quarta-feira, março 30, 2011

COLEÇÃO CHICO VENDE UM MILHÃO, ABRIL LANÇA NA SEQUENCIA COLEÇÃO TIM MAIA

Coleções de livros, DVDs e CDs (entre outros diversos objetos) em bancas de revista já não são novidade há muito tempo. O negócio é que, depois do sucesso estrondoso da Coleção Chico Buarque, lançada pela Editora Abril em 2010, a coisa parece que está ficando séria.

“A coleção do Chico está sendo muito bem vendida. Eu acho que podemos divulgar que, com os vinte volumes, já vendeu mais de um milhão de unidades”, revela Beth Klock, coordenadora da Abril Coleções.

Animada com tamanho bom resultado, a mesma Abril lançou, no início de 2011, uma outra série, muito especial: Tim Maia. Nos mesmos moldes da de Chico, a Coleção Tim Maia, porém, conta com alguns atributos especiais.

“A Coleção Tim Maia só foi viabilizada graças ao envolvimento, desde o inicio, do filho do Tim, Carmelo. Ele cuidou muito de perto de tudo: da qualidade dos discos a veracidade das informações”, garante.

Em 15 volumes, ela deverá tirar os fãs do Síndico do sério e provocar uma corrida às bancas, pois, além de recuperar boa parte da adorável discografia do Tim, ainda traz dois discos até então inéditos em CD – só que com uma pegadinha.
O primeiro álbum inédito é o Tim Maia Racional Volume 2 (1976), que é o Volume 5 da coleção da Abril.

O segundo álbum inédito (tão inédito, que nem em vinil ele jamais foi lançado) é Tim Maia Racional Volume 3 (corresponde ao Volume 15 na Coleção).

Engavetado e esquecido há décadas, o Volume 3 da cultuada “Fase Racional” de Tim Maia foi relegado ao esquecimento pelo próprio Tim, quando ele se desiludiu com a seita Universo Em Desencanto e largou as fitas master em uma gaveta qualquer de um estúdio no Rio de Janeiro.

Condição é comprar todos

E aqui é que está a “pegadinha” da Coleção Tim Maia. Para poder adquirir o Racional Volume 3, o consumidor terá de comprar todos os 14 volumes anteriores. Em cada volume, há um código adesivado no encarte.

O consumidor deve se cadastrar no site www.colecaotim.com.br e registrar os 14 códigos. Somente após esse processo, receberá, em sua casa, o inédito Volume 3, como um brinde.

“O disco Tim Maia Racional Volume 3 não será lançado nas bancas”, reitera Beth Klock. “Ele só será acessível através da promoção. A condição é ser fã do Tim e ter comprado todos os 14 volumes da série”, afirma.

Ela conta ainda que “a história do disco é bastante peculiar. Ele foi gravado por Tim e parte da sua banda, mas depois a ideia de lançar foi abandonada quando Tim saiu da seita”.

“Aquilo ficou esquecido na gaveta, mas ainda não estava totalmente acabado. Sobretudo para a qualidade de fita master que se exige hoje em dia”, continua Beth Klock.

Em Salvador, por enquanto, só é possível adquirir os volumes da Coleção Tim Maia na Livraria Cultura do Salvador Shopping devido a distribuição setorizada (o eixo Rio-SP recebe primeiro) mas em breve, ela estará também nas bancas de rua.

“Como não tínhamos nem uma clara noção da gigantesca demanda de venda disso, não fizemos lançamento nacional em nenhum dos dois casos (Chico Buarque e Tim Maia), optando pela distribuição em fases”, admite Beth.

“Mas a partir do dia 13 de maio, a Coleção Tim estará nas bancas de Salvador e de todo o Nordeste. Na primeira fase foi para São Paulo e Rio de Janeiro. Já as livrarias de rede, como é o caso da Cultura, recebem a coleção e distribuem para suas lojas, daí já estar disponível na Cultura de Salvador. Mas também dá para comprar qualquer produto da Abril Coleções pelo nosso site”, lembra Beth.

FILHO DE TIM TEM BAÚ DO SÍNDICO

A história da “Fase Racional” de Tim Maia já é bem conhecida: nos anos 1970, ele se filiou à seita Universo Em Desencanto, para a qual gravou três álbuns para divulgar a dita cuja: Tim Maia Racional Vols. 1, 2 e 3.

Somente os dois primeiros foram lançados – mas logo renegados – pelo próprio Tim, quando se desligou da UED.

Ao capturar Tim no auge da musicalidade, os discos em vinil ganharam status de cult e, ao longo dos anos, se tornaram raridades valiosas. Em 2006, a gravadora Trama lançou em CD o Volume 1, mas parou aí.

Com o lançamento dos Volumes 2 e 3 (mesmo que sob a promoção citada), bem como de boa parte de sua discografia, em bancas e a preço acessível (R$ 14,90, cada) seu filho Carmelo Maia comemora: “Foi um trabalhão. Só o contrato demorou seis meses para ficar pronto”, conta, por telefone.

Em meio às notícias de mais uma filha requerendo direito à legitimidade e exumação do corpo do Síndico, Carmelo a princípio ficou desconfiado, mas depois baixou a guarda: “Da obra dele, eu falo”.

“Minha maior preocupação é que as pessoas não pensem que eu tô fazendo isso por oportunismo”, diz. “A ideia (da Coleção) é resgatar a obra do meu pai e dar oportunidade à quem ainda não conhece de ouvir o que há de melhor na música preta brasileira”, afirma.

Para que o inédito – e inconcluso – Volume 3 pudesse ser lançado, foi necessário todo um trabalho de produção, inclusive para gravar instrumentos que estavam faltando. Para isso, Carmelo convocou duas feras dos estúdios: Lincoln Olivetti e Kassin.

“Minha exigência é de que os arranjos teriam de ficar exatamente como estariam se ele estivesse vivo. Afinal, essa herança não é só minha”, diz.

Carmelo ainda adianta que tem mais coisa para sair do Baú do Tim, em breve: “Achamos uma gravação dele com o (guitarrista carioca) Celso Blues Boy chamada A Colheita, que é sensacional. Também acabamos de achar 4 canções dele gravadas em Nova York na época do (grupo) The Ideals. Talvez no ano que vem a gente consiga lançar esse material”, espera.

Carmelo diz que não foi criado pelo pai, mas mesmo assim, ele estava sempre presente. “As vezes ele ia me buscar na escola, aí ele começava a cantar ali mesmo na porta. O trânsito parava, era uma loucura”, diverte-se.

RBS entra na onda e lança a série Grande Discoteca Brasileira

Atenta ao sucesso da Coleção Chico Buarque, os gaúchos da poderosa Rede Brasil Sul (RBS) lançaram no fim de 2010 a coleção Grande Discoteca Brasileira, mais ou menos nos mesmos moldes de suas antecessoras: livros-cd em capa dura, com fotos e textos com informações que contextualizam a importância de cada volume (são 25).

Eclética, a coleção abre com o emblemático Tropicália ou Panis et Circensis (1967), com Gil, Gal, Caetano e Mutantes e fecha com Zé Ramalho (1978), estreia solo do músico paraibano que traz clássicos como Avohai, Dança das Borboletas e Chão de Giz.

Entre um e outro, dá para destacar volumes absolutamente imperdíveis, como A Tábua de Esmeraldas (1974), de um Jorge Ben no auge da sua genialidade, Acabou Chorare (1972), o manifesto bossa-novista dos Novos Baianos e Cinema Transcendental (1979), LP que marca o salto para o mainstream de Caetano e confirmou sua condição de hitmaker.

O rock brasileiro marca presença, com clássicos da Blitz, Lulu Santos, Cazuza e Titãs.

Em Salvador, alguns volumes também estão disponíveis na Livraria Cultura, mas também dá para comprar pelo site grandediscotecabrasileira.com.br.

LINKS:

http://www.colecaotim.com.br

http://www.grandediscotecabrasileira.com.br/

http://www.colecaochico.com.br/

quinta-feira, março 24, 2011

676 DELÍRIOS

Um homem chega em casa, gira a chave e entra no apartamento. É noite, e a escuridão total domina o ambiente. Depois de alcançar um interruptor, a luz se acende e o homem se depara com uma visão de horror: a pia da cozinha abarrotada de pratos sujos.

Está iniciado o excruciante processo de devassa física, moral e espiritual de Patrice Killoffer na HQ experimental 676 Aparições de Killoffer.

Publicada originalmente na França em 2002, 676 Aparições de Killoffer dificilmente pode ser considerada uma história em quadrinhos.

Está mais para uma ambiciosa digressão gráfica em que o autor se entrega, com feroz abandono, à uma egotrip de proporções inauditas – já que se depara com centenas de versões de si mesmo (676, na verdade) nas mais absurdas e bizarras situações – muitas delas, degradantes, poderão chocar leitores de estômago mais frágil.

Fluidos em profusão

A gênese das 676 aparições se dá durante uma viagem de Killoffer a Montreal, quando ele se inquieta com a lembrança da pia de louças sujas que ele deixou na sua casa, em Paris.

Cenas de violência com espancamento, estupro e automutilação se sucedem em um carrossel banhado por fluidos humanos de toda espécie: excrementos, esperma, sangue e vômito invadem as páginas em um delírio gráfico que supera até mesmo as autodepreciações do mestre supremo do gênero underground, Robert Crumb.

Tanto choque e terror, porém, está longe do mero sensacionalismo. Foi o jeito encontrado por Killoffer para engendrar uma reflexão em dois níveis: forma (HQ) e filosofia de vida.

Brado de individualidade

No item forma, o autor subverte, logo nas primeiras páginas, o que, convencionalmente, se reconhece como história em quadrinhos, abdicando das molduras que delimitam o espaço narrativo e espalhando os desenhos por toda a página.

Quase não há texto também: das 48 páginas do álbum (em formato grandão, o que favorece sua proposta) somente oito delas trazem narrativa textual – e mesmo assim, são palavras delirantes, atormentadas, escritas em letra cursiva, espremidas entre os desenhos.

Ao se retratar perambulando, bebendo, procurando, espancando, mutilando e violentando a si mesmo (em uma espantosa cena de orgia em que todos os participantes são, claro, ele mesmo), Killoffer brada sua raivosa declaração de individualidade ao mundo – este lugar politicamente correto que parece odiar cada vez mais a real diversidade, disfarçando sua ditadura das maiorias no fascismo vigente das torcidas de futebol, redes sociais, seitas e tribos.

A mensagem de Killoffer, debaixo de todo o sangue e violência, é bem simples, na realidade: quando todos buscam desesperadamente a diferença (seja se tatuando da cabeça aos pés ou ”pertencendo” a grupos), conseguimos somente parecer todos iguais.

Killoffer no Brasil

Com o perdão do eco, 676 Aparições é, na verdade, a segunda aparição do autor no mercado editorial brasileiro.

Em novembro de 2010, a editora paraibana Marca de Fantasia publicou o álbum Quando Tem Que Ser (72 páginas, R$ 15), em evento que contou com a presença do autor em João Pessoa, então de passagem pelo Brasil para participar do congresso Rio Comicon.

Considerado um dos maiores inovadores dos quadrinhos europeus, Killoffer, além de quadrinista, é também um dos fundadores da editora L’Association, ponta de lança do movimento independente do Velho Mundo desde então.

Não é pouca coisa. Entre os lançamentos da L’Association, consta o best-seller Persépolis, da iraniana Marjane Satrapi – um sucesso editorial (inclusive no Brasil, publicado pela Companhia das Letras) que migrou de forma brilhante para o cinema, em 2008.

Dono de um traço preciso e elegante, Patrice Killoffer iniciou sua carreira em 1981. Curiosamente, já criou até jogos de tabuleiro na França.

676 Aparições de Killoffer / Patrice Killoffer / Barba Negra / 48 p / R$ 39,30 / www.editorabarbanegra.com.br

terça-feira, março 22, 2011

GRITO ROCK ETAPA SALVADOR COMEÇA HOJE

O agito independente na música alternativa brasileira se profissionaliza cada vez mais – e um reflexo é o festival Grito Rock. Idelizado pelo coletivo Circuito Fora do Eixo, de Cuiabá, ele é realizado em Salvador pelo Quina Cultural (leia-se Rogério Big Bross e Cássia Cardoso).

Arquitetado seguindo os moldes ativistas do Fora do Eixo, o Grito Rock não trata só dos shows, mas também de passar adiante suas ideias, práticas e metodologias. Até um partido foi fundado para dar a dimensão política do lance: o PCULT, Partido da Cultura.

Mas ainda tem mais: hoje, às 14 horas, na Livraria Cultura (Salvador Shopping), haverá a apresentação da UNICULT (Universidade da Cultura Livre) e da UNIFDE (Universidade Fora do Eixo), por Messias Bandeira (Doutor em Comunicação e professor da UFBA) e Carol Tokuyo (Massa Coletiva), respectivamente, além da primeira reunião baiana do PCULT, com Leonardo Barbosa (PCULT SP).

Partido sem candidato

”Será o lançamento do PCULT, que é um partido que não lança candidatos. É um partido de fiscalização, que acompanha mandatos e cobra promessas relativas a cultura”, diz Rogério.

“O partido surgiu no último congresso nacional do Fora do Eixo justamente com essa finalidade: acompanhar políticos que tem a cultura na sua plataforma e acompanhar seus mandatos, sugerindo e cobrando”, garante o produtor.

Já depois de amanhã, na mesma Livraria Cultura, rola bate-papo com bandas e produtores locais, mais uma apresentação da banda Sertanília.

No dia seguinte, sexta-feira, começa o festival propriamente dito, com três dias de shows. A sexta é o Dia do Hip Hop – e o único que terá cobrança de ingresso, por simbólicos R$ 10. Vai rolar Kamau e DJ ErickJay (SP), Versu2, Daganja e outros.

“Sábado é o dia do rock mais pesado. Tem metal (Warcursed, da Paraíba), hardcore (Nute (de Alagoinhas), hard rock (Acord), gótico (Incrédula)”, avisa Rogério.

Já o domingo tem Dad Fucked And The Mad Skunks (AL), que é uma banda de Maceió sensacional, com um naipe de metais que vai surpreender, além do Quarteto de Cinco, Fridha, Maglore e Garboso (Vit. da Conquista)”, conclui Big.

PROGRAMAÇÃO: Festival Grito Rock 2011 - Etapa Salvador / 22 e de 24 a 27 de março

Terça - Dia 22.03 - Livraria Cultura

14h <<>> Apresentação da UNICULT (Messias Bandeira), UNIFDE (Carol

Tokuyo) e reunião do Partido da Cultura (PCULT), com Leonardo Barbosa

Grátis

Quinta - Dia 24.03 - Livraria Cultura

14h <<>> Bate-papo com bandas e produtores locais: Apresentação do

Circuito Fora do Eixo

18h <<>> Show do Sertanília (http://toquenobrasil.com.br/rede/sertanilia/)

Grátis

Sexta - Dia 25.03 - A partir das 17h - Praça Tereza Batista (Pelourinho)

>> Doga Love (http://toquenobrasil.com.br/rede/dogalove/)

>> In.vés (http://toquenobrasil.com.br/rede/yuriloppo)

>> Fall Clássico (http://www.fallclassico.xpg.com.br/)

>> Nouve (http://toquenobrasil.com.br/rede/nouve/)

>> Versu2 (http://toquenobrasil.com.br/rede/blequimobiu)

>> Daganja (http://www.myspace.com/mcdaganja)

>> Kamau e DJ ErickJay (SP) (http://www.myspace.com/kamau76)

Valor: 10,00

Sábado - Dia 26.03 - A partir das 17h - Largo Pedro Archanjo (Pelourinho)

>> Acord (http://toquenobrasil.com.br/rede/acord/ )

>> Incrédula (http://toquenobrasil.com.br/rede/ricardo)

>> Nute (Alagoinhas - BA) (http://toquenobrasil.com.br/rede/andrefiscina/ )

>> Warcursed (PB) (http://toquenobrasil.com.br/rede/senko/)

>> Vendo 147 (http://toquenobrasil.com.br/rede/vendo147/)

Grátis

Domingo - Dia 27.03 - A partir das 17h - Largo Pedro Archanjo (Pelourinho)

>> Quarteto de Cinco (http://toquenobrasil.com.br/rede/quartetodecinco)

>> Fridha (http://toquenobrasil.com.br/rede/_fridha)

>> Garboso (Vit. da Conquista – BA)

(http://toquenobrasil.com.br/rede/garboso/)

>> Dad Fucked And The Mad Skunks (AL)

(http://toquenobrasil.com.br/rede/dfatms/)

>> Maglore (http://toquenobrasil.com.br/rede/maglore/)

Grátis


NUETAS

Viva o Senhor Spock!

Leonardo Lionman Leão avisa: 26 de março (sábado) é aniversário de 80 anos de Leonard Nimoy, o eterno Sr. Spock (Jornada nas Estrelas). Para comemorar tão importante data, ponha suas orelhas pontudas postiças e vá ao show d’Os Mizeravão no Botequim Ali do Lado (Rio Vermelho). 22 horas, R$ 20. Mas sai por R$ 15 pela lista napilhaproducoes@gmail.com.


A musa toca gaita



A musa blueseira Candice Fiais (Anacê) faz mais uma apresentação solo sexta-feira (25) no Balthazar (Shopping Cidade, Itaigara), com uma superbanda e repertório de standards das divas Etta James, Bonnie Rait, Aretha Franklin, Norah Jones e outras. Os arranjos vão além do blues ortodoxo, pegando uma via soul / jazz. Além de cantar que é uma beleza, a moça toca gaita. Participação extraordinária de Eric Assmar. 22 horas, R$ 10 e R$ 15 (camarote).

sexta-feira, março 18, 2011

ABRIL PRO ROCK LANÇA CONCURSO PARA BANDAS NOVAS

O tradicional festival recifense Abril Pro Rock, um dos que mais chama a atenção da grande mídia, abriu uma oportunidade para bandas iniciantes: é o concurso Bis Pro Rock, em parceria com a marca de chocolates.

As inscrições vão até o dia 27 e estão abertas no hotsite www.bisprorock.com.br para bandas independentes de Salvador, Recife e Fortaleza (e regiões metropolitanas) que tenham como estilo básico o rock.

Cada banda deve postar no hotsite uma música autoral, que ficará disponível para votação. As dez músicas / bandas mais votadas serão avaliadas pela comissão julgadora formada por Andreas Kisser (Sepultura), Paulo André Pires (organizador do APR), Carlos Eduardo Miranda (Ídolos) e mais três jornalistas especializados, dos três estados participantes do concurso.

Três bandas serão selecionadas (e já premiadas com 20 horas de estúdio) para a grande final, entre os dias 6 e 7 de abril. A vencedora se apresentará no Abril Pro Rock, no dia 17.

Todas as informações para os grupos interessados estão disponíveis no hotsite, que já conta com mais de 120 bandas inscritas. O APR acontece em Recife, nos dias 15 e 17 de abril, com atrações como The Misfits, Karina Buhr, Arnaldo Antunes, The Skatalites, Eddie e Holger.

http://www.bisprorock.com.br/

quinta-feira, março 17, 2011

SUPERCHUNK: CD NOVO SAI NO BRASIL PELO LAB 344

Eles são um ícone de independência e honestidade no rock alternativo norte-americano. Sem contar que fazem um puta som divertido, sem frescuras.

Agora, depois de nove anos sem lançar um álbum, o Superchunk está de volta, com Majesty Shredding, um cintilante retorno que ganhou edição nacional via selo Lab 344.

No disco, a banda liderada por Mac McCaughan ressurge de fôlego novo e repertório renovado, após as longas férias.

“Depois da turnê do Here's to Shutting Up (2001), decidimos dar um tempo nas viagens, e uma vez que esse período sabático começou, foi difícil imaginar como sair dele de forma que isso não nos enlouquecesse“, conta Mac, em entrevista exclusiva por email.

“Assim que tivemos tempo livre o bastante, conseguimos pensar numa forma de gravar e fazer shows (mas não muitos em sequência) que funcionasse para nós, começamos a trabalhar no disco novo”, diz.

Resolvidos os perrengues, a banda, fundada em 1989 em Chapel Hill (Carolina do Norte), pôde se concentrar nas composições – que pelo visto, agradaram não só aos membros, mas também à crítica especializada e aos fãs: “Acho que tirar esses anos de folga definitivamente deixaram o som do disco com um frescor especial”, opina o cantor.

Não por obrigação

Em Majesty Shredding estão representadas todas as características que tornaram o Superchunk uma referência do rock alternativo: peso (mas não a ponto de ensurdecer), objetividade, boas melodias, energia juvenil, despretensão (mas não desleixo). Tudo isso acrescido da maturidade que os agora quarentões membros trazem.

“Definitivamente, houve um esforço consciente para fazer um disco com a nossa energia – que é o que faz de nós uma boa banda, e também em escrever o tipo de canção em que somos bons. Acho que (o álbum) tem o mesmo espírito de muitos de nossos outros discos, mas, espero que soe melhor de fato, um pouco mais hi-fi, mas sem ser muito lustroso”, acrescenta.

Levou tempo, mas a boa lição que fica do sumiço e retorno do Superchunk é bem clara: fazer música por obrigação, como business, simplesmente não funciona. “Creio que uma das chaves para se sentir bem a respeito dessa coisa toda é não deixar que se torne uma obrigação se agigantando sobre nós”, diz.

“A obrigação boa é aquela que temos com os fãs que ficaram conosco esses anos todos – e isso se resolve com bons shows e fazendo o possível para recompensá-los pela paciência. Mas tem a obrigação ruim, a qual, felizmente, não temos mais, tipo: ‘precisamos gravar mais um disco para entrar em turnê e pagar nossas contas’”, reflete o band leader.

Em maio, a banda virá ao Brasil, se apresentar na Virada Cultural de São Paulo, nas cidades de Mogi das Cruzes e Sorocaba, entre os dias 14 e 15.



OS CHEFINHOS DO MERGE RECORDS

Há cerca de 20 anos, quando o Nirvana estourou com o fundamental álbum Nevermind, o rock alternativo se tornou a galinha dos ovos de ouro da hora para as gravadoras major.

Iniciou-se ali uma caça ao “próximo Nirvana”. E todo mundo que tinha algum destaque no meio indie ganhou um contrato com uma multinacional: Sonic Youth, Mudhoney e Dinosaur Jr., entre muitos outros.

Todo mundo, menos o Superchunk. Na verdade, eles não só recusaram todos os contratos oferecidos pelos homens de terno, como criaram seu próprio selo, o Merge Records, administrado por Mac McCaughan e a baixista Laura Ballance.

Lar de gigantes do indie rock de ontem e de hoje, como Dinosaur Jr., Spoon, She and Him e Teenage Fanclub, o selo ganhou ainda mais destaque depois que uma certa banda do seu cast, Arcade Fire, praticamente varreu o último Grammy, com várias premiações.

Exigência é amar a música

“Sério: a única exigência (para ser contratado pelo Merge) é de que amemos sua música”, garante Mac. “Além disso, queremos estar certos de que o artista é tão comprometido com seus discos quanto nós mesmos, por que quando decidimos lançar um disco, dispendemos muito esforço, trabalho, neurônios e recursos, então fazemos questão de que o artista vai fazer isso também, pois não podemos fazer isso por eles”, ressalva.

Escolado, o músico / empresário não se sente ameaçado pelo sucesso estrondoso de The Suburbs, o bem-sucedido último disco dos seus contratados: “Acho que o que faz eles continuarem conosco (espero) é que eles sabem que os contratamos pelas mesmas razões que contratamos outras bandas: nós amamos sua música e queremos apoiá-los no que for necessário”, afirma Mac.

“Também temos uma ótima distribuição, que era o que costumava separar selos indies de majors, mas isso não acontece mais, além de uma equipe que trabalha duro por eles”, diz.

Mas nem tudo são flores: “Não acho um exagero pensar que, há dez anos, o Arcade Fire teriam vendido, no mínimo o dobro. As pessoas roubam música (fazendo download) e não há muito que se possa fazer quanto a isso”, lamenta Mac.

FOTOS: JASON ARTHURS / DIVULGAÇÃO

Superchunk em super volta
Indies rockers de primeira hora, alegrai-vos: Superchunk, a sensacional guitar band de Mac McCaughan está volta ao circuito, nove anos depois de lançar seu último álbum, Here’s To Shutting Up (2001). E o melhor: nem parece que ficaram parados tanto tempo. A fidelidade ao som sujo, baseado em riffs cortantes, mais a as belas melodias costuradas pela voz esganiçada do Mac continuam a toda aqui. O abre-alas arrasador, dançante e grudento com Digging For Something é só o início para 42 minutos de delícias como Learned To Surf e Crossed Wires. Lindo e pesado. Superchunk / Majesty Shredding / Merge Records - Lab 344 / R$23,20



Agradecimentos ao Sérgio Martins (Lab 344) pela exclusiva, publicada originalmente anteontem, no periódico da Tankred Snows Avenue. (Ah! Não confundir com o Reverendo Sérgio Martinez...)

terça-feira, março 15, 2011

EMBARQUE NOS SHOWS DO CAPITÃO PARAFINA & OS HAOLES

Após um longo e tenebroso verão, parece que uma das bandas mais divertidas do rock baiano está voltando para ficar. Navegando de vento em popa, Capitão Parafina & Os Haoles cumpriram uma boa temporada, tocando todas as quintas-feiras durante dois meses (dezembro e janeiro) no bar B-23.

Nesta sexta-feira (e depois, no dia 15 de abril, outra sexta), o trio volta ao B-23 para dois shows muito especiais, nos quais eles comemoram o aniversário do band-leader Capitão e do betarista Topa, respectivamente. Completa a banda o baixista Bruno Dedé.

Para animar a festa ao gosto dos fãs, a banda deixou a cargo destes a montagem do repertório. Basta conferir a (longa) lista de músicas entre autorais e covers, no Facebook deles.

“Quem quiser escolher, temos umas 60 e poucas músicas ensaiadas no nosso repertório. Aí a gente monta o show de acordo com a escolha da galera. A ideia é que cada pessoa escolha uma música autoral e um cover”, detalha o Capitão.

De Jerry Lee a Ritchie

Entre as autorais, petardos surf music (a especialidade do trio) como Em frente ao Mar do Jardim de Alah, Porque Eu Amo Essa Mulher e Comer Caranguejo é Delicioso Mas Arranha a Virilha não deverão faltar.

E na relação de covers, há de tudo: da óbvia Surfin' USA (Beach Boys) à genial Great Balls Of Fire (Jerry Lee Lewis) até clássicos trash como Menina Veneno (Ritchie) e Baile dos Passarinhos (Turma do Balão Mágico).

“Nossa preocupação é deixar a coisa o mais leve possivel”, adianta o Capitão. ”Nos profissionalizamos quando lançamos nosso primeiro disco (Frutos do Mar, 2007), e agora estamos meio que indo na contramão disso: fazendo shows despretensiosos, para nos divertirmos e a galera da plateia, sem grandes preocupações”, reflete.

Nesses shows, a banda ainda abre espaço para o público, que pode subir no palco para cantar e tocar: “Não é pra ser uma bagunça total, mas também não é pra ser engessado”, diz.

Os Aniversários dos Haoles / Sexta-feira e 15 de abril / Com Capitão Parafina & Os Haoles + DJ Forehead / B-23 Lounge Music Bar (Shopping Boulevard 161 – Itaigara) / 23 horas / R$ 15 até às 0h, Depois R$ 25

Ouça: http://www.myspace.com/capitaoparafinaeoshaoles

NUETAS

Pastel do Reverendo
Tony Lopes, o nosso Reverendo T., faz novo show com os punks da Pastel de Miolos na Livraria Cultura (Salvador Shopping), neste sábado, às 19 horas.

Luiz no Balthazar
O gaitista Luiz Rocha mostra toda sua a musicalidade e habilidade nesta sexta-feira, no Balthazar (Shopping Cidade, Itaigara), às 22 horas. R$ 10 (no salão).

Território autônomo
O TAZ (Tuesday Autonomous Zone), pilotado pelos nosssos Osvaldo Braminha, Marcos Rodrigues e Nei Bahia, continua no Ulisses (Sto. Antônio), com DJs e projeções do Grupo de Fotografia da Facom. Hoje, 19 Horas, grátis.

sexta-feira, março 11, 2011

ASTOR 90

Gênio revolucionário do tango faria hoje 90 anos

Há muito tempo atrás, em uma galáxia muito, muito distante, havia um ditado popular que rezava: “Na Argentina, tudo pode mudar – menos o tango”.

E foi assim.

Até que um rebelde se insurgiu e mudou tudo. Nascido há exatos 90 anos em Mar del Plata, o genial Astor Pantaleón Piazzolla (1921-1992) dividiu a história do tango em antes e depois dele mesmo.

Música eminentemente popular, o tango surgiu nos bordeis do Uruguai e da Argentina, no final do século XIX, e se caracterizava pelo intenso apelo emocional concentrado na figura do crooner, o cantor de cabelos gomalinados, cravo na lapela e não raro, chifres na testa. Com Carlos Gardel (1890-1935), o tango ganhou seu primeiro grande ídolo de massa e alguma sofisticação.

Mas foi com Piazzolla que o tango deixou de ser só popular para se tornar também erudito, jazzístico, complexo, libertário e revolucionário. Os puristas argentinos, a princípio, odiaram suas inovações. Mas o resto do mundo amou sua música – e o reconheceu como um gênio.

“Astor Piazzolla foi o compositor que levou mais longe o diálogo entre popular e erudito, além de ser um compositor inspirado e um instrumentista excepcional”, diz o violonista carioca Thomas Saboga, do Quarteto Impressons, fortemente influenciado pelo argentino.

Inovação no contraponto

“Por eu me identificar com a sua forma original de ver a música, de se aproximar dela e de manipulá-la, é Astor Piazzolla a minha maior influência”, admite.

Já o gaúcho Guilherme Bertissolo, doutorando da Escola de Música da Ufba, crê que sua maior inovação, pescada da música clássica de Johann Sebastian Bach (1685-1750) foi a adoção do contraponto.

“O contraponto é uma textura musical que traz uma simultaneidade de linhas melódicas interdependentes e autônomas”, explica. “Isso trouxe uma grande renovação no tango. Nos quintetos dele, os instrumentos tinha uma grande liberdade de execução, sempre influenciados pelo contraponto”, aponta.

Filho de italianos, nascido na Argentina, criado em Nova York – para onde seus pais emigraram quando ele tinha 3 anos –, Piazzolla era um erudito apaixonado pela música popular.

Educadora francesa foi essencial no direcionamento de Astor Piazzolla

Em sua biografia, Piazzolla tem pelo menos dois momentos cruciais, que o marcariam para sempre. O primeiro foi em 1938, quando assumiu a linha de frente, como arranjador e bandoneonista, da orquestra de Anibal Troilo, o que lhe garantiu notoriedade local.

O segundo momento – e certamente aquele que definiu a revolução que ele promoveu – foi seu encontro em Paris, em 1952, com a compositora e diretora de orquestra Nadia Boulanger (1887-1979). (A foto ao lado é documento justamente deste encontro).

Piazzolla, então com 31 anos, havia ganhado uma bolsa para estudar harmonia e música erudita com Boulanger, uma das maiores educadoras musicais de todos os tempos, ex-aluna de Sergei Rachmaninoff.

“Nadia Boulanger foi professora de (Karlheinz) Stockhausen, Quincy Jones e Philip Glass. Do Brasil, ela teve como alunos Egberto Gismonti e Almeida Prado, compositor morto em 2010”, diz Bertissolo.

Cadê você, Astor?

Consta que, quando Piazzolla mostrou as partituras com suas composições para a Boulanger, ela disse: “Está tudo muito bem escrito. Aqui eu vejo Stravinsky, Bartók, Ravel, mas sabe de uma coisa? Só não vejo Piazzolla”.

Foi Boulanger quem encorajou o argentino a deixar o piano de lado, assumir como instrumento o bandoneon e se voltar para a música do seu país – mas para renova-la, com o rigor do erudito e a liberdade do jazz.

“Nadia era famosa por fazer isso com vários compositores. Ela chegava e dizia ‘olhe para a música do seu país’. Dizem que ela fez a mesma coisa com o Gismonti. Mandou ele voltar para o Brasil e fazer a música brasileira”, conta Bertissolo.

Homenagens pelo Brasil: aqui, Instituto Cervantes prepara show

O Brasil não esquece do gênio hermano. Aqui e ali, algumas homenagens aos 90 anos de Piazzolla surgem para não deixar a data passar em branco.

Em Salvador, o Instituto Cervantes (Ladeira da Barra) prepara concerto com o bandoneonista virtuose Hugo Satorre, líder do grupo Quatrotango, que acaba de lançar um CD-tributo: Quatrotango Plays Piazolla.

“Este ano teremos três eventos de uma série denominada Tanguíssimo. Um deles será esta homenagem à Piazzolla, com o Quatrotango”, conta Alberto Tuá, gestor cultural do I.C.

“Inclusive, estamos reformando o auditório do Instituto e este deverá ser o evento de reinauguração. Assim que fecharmos a data, divulgaremos à imprensa”, acrescenta.

Já em São Paulo, o bandoneonista argentino Rodolfo Mederos e a Orquestra Sinfônica Municipal fizeram uma noite de gala no SESC Pinheiros, no último dia 3, sob a regência de Marcelo Ghelfi.

A outra homenagem mais significativa vem do Centro-Oeste: em novembro, a Orquestra Estadual do Mato Grosso receberá o bandoneonista Carlos Corrales para dois concertos no Cine Teatro Cuiabá, nos dias 5 e 6.

Piazzolla imperdível

Libertango: Tensa, apasionada, com bateria nervosa (ênfase no contratempo) e guitarra elétrica, é uma de suas músicas mais belas e conhecidas. Lançada em 1974, uma provocação aberta à ditadura porteña.



Adiós Nonino: Composta ao lado do leito de morte do seu pai, Vicente Nonino Piazzolla. De cortar os pulsos, de tão linda. “A mais bela melodia que escrevi. Estava rodeado de anjos”, disse Piazzolla.



Jacinto Chiclana: Piazzolla toca para Edmundo Rivera (tremendo vozeirão) recitar versos de Jorge Luis Borges. Precisa dizer mais?

terça-feira, março 01, 2011

SÉRGIO DIAS: "EU SOU O CORVO NEGRO MESMO! NÃO IA ROLAR PERIQUITO, SACA?"

Os céticos vão ter que engolir essa: Haih ou Amortecedor, o disco novo d’Os Mutantes, honra o legado da maior banda do rock nacional.

Mesmo sem contar com 2/3 dos membros fundadores (Arnaldo Baptista e Rita Lee), o grupo arregimentado pelo remanescente Sérgio Dias (ao lado do baterista original Dinho Leme) se provou apto a levar adiante o nome e o legado do combo roqueiro / tropicalista surgido em 1966.

Lançado no exterior em 2009, Haih ou Amortecedor só agora chegou ao mercado nacional, via Coqueiro Verde, o selo independente presidido por Léo Esteves, filho caçula de Erasmo Carlos e atual gravadora do Tremendão – um motivo de orgulho para Sérgio.

A espera valeu a pena. Em Haih estão conservadas – não em formol – todas as características que tornaram os Mutantes famosos: a experimentação, o humor irreverente, a excelência instrumental, as referências à cultura popular brasileira, os arranjos caleidoscópicos.

Certamente, a assinatura do Mutante honorário Tom Zé em sete das 13 canções do disco ajudou bastante nisso. Jorge Benjor, outro antigo parceiro da banda, também marca presença na (hilária) faixa O Careca.

Ultra-viajandão, mas muito divertido e de som bastante heterogêneo, graças à variedade de vozes e ritmos apresentados, o disco é de audição fácil para quem se dispuser a embarcar na viagem neo-Mutante.

Curiosamente, o conceito central do álbum é um tanto obscuro. Ele abre com o presidente russo Vladimir Putin discursando. E termina com os hinos do Brasil, da Rússia e dos Estados Unidos misturados, em uma mixagem meio confusa.

Mas o miolo, as canções entre um extremo e outro, deverão satisfazer até o mais desconfiado fã das antigas.

As faixas de Tom Zé em parceria com Sérgio, especialmente Amortecedor, 2000 e Agarrum, Anagrama e Bagdad Blues poderiam estar facilmente em qualquer álbum antigo da banda (ou até do próprio Zé).

Já O Mensageiro, balada folk escrita e cantada por Sérgio Dias, é a faixa mais acessível do disco e poderia até tocar em rádios – se estas ainda tocassem música e não apenas jingles.

Outro destaque é Singin’ The Blues, da cantora neo-Mutante Bia Mendes, em parceria com Erasmo, um divertido rock no estilo da Jovem Guarda.

ENTREVISTA

Sérgio Dias, 60 anos em 1º de dezembro, está numa boa, bicho. Sem se incomodar com os que o criticam por tocar adiante sua própria versão d’Os Mutantes – para muitos, um sacrilégio sem o irmão Arnaldo e Rita Lee – ele conseguiu, de qualquer forma, lançar um disco bastante elogiado pela imprensa internacional desde o lançamento, em 2009. O bom disco, as críticas favoráveis e a coesão do grupo atual – após as saídas de Zélia Duncan e Arnaldo – o deixaram confiante para seguir adiante, sem se intimidar com o peso do legado que o nome Mutantes carrega. Nesta entrevista por telefone, de sua casa em Henderson (cidade vizinha a Las Vegas), ele se emociona ao falar de Tom Zé, Gal Costa e do último show da banda por aqui, em 1972. Dica: vale buscar na internet o vívido relato do grafiteiro local Miguel Cordeiro sobre este show (leia aqui: http://www.miguelcordeiroarquivos.blogger.com.br/2006_10_01_archive.html).

Sérgio, você ficou satisfeito com o resultado final do álbum? Pretende continuar gravando discos d'Os Mutantes com essa formação atual?

Sérgio Dias: Fiquei muito feliz pois fizemos do jeito que queríamos, livres, sem olhar para trás, do jeito que tinha que tinha que ser, quase todo em português. Eu não esperava uma reação tão forte no estrangeiro. Estamos com 4, 5 estrelas em todos os grandes veículos, como Mojo, Village Voice, Uncut, The Guardian, New York Times. Com certeza, vamos continuar. Em maio ou junho estamos entrando em estúdio aí no Brasil para gravar disco novo . E vai ser no meu estúdio em São Paulo, o Zorg.

Mesmo sem Rita e Arnaldo, o CD soa muito Mutantes. Foi uma consequência do trabalho com antigos colaboradores, como Tom Zé e Jorge Ben Jor?

SD: O Tom Zé foi o melhor parceiro que eu já tive na minha vida. Gênio é pouco, não tem palavra para descrever. Ele me chama de baraúna e ele é pau ferro. Uma preciosidade do Brasil, e ter tido a sorte de encontra-lo agora... Por que antigamente, não tinha bagagem intelectual nem para dizer bom-dia e agora nossa parceria ficou tão bonita! É um tamanho amor, tamanho amor, é uma coisa que estava escrita nas estrelas, como diria Tetê Espíndola. E acho que vai durar por muito tempo. Ele é um Mutante também, assim como somos todos um pouco Tom Zés.

Por que o disco demorou tanto de sair no Brasil? Lá fora saiu em 2009, não foi isso?

SD: Num sei, bicho. O Brasil é um pouco difícil de entender nessas coisas. Na época (2009) estávamos sob contrato com a Sony, mas na hora H, deu para trás. E eu num ia perder tempo de ficar batendo em porta de gravadora. Então nos direcionamos para cá (para os EUA), aonde tínhamos uns 4 ou 5 selos interessados, aí eu tive de passar para um advogado. Por que era gente amiga, como Mike Patton, Sean Lennon... No Brasil eles não acreditaram no disco por causa da saída do Arnaldo e da Zélia. Mas Os Mutantes é uma coisa maior do que as pessoas, é mais sério do que eu, Arnaldo, Rita ou qualquer coisa do gênero. Acredito que (a mudança de gravadora) foi para melhor. Saindo pelo Coqueiro Verde, para começar, estamos na companhia do Erasmo, que é uma das pessoas que eu mais respeito em termos de integridade, constância e pedigree. Estamos em casa.

O disco começa com Vladimir Putin discursando e termina com os hinos da Russia e do Brasil misturados. Haih é um disco conceitual? Faz parte do conceito? Por que Putin? Por que o hino russo?

SD: Na verdade, no fim do disco, tem os hinos do Brasil, da Rússia e dos Estados Unidos misturados. Foi uma coisa que a gente que viveu na Guerra Fria, da rivalidade entre a União Soviética e os EUA. Diante de tudo que está acontecendo no mundo, achamos que seria legal lembrar aos americanos como era interessante ter um adversário a altura no tabuleiro de xadrez. O que eles tem agora? Chavez? Naquele época, com o Khrushchov (Nikita Serguêievitch Khrushchov, líder da União Soviética entre 1953 e 1964) aconteceram coisas muito interessantes. Acho que os americanos estão dando uma importância excessiva ao Taleban, em termos históricos, não tem mais ninguém com o peso de uma União Soviética. Quando eles estavam competindo, era lindo, a corrida espacial a trouxe muitas coisas positivas.

Na capa de Haih há um corvo fotografado por você e no encarte você aparece com um traje que lembra um corvo. E na música O Mensageiro você canta: "Eu sou o corvo negro".

SD: Mas eu sou o corvo negro mesmo, entende? Todo mundo esperava que a gente viesse em tecnicolor, muita corzinha, paz & amor. Mas as coisas não são mais assim. O corvo bica seu olho, mas também é um elemento mágico, tem toda uma aura de mistério. Desde Edgar Allan Poe, né? O corvo fala! É um bicho da pesada! Não ia rolar um periquito! É muito porrada esse disco, é muito forte para ser outra coisa. E eu sou o corvo negro, por que fui o arauto dessa situação nova, uma coisa muito boa. Jogaram os Mutantes de novo na minha vida e agora não dá mais para tirar.

Além da experiência natural de 40 anos de carreira, o que mais diferencia o Sérgio Dias da primeira encarnação dos Mutantes do Sergio Dias de hoje?

SD: Num sei, cara, é difícil dizer, eu me vejo como a mesma pessoa, exatamente igual. Meus ideais, minha luta de ser honesto com o que faço, me sinto o mesmo garoto. Às vezes fico dormindo aqui, me sinto cansado, mas o tesão e o sonho são a mesma coisa. Minha mãe, quando já tava com 80 e tantos, me falava que o corpo parava, mas a cabeça continuava igual. Eu sinto exatamente isso, por isso é um grande barato encontrar o Tom Zé, ele é uma criança. Tom Zé é a fonte da juventude.

Quando veremos um show dos Mutantes em Salvador?

SD: Cara, que saudades da Bahia! Com certeza estamos loucos para tocar aí! Agora as pessoas ai tem que ser um pouco mais ativas para que possamos fazer isso. Não dá para entrar num carro e ir. Mas a vontade é imensa! No que depender da nossa vontade... Bicho, nunca esqueço do nosso último show em Salvador, na Concha Acústica (28 de fevereiro de 1972)! Eu não lembro do show no Barbican, mas lembro desse! Ficamos hospedados em Itaparica e ainda vimos um show do Luiz Gonzaga! Uma coisa que não tem parâmetro! Quando a gente vê o que sai daí hoje em dia... Coitado do Brasil.

Qual foi a última coisa boa que você ouviu do Brasil?

SD: Pô, tem tanta coisa, mas sou meio ruim de nomes. Tenho a maior vergonha disso. A Zélia Duncan é maravilhosa. Tanta gente cheia de potencial para a música. O Brasil ainda é maior manancial do mundo, musicalmente. A gente só precisa retomar de onde paramos desde o maldito golpe de estado que arrasou com nossa cultura. Você tem o Lula Queiroga... Tanta banda que tá começando com a atitude completamente livre, assim que acabaram as majors – graças a deus. A liberdade retornou, então eu vejo a garotada se libertando dos formatos de verso-bridge-refrão, essa coisa idiota. Vi muita coisa interessante, mas minha memória não funciona, cara, foi muito LSD! Só sobrou o (neurônio) Tico. O Teco foi embora! (Risos)

Depois de vocês, em termos de influência, uma das bandas que mais marcou a garotada atual foi o Los Hermanos. Conhece?

SD: Não tive tempo de ouvir tão profundamente Los Hermanos, por que eu tava ocupado para ouvir tudo. Agora mesmo, estou gravando uma música para uma obra do meu irmão Claudio, chama Gea. Tô tratando como se fosse um filme. Ando sempre muito ocupado, é difícil de parar, pesquisar, não dá tempo.

Vocês estão fazendo shows em Las Vegas? E depois?

SD: Não, eu moro aqui em Henderson, Nevada, na pontinha de Las Vegas. Toda a nossa estrutura se centrou aqui. Agora estamos indo para a Austrália e Indonésia, uma turnê grande por lá. Nunca pensei em tocar lá na vida. Depois disso, em julho, vamos para a Europa. Já tem show marcado na Inglaterra. Em maio e junho vamos ao Brasil, e em 2012, no Rock in Rio Madri. Ah! E em setembro, tocamos com Tom Zé no Rock in Rio do Rio!

Será que numa dessas não rola uma passagem pela Bahia?

SD: A Bahia é a terra onde nascemos! Caetano, Gil, Gal... Meu Deus, que saudade louca que eu tenho da Gal! A gente precisa ir aí de qualquer jeito! Diga isso na matéria!

Haih... Ou Amortecedor / Mutantes / Coqueiro Verde / R$ 24,80

Os Mutantes - O Mensageiro from daniel bittencourt on Vimeo.