quarta-feira, novembro 30, 2005

ALMAS PERDIDAS

Banda que, aos pouquinhos, eu descobri que gosto demais é aqueles meninos do Doves. Inicialmente hypados (conheci pela coluna do Lúcio Ribeiro, confesso sim, so what?), essa banda britânica teve um momento de glória na mídia rock em 2002, com o hit There goes the fear, que levou o disco The last broadcast (2002) a vender muito bem na época. There goes the fear é realmente uma linda canção, com um forte sabor de U2 em seu arranjo. No final, tinha um sambinha (atravessadérrimo, até um néscio como eu pude perceber) e o clipe era soberbo, um trabalho de chroma-key (se não me engano) poético como poucos. Sério, cada cena parece um quadro, de tão bonito que é esse clipe. Até aí, morreu Maria preá. 2002 acabou, e a banda parece ter voltado à uma semi obscuridade, soterrada sob as milhares de bandas "foda" que parecem surgir a cada sexta-feira na Pensata do senhor Ribeiro. Gostei muito do "Broadcast", então, mais adiante, consegui seu disco posterior, "Lost sides" (2003), uma coletânea de lados b dos seus dois primeiros discos, "Lost souls" (2000) (que também consegui mais tarde) e o citado "Broadcast". Pois bem, não é que acabei gostando mais desses dois (o primeiro e a coletânea de lados b), do que do disco "do hit"? Lost souls é um disco triste, mas foda-se, eu não escolho discos por que são tristes ou alegres, eu escolho discos por que eles são bons. (Na minha concepção, claro.) Seu andamento é algo etéreo, impõe-se com o tempo, não é disco que você se apaixone de primeira. Pianos, violões, uma gaitinha às vezes, algumas vozes com efeitos fantasmagóricos, melodias introspectivas, lindonas e viajandonas TOTAL. Saca o Violeta de Outono (que parece que vem mesmo tocar aqui em Salvador - pela 1ª vez - em mais de 20 anos de carreira, prest'enção!)? Pois é, colocando de forma grosseira, é mais ou menos como o Violeta de Outono, só que sem a intenção explícita em soar psicodélica da banda brasileira (o que não é nenhum demérito, diga-se). Tem influência do Pink Floyd, mas acho que de uma maneira diferente do Radiohead, por exemplo. Outras influências óbvias são Smiths e Joy Division, claro. Som atmosférico, chaplex de primeira qualidade. Não é pra pegar e botar pra tocar no Miss Modular. É mais para ouvir em casa, curtindo umas, se é que você me entende. Já li umas críticas por aí desse primeiro disco e todas diziam que o segundo era melhor, mais maduro e tal. BALELA! Lost souls é O disco do Doves. Quer dizer, tem o mais novo, Some cities, lançado no começo de 2005, mas ainda não tive o prazer. A coletânea de lados b, Lost sides, é outra pepita injustamente esquecida por aí. O efeito é o mesmo do outro disco: administrado em doses exatas por um curto período de tempo, ganha efeitos viciantes devastadores e incuráveis. Ouça o doutor Franchico.

SORRY PERIFERIA - Tá sentado? Então, é melhor sentar direitinho: a banda baiana Canto dos Malditos na Terra do Nunca, escalada para tocar na etapa Salvador do Claro q é rock em abril último, foi contratada pela Warner. Minha fonte (não conto quem é nem sob tortura) me garantiu que o grupo vai gravar seu primeiro disco no primeiro semestre do ano que vem, com produção de Carlos Eduardo Miranda. Fuuuuro!

SUPREMOS ESCROTOS - A revista Homem Aranha Millenium nº 47, nas bancas de Salvador desde ontem, terça-feira, é um excelente, como eles dizem lá nos USA, jumping point para você se presentear com um novo vício. A partir desse número, tem início a segunda temporada de Os Supremos, ou The Ultimates, na língua original. Trata-se da versão Ultimate Marvel dos Vingadores, que aliás, tão numa urucubaca desgraçada (e bacanérrima pra quem lê) em sua versão tradicional. Escrita pelo escocês maluco e alcoólatra Mark Millar, o que é ótimo, a versão Ultimate dos maiores heróis da Terra é infinitamente mais arrojada e plausível que sua contraparte tradicional. O Capitão América é abertamente o que sempre foi, mas faziam questão de esconder: um John Wayne de máscara e escudo, republicano e escroto até a medula. O Hulk só sai peladão e come seus inimigos. Não sexualmente, mente suja, ele canibaliza a galera, mesmo. Enlouquecido, destruiu vários prédios em Nova Iorque, matando mais de 800 pessoas. Uma verdadeira pessoa de destruição em massa, como é chamado pela imprensa. O Thor é considerado um charlatão new age boa praça com tendências alucinatórias, pois se diz um deus (do trovão, no caso). O Gigante (o cientista Hank Pym), bate na esposa, a Vespa, que aliás, dá o maior mole pro Caputão América. Como se vê, só gente boa. Ah, Nick Fury, o manipulador diretor da Shield (agência ultra secreta de espionagem e tecnologia, tal) é a cara do Samuel L. Jackson. Mas a cara mesmo, o fantástico desenhista inglês Bryan Hitch retrata o homem à perfeição. Bem como todos os personagens (que ganharam novos e modernos designs, claro) e as cenas de ação, épicas, gigantescas, cinematográficas. Bom, Os Supremos fizeram tanto sucesso, que a Marvel está produzindo dois longas metragens em desenho animado que serão lançados no ano que vem, direto no mercado de DVDs, baseados na primeira temporada, que durou doze números. Nessa segunda temporada, veremos... bom, sei lá o que veremos. O primeiro número tá nas bancas e bate um bolão. Ainda tem histórias das versões Ultimate do Homem Aranha (texto de Brian Michael Bendis, que O grande nome da Marvel hoje em dia), dos X-Men (claaaro) (texto do Brian K. Vaughan, de Ex Machina, aguardem texto sobre) e do Quarteto Fantástico (texto do Warren Ellis, outro britânico maluco de carteirinha), que também são bem bacanas. Homem Aranha Millenium nº 47, nas bancas, R$ 6,90.

FRASE DA SEMANA - "O melhor emprego do mundo é ser bichinho ou solzinho de pelúcia no show do Flaming Lips". Mário Jorge, pai de todos os rockloquistas, ainda impressionado.

segunda-feira, novembro 28, 2005

SÓ PARA CONSTAR

A banda gaúcha Cartolas levou o grande prêmio do concurso Claro q é rock, faturando uma van, a gravação de um disco no estúdio Toca do Bandido e dois (2! Um só não basta?) videoclipes. Diz que Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta, ilustres representantes baianos, ficaram com o segundo lugar. Sobre o concurso, registre-se o mico (tá mais pra King Kong) relatado pelo repórter Marcos Casé, do jornal A Tarde:

"Mas o principal fato negativo ficou por conta da organização do festival, que, para começar no horário marcado, permitiu que o grupo (Ronei e OLDB) tocasse sem a presença dos jurados, o que aconteceu também com a Volpina, de Sorocaba (SP), segunda a subir no palco. Atrasados, os jurados - a cantora Pitty, os jornalistas Lúcio Ribeiro e Sílvio Essinger, o produtor musical Carlos Eduardo Miranda, o diretor da MTV Mauro Bedaque e os curadores do festival, Constança Scofield e Wagner Vianna, do Estúdio Toca do Bandido - só assistiram ao vivo a partir do show da terceira banda, exatamente a Cartolas. Depois de muita discussão, se os primeiros shows teriam que ser repetidos, ficou acertado que o júri veria a gravação feita pela MTV para avaliar a performance do Ronei e da Volpina. Pior para as bandas, que não puderam ser analisadas no calor e na emoção do palco".

Ei, ano que vem me chamem pra ser jurado que eu juro que chego no horário, valeu?

De resto, diz que Iggy detonou, o Lips encantou, Sonic Youth entortou, NIN quebrou tudo e Fantomas e Good Charlotte só serviram mesmo para encher o saco. Já tá cheio de relatos de quem estava lá, por aí. Mantenha sua bunda gorda na cadeira e vá se informar direito em outros lugares.

E ano que vem me aguardem! ;-)

TRIBUTO À STEVE MARRIOT NAS BANCAS - Acabei de ver no meu horário de almoço um DVD na banca de revista com um show em tributo à Steve Marriot, seminal guitarrista e vocalista da não menos importante banda setentista inglesa Humble Pie, que era um belo cruzamento de soul, blues e hard rock. No show, participações do modfather Paul Weller, dos Oasis Liam Gallagher e Gem Archer (ei, esse cara não tocava no Ride tb?), Kenney Jones (substituto - se é que isso é possível - de Keith Moon no The Who) e Peter Frampton (tb ex-Humble Pie), entre vários outros. Não, não conheço - como deveria - o Humble Pie, mas parece bem bacana, pena que meu orçamento para dvds deste mês já foi. R$ 17 e uns quebrados.

quarta-feira, novembro 23, 2005

TAKE IT TAKE A LITTLE PIECE OF MY HEART NOW BABE

Nem terminei ainda (faltam umas 60 páginas), mas eu não resisto. Enterrada viva (8ª edição em 1991, 334 páginas, Ed. Civilização Brasileira, tradução de Vera Neves Pedroso), a clássica biografia de Janis Joplin escrita por Myra Friedman, amiga pessoal da cantora e assessora de imprensa e RP do escritório de Albert Grossman (judeuzão esperto como a porra que também era empresário de Bob Dylan e Peter, Paul & Mary entre outros - veja mais sobre Grossman em No direction home, o recente documentário de Martin Scorsese que já nasceu clássico) é, se ninguém aí perdeu o fio da meada com tantos nomes citados de uma vez só, simplesmente, um dos melhores livros sobre rock, sobre uma época e finalmente, sobre uma verdadeira estrela da música, que eu já li em toda a minha caspenta existência, se me permitem um toque amargo de baixa auto estima aqui. É que não dá para se sentir diferente, não depois de ler o relato preciso e a análise fria e acurada de Friedman, uma repórter de mão cheia, sobre aquela época e aquela pessoa em particular. Quando se fala em anos 60, os sobreviventes daqueles anos loucos costumam dizer que não se lembram direito de nada, por que estavam tão inapelavelmente pirados na batatinha, que foi tudo pro ralo do esquecimento mesmo. Myra Friedman, contudo, deve ter sido uma das pessoas mais chatas do mundo naquele tempo, pois ela devia ser o único ser humano "de cara" a freqüentar shows e festivais de rock. Só isso explica como ela se lembra de detalhes como a roupa que Janis estava usando dia tal, quando elas tomaram um café na esquina tal em NY. Suas descrições são extremamente precisas e suas análises do comportamento e da personalidade de Janis são como as que você faria de seu melhor amigo: você conhece os defeitos, as qualidades, os traumas e vitórias. É foda: a mulher tava lá no concerto que Janis deu, à pulso, digamos assim, para uns 2 mil motoqueiros Hell's Angels numa espelunca em São Francisco, à pedido dos motoqueiros. (Naquela época não era muito aconselhável declinar de um convite da temida gang.) O resultado foi Janis arrebentando sua garrafa de Southern Comfort em pleno palco na cabeça de um deles. O infeliz não parava de puxar uma de suas echarpes. Sorte que o líder deles viu que o bebum tava abusando Janis e deixou por isso mesmo. Friedman começa sua história do início, da infância de Janis. Como diz Ruy Castro, biógrafo tem que gastar sapato para escrever. Foi o que Friedman fez, indo à cidade natal de Janis, Port Arthur, Texas, entrevistar os pais, parentes e amigos da cantora. Ficamos sabendo que, no ano em que entrou na faculdade - que nunca terminou, claro - Janis ganhou o título de "Homem mais feio do campus". Isso aí, entre outros episódios deprimentes, mais uma tendência natural ao alcoolismo (seu maior vício), transformaram a menina texana de boa família numa pilha ambulante gigantesca, uma bomba relógio com hora certa para detonar. Muitos personagens típicos e engraçadíssimos da época, que passam rapidamente pelo livro, ganham um perfil detalhado e sardônico, para dizer o mínimo. Coisa digna de um Tom Wolfe. Vejam só esse trechinho pescado à esmo numa página qualquer:

"Emmet Grogan: autor de uma autobiografia, Ringolevio, editada em 1972. Quando o conheci, em 1968, ele ainda estava à procura de si mesmo. Ex-viciado em entorpecentes, ator, ladrão e naturalmente, digger (nota: Boiei. Alguém? Ferris?), Emmet alcançara alguma fama como um Robin Hood do Haight-Ashbury. Na verdade, alcançara mais do que fama. No "underground" (aspas da autora) americano, Emmet é tão lendário quanto o Pimpinela Escarlate. É procurado aqui, ali e há sempre dúvida quanto ao lugar onde ele possa ser achado: no céu ou no inferno. Na realidade, ele se parece com o Pimpinela tanto quanto com Sonny Corleone, com a diferença de que é um bonito descendente de irlandeses, com feições corretas e uma ira conquistada nas ruas do Brooklyn. Também já foi um menino de coro, tudo isso resultando numa combinação explosiva e numa tendência alarmante para julgar, de vez em quando, que todo o país está preocupado - negativamente - com Emmet Grogan".

E continua, mas isso aqui é só um parágrafo. Não é possível. Essa moça Friedman deve ter dado pra esse cara. Ou pelo menos, quis dar. Mas isso aí é só para vocês terem uma idéia do nível de refinamento do texto dessa mulher. Na página 196, encontramos o brevíssimo relato - pro tanto de história que até hoje nego (Serguei, principalmente) conta - sobre a passagem dela pelo Brasil no verão de 1969. Infelizmente, a autora não acompanhou Janis nessa viagem. Portanto, nada sobre Arembepe, nada sobre Serguei. Mas Salvador é citada: "Janis e David (Niehaus, que ela conhecera na praia em Copacabana) acabaram não se embrenhando na selva. Preferiram viajar pela costa nordeste do Brasil, até a cidade de Salvador". E só. É isso aí, amiguinhos. Enterrada viva é A Biografia quando se trata de Janis Joplin, se é que alguém aí ainda se interessa por ela. Eu mesmo achava que não me interessava mais. Janis Joplin é aquela coisa: você descobre ainda em algum ponto da adolescência, ouve loucamente durante uns dois ou três anos, e depois larga de mão. Pelo menos comigo foi assim. Já tive minha cota de Me and Bobby McGee, sabe? Bom, ainda não tenho nenhum disco dela, nem tive vontade de procurar um. Só comprei o livro por que achei por um preço razoável na banca de revista do shopping: R$ 19,90 (quem costuma ler isso aqui deve achar que eu sou o maior fominha: "porra, esse cara só compra coisas em promoção!". Nem sempre, galera). Ah: mais uma coisa: não sei se existem edições mais novas desse livro. Se não, é uma tremenda marcação de bobeira da editora nacional. Uma nova edição, acrescida de uma nova introdução da autora, entre outros extras, foi lançada pela editora americana. A Civilização Brasileira (ou outra editora) bem que podia relançar o livro com esse upgrade. Essa edição que eu tenho, de 1991, parece que foi feita antes do advento do Windows, pois a capa, ainda que austera, é bem tosquinha - em econômicas duas cores. Pesquisei no Submarino e a edição que eles oferecem - mas está esgotada - é igual à minha. Uma nova edição, devidamente revisada, com uma nova tradução, encadernada, acrescida do conteúdo atualizado da autora, repaginada (literalmente) e com uma nova e moderna direção de arte, certamente seria um sucesso de vendas. Enterrada Viva, A Biografia de Janis Joplin, por Myra Friendman, é um puta trabalho de fôlego. Se puderem, leiam.

SCOTT SOTO SOLTA A VOZ (E O REPÓRTER DO RL VÊ TUDO PELA GRETINHA DO LADO DE FORA) - Perguntei prum broher das antigas como foi o show do Jeff Scott Soto no Rock in Rio Café sexta passada e o cara de pau me envia o relato a seguir.

Cara, o show do JSS foi legal mas foi uma viagem porque eu cheguei lá por volta das 23h com Bubu. A porra da banda que tava tocando era mais ou menos merda e dei uma volta com Bubu pra queimar um... quando voltei fiquei ouvindo o som do lado de fora, não estava cheio... perguntei com toda educação (após um tradicional "boa noite") ao maluco da portaria se podia ver como estava lá dentro pela porta, sem entrar, e o cara disse que não dava... eu não acreditei e perguntei de novo: "Rapaz, eu não posso chegar na porta e ver como está lá dentro???" e não é que o FDP reiterou o não! Fiquei indignado e dei as costas pra ele com um sorriso escroto, e continuei do lado de fora falando com Bubu... de repente lá se vai uma seqüência de músicas do Marching Out... Percebi que era o JSS e o bonde já estava andando... Fui pelos fundos ver pela greta o movimento e só tinha cueca... Acendi outro dedo de hulk com Bubu e fiquei vendo o show pela greta... O som tava redondíssimo... Os caras tocaram cover do Queen, Scorpions, dance dos anos 70, Malmsteen, Whitesnake... Foi muito legal man, e o cara ainda canta pacas...

Por Ricardo Estupô, repórter especial para o Rock Loco.

Eu guento?

quarta-feira, novembro 16, 2005

"I AM THE LORD OF WASTELANDS /

A MODERN DAY MAN OF STEEL /
I GATHER DARKNESS TO PLEASE ME /
AND I COMMAND THEE TO KNEEL /
BEFORE THE GOD OF THUNDER /
AND ROCK N' ROLL OOOOUOO /
THE SPELL YOU'RE UNDER /
WILL SLOWLY ROB YOU /
OF YOUR VIRGIN SOUL"
KISS, God of Thunder.

Lá vou eu falando do Kiss de novo.

(...)


Ainda tem alguém aí? Bom aos que sobraram, não custa avisar que tá nas bancas um desses DVDs que vêm encartados em revista, trazendo, simplesmente, um show do Kiss no auge da juventude e criatividade (sim, eles já foram criativos), em 1976. Kiss: The Lost 1976 Concert, o DVD, é material para fazer calar os detratores, ou então o contrário: de fazer clamarem os incréus pelo próprio Deus do Trovão, ou melhor, por God of Thunder, um dos petardos - com o perdão da má palavra - que constam deste lançamento. É bom lembrar que 1976 é o ano em que o Kiss lançou Destroyer, que vem a ser - incontestavelmente - o melhor disco da carreira da banda beijo. Por isso mesmo, traz em seu repertório performances ao vivo raríssimas das músicas daquele disco, como Flaming youth (esta é inédita mesmo, só tem aqui), Do you love me e a já citada God of Thunder. Tem ainda as ultra-clássicas Cold gin (com direito à momento-solo-de-guitarra de Ace Frehley), Watchin' you (com direito à momento-solo-de-bateria de Peter Criss), Firehouse e Black diamond. Pena que acabe aí, só com sete músicas, mas dá para babar na gravata só com isso, garanto. Apesar de ser em p&b, o show é razoavelmente bem iluminado, ainda que a imagem esteja meio esmaecida, o que na verdade, só reforça a aura de vídeo raro, perdido por muitos anos. Tem uma oitava faixa meio esquisita, uma homenagem ao Kiss, não explicada, por um tal de Kieselhorst Experience tocando uma música chamada Flamethrower, que vem a ser um instrumentalzinho emulando o Kiss áureo do show, enquanto rola um clipe com uma colagem de cenas dos mascarados originais em ação. Uma picaretagem. Já o material extra, esse sim, é caprichado e raríssimo. Trata-se de uma entrevista (em 29 de abril de 1974, dois anos antes do show) do baixista Gene Simmons (o linguarudo, para quem não está familiarizado) no Mike Douglas Show, talk show vespertino caretérrimo de uma emissora da Filadélfia. Vou te contar: o negócio é hilário demais. O tal Mike Douglas diz para as câmeras que vai apresentar um novo grupo de rock. Mostra a capa do primeiro disco, recém lançado, e chama: "Do Kiss, Gene Simmons!". O cenário (brega, tosco) se abre e adentra ao estúdio (e lares americanos) o Anti-Cristo em pessoa: botas decoradas com caveiras e salto de 30 centímetros, asas de morcego sob os braços, a máscara, ah meu deus, a máscara! E o cara vem mostrando a língua e tudo. Depois faz uma mesura para o público, aperta a mão do apresentador (estupefato, como todo mundo no estúdio, com uma platéia de cem pessoas) e então se dirige aos outros convidados, sentados em poltronas: um véio, uma véia e um cara. Risadinhas nervosas no auditório. Ele respeitosamente aperta as mãos da véia, do véio e a do cara, que sei lá por que, se inclina em direção à Gene, como se fosse para ouvir (ou falar algo no ouvido). Este, subitamente, lhe dá uma risadona escabrosa maligna: "Ah! Ah! Ah! Ah! Aaaahh!!!" Lembre da risada maligna do Didi Mocó, não é muito diferente. O cara se assusta e tem um sobressalto. A platéia vai abaixo. Mais adiante, depois de se intitular "um morcego, a encarnação do mal", o israelense Gene perde o rebolado quando a véia (que, aliás, enverga um moderníssimo penteado à Marge Simpson) o chama de "um bom filho judeu. Sua mãe está assistindo, não está?", pergunta. "Como você sabe (que eu sou judeu)?", espanta-se Gene. "A máscara não esconde seu nariz", responde a véia ousada. Na seqüência, performance ao vivo da banda inteira tocando Firehouse, com direito à show pirotécnico e o'scambau. Kiss: The Lost 1976 Concert está (talvez, ainda) nas bancas por R$ 13,90. Para mim foi (pouco) dinheiro bem investido. E olha que nem sou de ficar fazendo coleção de DVD (já bastam os quadrinhos, cds, vinis, livros e canhotos de ingresso de show).

AGENDÃO ROCK (LOCO)

  • OS MAICOLS - Muito divertida a estréia dos Maicols na quinta feira passada no Miss Modular, a presença do astro/xerox junto à banda (e que banda), deu um caráter alucinógeno ao evento que promete quebrar todos os protocolos da diversão na soturna noite soteropolitana. Nesta quinta às 22h tudo o que vc queria saber sobre a verdadeira estória "dele", nesta saga chamada : "Os Maicols" Imperdível! Nancyta voz Enio guitarra CH baixo Rex bateria DJS Sartorello e Maira (16 toneladas), Roger n' Roll, Bigbross e Mauro Telefunksoul Miss ModularQuinta 17/11 Horário:22:00h Ingresso:10,00
  • VANDEX, LOU, ALEX POCHAT E OS CINCO ELEMENTOS - animam a noite da Zauber nesta sexta. DJs: Batata e rogério Big Brother. Zauber Ladeira da Misericódia - Centro ( atrás da Prefeitura) Horário: 23hsIngressos:R$ 10,00
  • BOOGIE NIGHTS x É 8 E 80 - DJS 80 pista 1 batata, don jorge, gabí, chicão DJS BOOGIE pista 2 bigbross / rogernroll / marcos rodrigues Miss Modular Horário:22h Ingresso :R$10 info: 81165322 bigbross@terra.com.br
  • Soul Sundays :: Groovy Summer Nights - E nesta semana, enfim, o início das Soul Sundays. O fino do Groove dos 60's & 70's. DJs André Urso, Marcos Rodrigues e Roger'n'Roll (residentes), além de Mário Sartorello e Maira (16 Toneladas) + Convidados. Apoio MTV Salvador, Programa 16 Toneladas(Educadora FM) e Informativo Se Ligue. Miss Modular. Open house: 17h. Ingressos R$15 e R$10 (antecipados na São Rock Discos - Shop. Rio Vermelho). http://soulsundays.blogspot.com

sexta-feira, novembro 11, 2005

AFROUXA ESSA GRAVATA, SENÃO VOCÊ SE MATA

SÓ PÁ-PUM, PRA FAZER SEU FERIADÃO BOOM!
(...da onde eu tirei essa merda?...)

BETTER LATE - Finalmente nas bancas de Salvador (maldita distribuição setorizada) dois dos melhores lançamentos dos quadrinhos de super-heróis do ano: Quarteto Fantástico de John Byrne e Batman: Ano Um - Edição Definitiva, de Frank Miller. (Nos links você encontra mais informações, no site Universo HQ). O primeiro compila as primeiras histórias do velho Byrne, escritor-desenhista-artefinalista famoso pela sua fase com os X-Men em parceria com Chris Claremont. Hoje, ambos estão completamente incapazes de criar uma historinha que preste, mas nos anos 80, Byrne maravilhou os fãs da primeira família Marvel com histórias cheias de ficção científica e muita interação bacana entre os integrantes do grupo. Fora que naquele tempo, ele ainda sabia desenhar. Para os fãs do Quarteto, é uma pedidaça. Só perde para a fase clássica de Stan Lee & Jack Kirby, claro. Já Batman: Ano Um - Edição Definitiva é a famosa reinvenção da origem do Homem Morcego criada por Frank Miller, também nos anos 80. Cheio de moral após o arrasa-quarteirão Cavaleiro das Trevas, Miller encarou, em parceria com o fantástico e sumido desenhista David Mazzuchelli (que antes tinha feito a fodástica Demolidor - A Queda de Murdock com Miller), recriar os primeiros tempos de Bruce Wayne no combate ao crime e corrupção em Gotham City. Quase todo mundo que gosta de quadrinhos já deve ter lido essa obra-prima, mas essa nova edição (definitiva, dizem eles) da Panini vem cheia de extras (ué? É dvd?) e um pôster lindaço. Uhú!

DEU NA DYNAMITE - QUEM SE HABILITA? PALCO DO ROCK: INCRIÇÕES ATÉ 02 DE DEZEMBRO. As incrições para o Palco do Rock 2006, festival que acontece durante o carnaval de Salvador, estão abertas e podem ser feitas até o dia 02 de dezembro. Saiba como se inscrever: A inscrição é gratuita. Poderão participar do festival bandas locais, nacionais e internacionais, do estilo rock. Pegar no site a ficha de inscrição do Festival. Imprimir somente uma e preencher. Entregar tudo via correio ou pessoalmente no endereço, juntamente com o seu material. Material: histórico (release); material de áudio com qualidade sonora audível, sendo CD devidamente identificado; duas fotos (podem ser xerox colorida). A organização não receberá material por e-mail. Endereço:Ruas Dias Gomes, n.02, Sala 04, Piatã, Salvador, Bahia. Cep 41650-310 Bandas que já enviaram/têm material na ACCRBA: Caso não tenha um material de áudio novo, basta mandar a ficha de inscrição devidamente preenchida e assinada, juntamente com uma carta dizendo que já possui o material na ACCRBA e que quer que o mesmo participe do processo seletivo do Palco do Rock 2006. Bandas Covers: O festival prioriza bandas com trabalho autoral. A possibilidade da participação de uma banda que tem o trabalho totalmente baseado em covers é muito remota. Quantidade de músicas para demonstração A banda tem livre arbítrio pra mandar no CD a quantidade que quiser, desde que esteja satisfeita em achar que o trabalho poderá ser analisado nas mesmas. Maiores informações: http://www.accrba.com.br
O ROCK LOCO AVISA: PARTICIPE POR SUA PRÓPRIA CONTA E RISCO. DEPOIS NÃO DIGAM QUE EU NÃO AVISEI, HEIN?!?

+ DEU NA DYNAMITE - PHIL COLLINS QUER RESSUCITAR O GENESIS - Alô Maurício Pedrão (o único fã que restou, que eu saiba)! ...E ainda diz que é com Peter Gabriel no vocal. Minha única dúvida é: como Phil Collins ainda toca? Diz que o veio tá surdo, surdo. Uh... Deve ser por vibração, né?

Bom, a próxima:

EX-MARILYN MANSON COM VOCALISTA DO KISS - Alô, Nei e Nancyta! Essa é pra gente. Paul Stanley vai lançar seu primeiro disco solo desde 1978, quando cada integrante do Kiss lançou um LP só com a carona maquiada estampada na capa. Não preciso nem dizer que o melhor dos quatro era o Ace Frehley, meu guitarrista de cabeceira. Pois bem: dessa vez, Paul terá as participações de John 5 (que tocou guitarra no Marilyn Manson) e Bruce Kullick (que, embora tenha tocado guitarra no Kiss, aparece tocando baixo). Quem aí acha que vai ser bom?
...
(som de grilos cricrilando)

AGENDA DO ROCK (LOCO)

SANGRIA E RONEI JORGE E OS LADRÕES DE BICICLETA
com a participação dos DJs Batata (residente), Ramon Prates (Bahia Rock) e Lucas Albarn (Nave) 12 de novembro (sábado), 22h Miss Modular R$10,00. Por falar em Sangria, não custa lembrar (fala, Maurão): "A Sangria agora tem site > www.sangria.com.br , apareçam."

JEFF SCOTT SOTTO pela primeira vez em Salvador. A Maniac Records, Mezzannino e a Rock Freeday se uniram para fazer um grande show INTERNACIONAL com grande estrutura de som, iluminação e segurança, no ROCK IN RIO CAFÉ em 18/11/2005 ás 21:00h, serão três atrações, JEFF SCOTT SOTO, um dos maiores vocalistas do Heavy Metal, que fechará o evento, NOMIN, como banda de abertura e a veterana SLOW, como segunda banda da noite. Jeff Scott Soto nasceu na Costa Rica, foi apresentado ao mundo da música pelo consagrado guitarrista sueco Yngwie Malmsteen. Com ele gravou os álbuns Rising Force (primeiro de Malmsteen) e Marching Out, considerado melhor album do Malmsteen e ele omelhor vocalista que já passou por sua banda. Participou ainda de vários tributos, a Ozzy Osbourne, Van Halen e Aerosmith, entre outros. E da Trilha sonoroa do filme Rock Star. Aguardem um grande show no melhor estilo JEFF SCOTT SOTTO 18/11 ? ÀS 21:OOHS CENSURA: 16 ANOS INGRESSOS - 1° lote com ingresso do Angra R$ 10,00 2° lote - R$ 20,00 Camarote R$ 30,00

Boogie Nights x É 8 e 80 - Edição conjunta de duas festas tradicionais: Boogie Nights e É 8 e 80. A primeira é a pátria do melhor do rock/ cumbias/ disco/ samba rock/ rocksamba/ jovem guarda, com os djs Bigbross, roger n roll, marcos rodrigues. A segunda resgata o imaginário de uma época. Circo Voador, Blitz, Brasília, Camisa de Vênus, Póspunk inglês... Parece que foi ontem, mas é também aqui e agora, É 8 e 80! DJs 80, pista 1: Batata, Don Jorge, Gabi, Chicão. DJs Boogie, pista 2: Bigbross, Roger'n'Roll, Marcos R. 19/11, Sábado, R$10 22h. Info: 81165322, bigbross@terra.com.br
Aham!.. IMPERDÍVER!

terça-feira, novembro 08, 2005

NA CARA DURA VOU TE DIZER QUE ESSA GAROTA PODE SER VOCÊ

É como eu vinha frisando, destacando, diria até mesmo reiterando: o Cachorro Grande quebrou tudo no show de sexta passada no Rock in Rio Cafe. Mas quebrou com gosto de sangue, ousaria até dizer, com gosto de querosene, à moda Beto Bahia. Foi um pau só, do início ao fim. Não interessa se você não conhecia todas as músicas, como a grande maioria das pessoas presentes (casa cheia, sim senhor), a pressão da mordida dos canídeos sulinos, era tal ponto impossível de ser ignorada que, quem não tava no gargalo se esgoelando (caso de muita gente conhecida do rock local), jazia de queixo caído mais atrás, embasbacado com tudo: a energia dos músicos, a potência do som, o entrosamento perfeito, as quebradas de ritmo totalmente descaralhantes... Na boa: foi um dos maiores esporros sonoros que já tive o prazer e a honra de testemunhar. O que era aquele pianinho boogie woogie deliciosamente onipresente o show inteiro? O carisma de Beto Bruno, o total domínio do palco e envolvimento do público que se estabeleceu ao longo de toda a apresentação? Ali pelo fim - totalmente bombástico - do show (não lembro de muitos detalhes - sim, eu tava bem louco), eu achei que eles iam quebrar todas as guitarras, o baixo, o piano do cara, eu achei que eles iam quebrar tudo, tamanha a fúria com que encerraram o massacre. Tava a maior galera ali no gargalão, Sexperienced comendo no centro, se não me engano, e parecia que Chuck Berry, Elvis Presley, Jerry Lee e Carl Perkins (Marcelo Gross é um monstro) tavam todos ali sobre o mesmo palco, uma barreira louca se espremendo de encontro ao "altar", com a as mãos pra cima - extáticos, era como estávamos todos. Foi uma experiência quase religiosa. Nossa. Saiu todo mundo de alma lavada, ouvido zunindo, meio surdo, arrasado. E a banda gaúcha, em seu primeiro show, digamos, pra valer aqui na Bahia (aquele no Wet n' Wild pra playboyzada não conta) saiu consagrada do palco. Mas consagrada mesmo, como poucas vezes vi um público reagir tão bem à uma banda de fora. A última vez que vi o público baiano (o do rock, bem entendido) tão receptivo assim foi no show do Placebo, em abril último. Antes dos Cachorros, teve a Sangria e os Retrofoguetes, que também fizeram grandes shows, como sempre. No palco, Rex apresentou seu filho (que via o show do camarote) à turba: "é a primeira night dele", entregou, para delírio da galera. Depois, o sumido e sempre bem-vindo Alex Porchat subiu para tocar seu trumpete em "Misirlou", do Dick Dale, com a banda, em mais uma daquelas performances matadoras. A Sangria, em semana agitada (teve show terça, no mesmo Rock in Rio e na quinta, em Aracaju com o Big Dog), visivelmente aumenta seu público a cada ritual satânico, digo, a cada show. Endiabrados no palco, os "sequelados" vão aperfeiçoando seu repertório, fazendo um show cada vez mais equilibrado e redondo. Não é todo mundo que guenta com o esporro sombrio e pesadão da banda, mas as rodas de pogo vêm surgindo constantemente, o que é muito bom. Outra nota positiva da night é que, pela primeira vez, eu não tenho o que reclamar de um show no Rock In Rio. Parabéns para a organização do evento, que teve a felicíssima idéia de chamar seu vigário Batata para discotecar na night, o que nos poupou de ouvir Usher, Eminem e Jennifer Lopez antes e nos intervalos dos shows. Um detalhe tão simples, e fez uma diferença de astral brutal no lugar. E não, também não tivemos aquela detestável lâmpada estroboscópica nos cegando a noite toda, Jah seja louvado... Agradeço à Apú, Maurão, Bola, Pedro e Emanuel pelas cortesias e... não esqueçam de me chamar para o próximo, hein?!?

PRÊMIO LONDON BURNING DE MÚSICA INDEPENDENTE 2005
Recebi um material gigante sobre o Prêmio do site - produtora do gerrilheiro indie Luciano Viana, reproduzo um pedaço aqui. Recomendo quem estiver interessado, escrever para o email showslb@uol.com.br para pedir o regulamento inteiro. Então, segura aí e se agilize, que o prazo final para mandar seu material é 1º de dezembro.
London Burning anuncia nova edição de um dos mais importantes prêmios para a música independente do Brasil. Contabilizando mais de 100.000 votos nas duas primeiras edições e quase mil discos/vídeos enviados de todos os estados e contando com a colaboração de alguns dos principais jornalistas, produtores e ativistas culturais como jurados, o prêmio chega em sua terceira edição cada vez mais forte em termos de mídia e produção.PRÉ-SELEÇÃO > Concorrerão ao PRÊMIO LONDON BURNING apenas discos e vídeos lançados entre 1 de setembro de 2004 a 1 de outubro de 2005, de forma independente ou emgravadoras independentes brasileiras*. Para concorrer a uma das indicações das TREZE categorias do PRÊMIO LONDONBURNING, a banda/artista terá que enviar 2 (duas) copias de seu material (CD e/ou Vídeo) para o seguinte endereço: London BurningRua Jardim Botanico 236/ apt. 604 Rio de Janeiro ? RJ CEP 22461-000. Não esqueça de indicar no material em qual categoria você pretende concorrer. O prazo para envio do material vai até 01 de dezembro (quinta-feira). O anúncio dos indicados acontecerá no dia 10 de dezembro (sábado), com prazo de 2 (dois) dias para dúvidas e/ou reclamações. Por sua vez, os produtores do evento também terão 2 (dois) dias para analisar as dúvidas e/ou reclamações, podendo ou não, fazer alguma modificação na lista dos indicados. Depois de tudo isso, o anúncio oficial dos indicados acontece no dia 15 de dezembro, quando também serão revelados o nome dos jurados desse ano. Do dia 16 ao dia 31 de dezembro será o prazo para a votação pela internet nas categorias abertas ao público e para o voto dos jurados escolhidos pela produção do Prêmio London Burning. Sexta-feira, dia 7 de janeiro, os vencedores serão revelados em uma grande festa no Rio de Janeiro!! Confira abaixo as categorias do PRÊMIO LONDON BURNING DE MUSICA INDEPENDENTE 2005.

domingo, novembro 06, 2005

FEED THE WORLD

Em meados de 1984 uma reportagem da BBC sobre uma seca gigantesca na Etiópia mandou ondas de choque por toda a sociedade britânica. A reportagem, com cenas chocantes de miseria e fome de proporções bíblicas(palavras do repórter da BBC) provocou reações de todo tipo na Inglaterra, e despertou uma verdadeira febre de doações de dinheiro, comida, ect. . Com a repercussão do caso nos paises do primeiro mundo, organismos internacionais ampliaram o alcance de suas ações e o caso despertou atenção e simpatias recordes nos paises ricos, tomados entre a compaixão genuína e culpa.
Entre os que viram a reportagem estava Bob Geldof, líder do já decadente Boomtown Rats. Chocado com o que vira entrou em contato com outros músicos, tendo conseguido apoio de Midge Ure do Ultravox desde o inicio, para fazer algo em prol dos famintos Africanos. Juntos organizaram a gravação do single " Do They Know it's Christmas?" com as participações de rock stars da época como Boy George, Duran Duran, Wham!, Sting, Bono, Phil Collins e outros e formaram a Band Aid com toda a renda destinada a Etiópia. Outros paises seguiram a receita, notadamente os Estados Unidos com o seu U.S.A. for África, com as participações de Michael Jackson, Bruce Springsteen, Bob Dylan, Stevie Wonder, Ray Charles e outros, um cast assombroso.Tudo para mostrar que o rock se importava, afinal desde o fim do sonho dos anos 60, o rock tinha se afundado no niilismo e cinismo do punk, afogando muitas das bandeiras empunhadas no auge da contra-cultura. No entanto para o idealista Geldof isto não era suficiente.
Enfronhado pesadamente no assunto, e escolado pelo punk e pelas inúmeras iniciativas fracassadas dos 60 de se construir um mundo melhor apenas com boas intenções , Geldof partiu para organizar umas das mais ambiciosas empreitadas da historia, e ainda por cima de tudo por uma boa causa. Unindo militância, idealismo, e a nascente noção de globalizaçao, promovido principalmente pelos meios de comunicação, Geldof reuniu uma equipe que concebeu o maior broadcast da historia até então, eventos esportivos a parte, com transmissão simultânea ao vivo de dois paises, com uma participação recorde de quase todos superstars do rock,para uma audiência estimada de 2 bilhoes de pessoas. Acordos foram fechados com as mega-redes BBC e ABC, e com a nanica, mas já influentissima MTV, que garantiram a participação e atração de grandes anunciantes e alto teor de credibilidade rock garantido pelo envolvimento da então ultra-hip MTV.
Há mais de 20 anos, mais exatamente no dia 13 de Julho de 1985, boa parte do mundo pode acompanhar o rock por algumas horas determinar o rumo das coisas no mundo real. O Brasil , com seu mundo rock ainda sob impacto do Rock in Rio 1, ficou de fora da transmissão, fora alguns flashes de televisão, e o noticiário da imprensa ligada ao rock em jornais de grande circulação( JB, Folha, Globo, Estadao ). Vários paises, o mundo segundo os anglo-saxões, participaram da transmissão, como a Austrália, Rússia, Noruega, Iugoslávia, Áustria e Japão.
Vendo os 4 DVD?s do evento( lançado ano passado), com o distanciamento de 20 anos, arrisco concordar com o comentário da dinosaura Joan Baez.Presente ao evento a veterana de Woodstock arremata "Este é o Woodstock de vocês". A primeira vista nada a ver com o hippie-fest que foi Woodstock, com um festival com dois palcos transatlânticos, um em Londres no Wembley Stadium e outro no JFK Stadium na Filadefia transmitidos via satélite para uma platéia mais para yuppies que para flower children.Mas existem semelheanças , se em Woodstock se reuniu 300.000,00 pessoas para 3 dias de paz e musica, o Live Aid tinha a intenção nada modesta de alimentar o mundo( feed the world) sempre embalado por musica( no dois casos o rock), a forma de arte mais associada a revoluçao social dos nossos tempos. Claro que em Woodstock o rock vivia seu auge criativo, e comparar artistas como Hendrix, Alvin Lee, Who ( em 1969), Santana e CSN & Y com Ultravox, Simple Minds, Who ( em 1985) e Boomtown Rats é covardia. Mas o espírito ( da-lhe Kris Kristoferson) tava ali, e mesmo assim são vários os highlights e curiosidades dos shows:
- A visível diferença de participação e empolgaçao entre as platéias inglesas e americanas, a inglesa animada e participativa , a americana algo apática.
-O príncipe Charles e Lady Di abrindo junto com Saint Bob( Geldof) o evento em Wembley. Lady Di estava no auge da beleza, e nos na época não desconfiávamos que aquele conto de fadas era fake.
-O Queen no auge dos seus poderes, provavelmente a maior banda de rock do planeta na época.O set deles é devastador e o super-afetado Mercury sabia reger grandes multidoes.
- O U-2 em ascensão vertiginosa. E Bono já se credenciando como sucessor de Geldof como consciência do rock.
-Madonna novinha, iniciando seu reinado.
- A classe fuderosa de Bowie ( Wembley) e Clapton( JFK)
-Tina e Jagger botando pra fuder
-Nos extras uma apresentação do Run-DMC, para a visível estupefação e repudio de parte da platéia. Aquilo ali é premonitório. O rap se tornaria a força dominante na musica americana a partir dos anos 90.
- O final apoteótico e emocionante da apresentação em Wembley, com artistas e platéia em uníssono cantando " Do They Know It's Christmas?". Um dos grandes momentos da historia do rock.
-O final frouxo e caótico no JFK.
-Paula Yates ainda casada com Geldof. Ela, uma reporter consagrada na Inglaterra, era a epítome do gata cool, linda, loura e politizada. Ela protagonizaria uma historia trágica ao largar Geldof por Michael Hutchence do INXS( que se apresenta na Austrália pro Live Aid via satélite). Hutchence aparentemente se suicidou anos depois, já casado com Paula, após uma discussão com Geldof, que nunca se recuperou da separação. Paula Yates morreu após uma overdose pouco tempo depois. Os cínicos dizeram na época que Geldof gastava tempo demais na África e Yates na Austrália.
-O dueto George Michael e Elton John. Também premonitório.
- Por fim, quantos mullets!!! A era New Wave apresentou os piores cortes de cabelo da historia do rock.Destaques( negativos) para Bono, Daryl Hall, Ric Ocasek, e dezenas de outros.
O ultimo DVD, mostra como Geldof gastou os 144 milhoes de dólares levantados pela fundação Band Aid, e um documentário pungente sobre a ação da fundação Band Aid na África, os entraves burocráticos enfrentados por Geldof e Cia.Até uma pequena discusao de Geldof com Margaret Thatcher, onde ele tenta argumentar sem sucesso sobre a situação na África. Ela friamente e brevemente diz que se manda muito dinheiro pra África. Este argumento conservador acabou prevalecendo mais adiante, e a população do primeiro mundo cansou de brincar de filantropa, alem dos questionamentos de porque o dinheiro nunca resolvia a situaòao de pobreza do 3-° Mundo. A eles falta a compreensão que só caridade não resolve, os problemas são estruturais. Bono Vox advoga o cancelamento da divida de paises do 3-° Mundo, mas como bem sabemos nosotros aca , neguinho não ta afim de abrir mãos de seus privilégios, e depois de 11 de setembro de 2001 os Estados unidos ficou mais conservador do que já era. No entanto a mensagem é bonita, não obstante da reedição do Live Aid este ano ter sido embotado pelos atentados terroristas em Londres, 2 dias depois do Live 8. Geldof lançou seu melhor disco há 2 anos , o amargo Sex, Age & Death. Mais info no http://www.liveaiddvd.net/. É uma historia extraordinária. Feed The World!

quinta-feira, novembro 03, 2005

EU SEI QUE NÃO TÁ MOLE, ENTÃO TOME MAIS UM GOLE

Resenhas de discos nem tão novos, porém bacanas, guardadas há algum tempo para serem publicadas simultaneamente com o Clash City Rockers. Como diria Alexandre Matias, "pelo bem da atualização do blog", me vejo obrigado a desová-las antes do blog brother, devido a diversas razões, alheias ao Rock Loco (cabeça cheia, falta de tempo, falta de assunto melhor). Foi mal aê, velhinhos. Enjoy. Ou não...

LIFEBLOOD
MANIC STREET PREACHERS
EPIC / SONY

A primeira impressão que tive, logo à primeira audição deste último CD da banda galesa Manic Street Preachers, foi que a produção de Greg Haver meio que deixou em segundo plano o elemento que costumava ser o mais essencial no som de seus álbuns anteriores: a guitarra. Não que ela tenha sumido e eles tenham virado tecno, nada disso. A guitarra está lá, mas em segundo plano mesmo, em privilégio de acordes de pianos, levadas de baixo e claro, das lindas melodias vocais de James Dean Bradfield. Em suma, neste disco, o Manic Street Preachers está soando mais como um certo pop dos anos 80, aquele de melodias grudentas, mais suave mesmo. Nomes que freqüentavam os dials das FMs daquela época, como Talk Talk, Icehouse e sei lá mais o quê me ocorrem no momento, mas temo que sejam uma associação não muito feliz para uma banda do porte do MSP. Até por que, logo na faixa de abertura, a emblemática 1985, eles pagam seu tributo à (imagino) quem de direito: "In 1985 / my words, they came alive / friends were made for life / Morrissey and Marr gave me choice / in 1985". Essa primeira faixa, mais as duas seguintes, The love of Richard Nixon (a que mais me lembrou Talk Talk, especialmente em sua introdução) e Empty souls causam uma ótima impressão: melodias bacanas, arranjos instigantes, timing perfeito. A partir da quarta faixa (A song for the departure) porém, essa impressão se desvanece um pouquinho. Lifeblood não é um disco regular. Faixas como citada A song for the departure e I live to fall asleep parecem carregadas de uma beleza - ouso até dizer - meio bregas, como se pudessem ser executadas nas globo-fm-para-quem-gosta-de-música à qualquer momento, se os programadores das rádios ainda cultivassem o hábito de ouvir música, claro. Em To repel ghosts o guitarrista até emula uns riffs à la The Edge (fase Unforgettable fire), mas logo sucumbe sob uma parede de teclados meio antiquados. Emily, que assim como as faixas Solitude sometimes is e Cardiff afterlife, foi produzida pelo lendário Toni Visconti (Bowie e Marc Bolan nos anos de ouro do glam rock) começa com uma levada de bossa, mas não convence. Depois parece Coldplay, banda que detesto. Glasnost é chatinha. Always/never já anima um pouco mais, mas não decola. A última faixa, Cardiff afterlife fecha o disco com chave de gelatina, pois a música é frouxa, sem a pegada demonstrada até mesmo em faixas do mesmo disco. A verdade, como o leitor mais atento já deve ter notado, é que eu não sei ainda direito se gostei desse disco. Minha única certeza é que se trata do disco mais ambíguo que eles já fizeram. É para dar nota? Bom... 6,5. Não, 7. Não, 8. Pô, sei lá. Melhor ouvir a coletânea de hits Forever delayed (2002) ou Know your enemy (2001) ou mesmo o primeiro, Generation terrorists (1992).


PRETTY IN BLACK
THE RAVEONETTES
COLUMBIA

O terceiro disco da dupla dinamarquesa Raveonettes talvez seja o melhor que eles produziram, e olha que os dois primeiros, Whip it on (EP de 2002) e Chain gang of love (2003) já batiam um bolão com sua atmosfera retrô, microfonia à la Jesus n' Mary Chain e melodias estilo pop anos 50 e blues primitivo. Neste disco, Sune Rose Wagner e Sharin Foo aliviaram na microfonia e enfatizaram ainda mais as melodias que parecem saídas diretamente de uma jukebox de diner americano dos anos dourados de James Dean e do seriado Happy Days (putz, quem lembra?). Saem os apitos das guitarras dos irmãos Reid e entram melodias doces levadas ao violão e guitarras (quase) limpas, lembrando grupos vocais femininos produzidos por Phil Spector, Elvis e seus clones. Poderia ter dado errado, mas não deu. O resultado é maravilhoso, e tudo exala aquela inocência típica da década dos anos dourados. Filmes como A Primeira transa de Jonathan, Clube dos cafajestes, Porky's e mesmo clássicos como Juventude transviada (James Dean) e O Selvagem (Marlon Brando), me ocorrem. Lambretas, sorveterias, brilhantina no cabelo, brigas no drive in, casais se beijando desajeitadamente no cinema. Caso ouça, Morotó Slim (Retrofoguetes) realmente vai se amarrar neste disco. O riff da faixa Twilight chega até a lembrar Attack of the body snatchers, do primeiro disco dos Dead Billies. Outro dado interessante é que, apesar de fortemente retrô, os Raveonettes sempre introduzem algum elemento mais moderno nas músicas. A citada Twilight tem batida disco. Sleepwalking tem bateria eletrônica. Mas são apenas detalhes de produção. No geral, Pretty in black é um disco bem tradicional, americano até a medula em sua sonoridade, seus timbres de guitarra e temática essencialmente dor de corno romântico. Não por acaso, Ronnie Spector (ex-mulher de Phil? Alguém?) canta na linda Ode to L.A. e Moe Tucker (Velvet Underground) toca bateria em quatro faixas. O disco é uma delícia, é curto, suas faixas são concisas e formam um conjunto muito bem amarrado. Um dos discos mais bacanas que ouvi recentemente. Nota 10.