas. Mas acho que vai acabar comprando.
Já Hunter S. Thompson é o pai do chamado jornalismo gonzo, estilo que manda às favas a objetividade e o tom sério do jornalismo convencional em favor da visão única dos doidões empapuçados de drogas e carregado de críticas e palavrões. De Thompson a Conrad já lançou seu primeiro livro, Hell`s Angels - Medo e Delírio Sobre Duas Rodas, obra em que disseca, ainda em meados dos anos 60, a famosa gang de motoqueiros barra-pesada do oeste dos EUA. Para isso, o maluco passou um ano convivendo com a gang. Terminou a reportagem no hospital, depois de tomar uma surra. Tô lendo esses dias, e me divertindo muito. Ano que vem a editora já prometeu lançar A Grande Caçada aos Tubarões, este uma coletânea de reportagens, desde já constando na minha wish list para 2005. Mais adiante eles devem lançar uma nova edição de sua obra mais famosa, Fear and loathing in Las Vegas, lançado há uns 15 anos atrás no Brasil com o título Las Vegas na cabeça por uma editora que não lembro no momento. Para quem não tá ligando o título ao filme, é aquele dirigido por Terry Gillian com Johnny Depp e Benicio Del Toro, chamado Medo e delírio em Las Vegas, legal pracas. Clica aí nos links que cê fica sabendo mais, vai.

FESTIVAL DE VERÃO - Foi divulgada a lista de atrações do já tradicional festival que inferniza o verão soteropolitano com sua divulgação maciça. Além de Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta e a musa adolescente Pitty (tocando pelo segundo ano consecutivo no palco principal), só se salva a Noite Deckdisc, com Ludov, Matanza, Dead Fish, Gram e Black Alien, todos tocando pela primeira vez na terra do Rapazola. Só contem comigo nessa noite, por favor. Inclusive, essa programação foi acaloradamente discutida por mim e Marcos com o companheiro Luciano El Cabong em seu blog. É sempre bom discutir com gente que tem argumento. Vai lá e dê seu pitaco também. Ah, tem uma tal de noite rock Bahia que é algo de inacreditível, totalmente lamentável, fora da realidade e sem noção. Onde é que essa organização pega essas referências, hein? No site de Lícia Fábio? Michele Marie? Me poupem.

Um comentário:

osvaldo disse...

Que folego hein Chicão.Legal suas dicas, principalmente a da Conrad, os livros indicados tambem entraram na minha wish list instantaneamente. Quanto ao Festival , sem comentarios, voces já falaram tudo lá no El Cabong, é apenas lamentavel e muito triste que os caras que detem o poder economico tenham tamanho mau gosto musical.