sábado, abril 30, 2011

COM EDUARDO SCOTT A FRENTE, NOVO CAMISA DE VÊNUS FAZ SHOW DE GRAÇA NO PARQUE DA CIDADE, NESTE DOMINGO

Em dezembro de 2009, quando três membros originais da banda Camisa de Vênus (foto de Osmar Gama) se juntaram ao vocalista Eduardo Scott (Gonorreia) e anunciaram que estavam reativando a banda – sem o fundador Marcelo Nova – muita gente não levou fé.

Abril de 2011: depois de muitos shows pelo Brasil e uma baixa (o baixista Robério Santana, que saiu), o reformado Camisa de Vênus lança, com um show gratuito no Parque da Cidade, seu cartão de visitas com Scott, o CD Mais Vivo do Que Nunca.

O show, que é neste domingo, dentro do projeto Música no Parque, contará com repertório clássico da banda, baseado no álbum em questão, “mais algumas músicas que não entraram no disco, além da participações de alguns amigos”, adianta Eduardo Scott.

No disco, gravado “ao vivo em shows e no estúdio”, como conta o guitarrista Gustavo Müllen, ele, Karl Hummel e Scott são acompanhados por mais dois músicos de peso: o baixista contemporâneo do Camisa Jerry Marlon (ex-14º Andar) e o baterista virtuoso Louis Fernando (ex-Drearylands, banda de heavy metal, que está voltando).

O resultado no som do CD é um Camisa de Vênus mais musculoso, pesado e veloz do que nunca – e em boa qualidade de áudio ao vivo. “Estou me sentindo bem melhor do que antes”, afirma Gustavo.

“Por que estava um saco. As músicas (nas últimas reuniões da banda) estavam descaracterizadas. Me sentia como se estivesse tocando bossa nova. Tínhamos perdido a pegada punk. Era como se estivéssemos com 100 anos”, opina.

A proposta, a partir da entrada de Scott, de retomar os arranjos punk rock originais das canções, deu novo gás ao Camisa, pensa Gustavo. “Scott tem um astral e um pique super legal, pra frente. Marcelo também é incrível no palco e tal, mas ele tinha outra abordagem, que não me interessava”, conta.

Ao longo de 2010, o novo Camisa de Vênus fez diversos shows na Bahia e fora dela – e sempre com boa aceitação, segundo seus integrantes.

“A banda nova tem sido super bem aceita. Aí entra também o saudosismo do público, né? Muito vovô, que era fã do Camisa, levando seus filhos e netos para mostrar como era a melhor banda da época”, afirma Gustavo, mandando às favas a falsa modéstia.

“E todo mundo já sabia que não era mais com Marcelo Nova”, conta Scott. “Só teve uma cidade do Rio de Janeiro em que o contratante ainda não sabia, ‘tava procurando Marcelo, quando eu disse ‘que o geriatra dele não permitia mais que ele fizesse shows’. O cara desarmou na hora e show acabou sendo ótimo”, ri Eduardo Scott.

Mas como nada é mais anti-punk do que saudosismo, o trio planeja entrar em estúdio ainda em 2011 para gravar um álbum com músicas novas. “A ideia inicial era gravar logo um disco de inéditas, mas optamos por lançar um com as músicas clássicas na minha voz, para ganhar a confiança da galera”, conta Scott.

“Já temos oito músicas novas prontas, todas com aquela verdade nas letras que é a marca do Camisa , só que com temas atuais. Você vai ouvir e dizer: ‘essa é música nova do Camisa de Vênus”, garante.

Os mais relevantes entre os irrelevantes, que de resto, é quase todo mundo

Na internet (e fora dela), os opineiros de plantão continuam menosprezando o novo Camisa de Vênus.

A pergunta que não quer calar porém, é a seguinte: diante de tantas armações óbvias, de qualidade abaixo do rasteiro e com evidentes efeitos nocivos de retardamento mental e infantilização moral dos espectadores, tudo empurrado goela abaixo do grande público pelo poder devastador do jabá – isso para não falar da onda de bunda-molice proporcionada pelos risíveis imitadores dos Los Hermanos na cena rock –, quem haverá de condená-los? Quem tem moral para atirar a primeira pedra?

Ninguém – além de Marcelo Nova, claro –, baby.

Irrelevância por irrelevância, este trio de tiozinhos baianos, fundadores / seguidores primeiros do legítimo punk rock ‘76 nesta província, tem a primazia de serem os mais relevantes entre os irrelevantes.

A verdade é que este é um ótimo momento para o Camisa de Vênus voltar a “cuspir na estrutura” – cultura para isso não lhes falta.

Camisa de Vênus / show de lançamento do cd mais vivo do que nunca / Concha Acústica do Parque da Cidade (Itaigara) / domingo, 11 horas / grátis

TIAGO AZIZ SOLO, WITH A LITTLE HELP FROM HIS FRIENDS

Assim de primeira, muita gente pode não saber quem é Tiago Aziz, que está lançando seu primeiro disco solo com um show gratuito neste domingo, dentro do evento Faustão Falando Sozinho, organizado pela banda Irmão Carlos & O Catado. Mas esse baixista tem muita história para contar no rock baiano.

Na ativa desde o início dos anos 1990, Nego Play, como também é conhecido, já passou por diversas bandas de primeira divisão do rock local, como Crack!, Lisergia, Cascadura (fase Bogary), brincando de deus, Rebeca Matta e Banda de Rock. Agora ele se lança em voo solo, com o álbum de título composto Abrazzo / Pedaços Coloridos.

Produzido pelo ex-Úteros Em Fúria Apu Tude, o disco teve suas faixas gravadas ao longo de 2009, com um verdadeiro who’s who do rock baiano tocando em todas as músicas, como Duda Machado, Martin Mendonça (ambos da banda de Pitty), Ronei Jorge, Nancy Viegas, Candido Sotto Jr. (ex-Cascadura), Edbrás (ex-Zambotronic), Jorge King Kobra, Caveira (ex-Lisergia), Emanuel Venâncio e até Luís Caldas, que canta e sola (furiosamente!) sua guitarra, na faixa Pedaços Coloridos.

Unidade estética

“Desses todos aí, só quem eu não conhecia era Luís Caldas”, conta Tiago. “Só que todo mundo dizia que essa música era ‘a cara dele’. Como não custa sonhar, entrei em contato pelo MySpace. Dez dias depois, Luís Caldas estava lá no estúdio. Acabou que o homem se empolgou, meteu uma guitarra com altos solos, enquanto Caveira faz um rap”, descreve ele, contente com a inusitada formação.

Neste show de domingo, Tiago contará com uma banda formada por Cândido Amarelo Neto (guitarra) e Mário Jorge Heine (outro ex-Úteros, bateria), músicos que ele pretende manter nos próximos shows.

No disco, cada faixa parece correr em uma direção, passeando por estilos absolutamente diversos entre si, como rock alternativo, reggae, samba rock, hardcore e pop de FM.

A proeza do músico – que certamente, é também do produtor Apu – é a insuspeita unidade estética alcançada no disco, oscilando harmoniosamente entre o popular (no formato das composições) e a vanguarda (no tratamento das faixas, dos arranjos às interpretações).

“Quando gravamos, eu tava muito influenciado pelas bandas argentinas Pescado Rabioso e La Máquina de Hacer Pájaros. Tava ouvindo muito John Lennon e o Urubu (1976) do Tom Jobim, também. Aquela coisa da composição sem refrão, bem fluida. Cada faixa é uma viagem”, conclui Tiago.

FOTOS: SORA MAIA

FAUSTÃO FALANDO SOZINHO / Com Tiago Aziz & Banda, COBRACITY e IRMÃO CARLOS & O CATADO /Domingo, 17 Horas / ESPAÇO CULTURAL DONA NEUZA (Marback, Setor 2, Imbuí/ Boca do Rio) / GRÁTIS

quinta-feira, abril 28, 2011

"É O MUNDO DOS ZUMBIS LÁ FORA. NÓS APENAS VIVEMOS NELE"

Está na hora dessa gente pálida e caindo aos pedaços mostrar seu valor. De símbolo da cultura trash ao valorizado commodity atual, disputado por estúdios de cinema, produtoras de games, editoras de HQ e literatura e até canais de televisão, entre várias outras instâncias, foi um longo e tortuoso caminho – a passinhos lentos – para os zumbis.

Essa história, que tem muitos mais detalhes e significados ocultos do que se poderia imaginar, está contado de forma magistral em Zumbis: O Livro dos Mortos (Barba Negra, selo da editora LeYa), do pesquisador inglês Jamie Russell, lançado há pouco no Brasil.

Organizado de forma cronológica, o autor resgata as origens do mito do zumbi no Ocidente em documentos de mais de 100 anos, quando a revista Harper’s Magazine fez a primeira referência aos mortos-vivos em um artigo do “jornalista e antropólogo amador” Lafcadio Hearn, The Country of The Comers-Back (A Terra dos que Voltam), publicado em 1889.

A matéria de Hearn foi o resultado de sua viagem à Martinica, para onde viajou para estudar o folclore local, mas pouco trouxe de concreto aos leitores.

Em 1928, porém, o livro A Ilha da Magia (Ed. Hemus, s/d), do jornalista William Seabrook, incendiou a curiosidade e a imaginação dos norte-americanos sobre a cultura vodu do Haiti e suas histórias sobre zumbis.

E aqui talvez esteja o grande achado do livro de Jamie Russell: a ligação íntima do mito do zumbi com a escravidão e as práticas de feiticeiros vodu da ilha, que seriam capazes de, utilizando determinadas substâncias tóxicas, induzir pessoas a um estado catatônico semelhante à morte.

Depois de sepultadas, as vítimas eram desenterradas na noite seguinte ao “funeral”, e postas para trabalhar em lavouras de cana-de-açúcar em localidades distantes, para não serem reconhecidos pelos parentes.

No Haiti, esse tipo de coisa era tão comum, que virou crime previsto no Código Penal: “É considerado atentado à vida (...) o emprego de substâncias que, sem produzir a morte, causam um feito letárgico mais ou menos prolongado”, cita o autor.

A própria origem da palavra zumbi tem ramificações misteriosas: “do francês ombres (sombras); do caribenho jumbie (fantasma); do bonda africano zumbi e do kongo nzambi (espírito morto)”, escreve Russell.

Ocupado pelo exército norte-americano em 1915, as histórias de zumbis do Haiti acabaram servindo, através da propaganda e da grande imprensa, para “justificar” a invasão do país, assim como o conto das “armas de destruição em massa” no Iraque, em 2003.

Estudo extenso e acessível

Foi somente em 1932 que os zumbis chegaram ao cinema, com um filme de título bastante significativo: Zumbi Branco (White Zombie), com Bela Lugosi.

De lá para cá, os zumbis já viveram (ops) diversos altos e baixos. E, em 1968, chegaram à forma em que são conhecidos hoje, com A Noite dos Mortos-Vivos, de George Romero, considerado o Cidadão Kane dos filmes de zumbi.

No Livro dos Mortos de Russell, fãs e curiosos tem um extenso estudo desses monstros, sob os vieses da história cultural, antropologia e comunicação, em linguagem ágil e acessível.

Zumbis: o livro dos mortos / Jamie Russel / Formato: 23X20 cm / 464 páginas, R$ 44,90








ENTREVISTA: JAMIE RUSSELL


"A cultura Vodu escoou através das Américas de formas muito sutis e interessantes"


1. Por que é tão difícil convencer as pessoas de que (alguns) filmes de zumbis estão carregados de significados profundos, metáforas e simbolismos? A maioria das pessoas dão um risinho constrangido quando digo a elas que um dos meus filmes preferidos é Amanhecer dos Mortos (Dawn of The Dead, 1978, George Romero).


Jamie Russel: Não se sinta embaraçado, e sim, orgulhoso! Zumbis sempre foram a grande subclasse do cinema de horror. Eles são monstros bobos, feios e baratos. Mas - e isso é o mais importante - são muito ricos quando refletimos sobre o que eles representam e o que eles nos dizem: morte, Deus, a alma, o corpo, o proletariado, escravidão. Tudo isso está inscrito mito do zumbi desde seus primórdios. Quando comecei a escrver este livro, em 2001, quase não haviam fãs de zumbis. Estes monstros estavam quase esquecidos. Quando eu contava as pessoas sobre oque eu estava escrevendo, elas frequentemente riam. Mas hoje, os zumbis são um fenômeno. OK, as pessoas ainda riem, mas eles já conquistaram o mundo.

2. Aqui no Brasil, mais especificamente no estado em que moro, a Bahia, as religiões de matriz africana, como Candomblé e Umbanda, também exercitam um tipo de estado de transe, a partir de uma poderosa música a base de percussão e danças - assim como no Voodoo haitiano. Mas nunca tivemos relatos de algo remotamente parecido com o de zumbis.

JR: Sou mais um historiador do cinema do que um antropólogo, então não posso falar como expert, mas isto é algo sobre o qual eu definitivamente gostaria de saber mais. Fiquei bastante chocado - de uma forma muito agradável - pela resposta ao meu livro no Brasil. Nunca imaginei que haveria tanto interesse nos mortos-vivos em seu país. Estou certo de que há aí uma ligação direta com a história de colonialismo e importação de escravos da África. A cultura Voodoo escoou através das Américas de formas muito sutis e interessantes. Ainda que o Haiti tenha pemanecido como uma "central zumbi". Em parte por que havia uma preferência local por essas histórias de "pessoas mortas trabalhando nas lavouras de cana-de-açúcar", e a ideia de zumbis acabou se consagrando na própria lei haitiana (e desta forma, reforçando o mito entre os habitantes da ilha). Quando as forças armadas norte-americanas chegaram ao Haiti em 1915, a mídia ianque se interessou em brincar com esses mitos de zumbis para justificar a ocupação desta ilha "bárbara" e "sedenta de sangue", na qual forças demoníacas estavam em ação. Desta forma, vem desde aí, do envolvimento da América do Norte no Haiti, a popularidade dos zumbis nos Estados Unidos: propaganda, ocupação militar e uma tentativa de pintar a população da ilha como selvagens.

3. O senhor sabia que o maior e mais popular herói negro do Brasil se chama justamente Zumbi? Qual o simbolismo disto?

JR: Isso é muito interessante, eu não sabia disso. Eu acho que é realmente simbólico. O (significado do) mito do zumbi sempre foi sobre escravidão, sobre pessoas aprisionadas no corpo e na alma por um opressor maligno. Esse, originalmente, era o grande horror dos zumbis para as pessoas comuns: eles (os zumbis) não eram criaturas prontas para te devorar. Você não ficava com medo desses monstros de olhos vidrados e rosto sem expressão trabalhando nas lavoura de cana. Você ficava com medo de se tornar um deles. Para a maioria dos haitianos, cujas vidas eram terrivelmente duras, a simples ideia de que a morte não traria libertação, de que não haveria um paraíso, mas apenas um inferno eterno de trabalho escravo na Terra, era o próprio material de que são feitos os pesadelos.

4. O quanto o fato de que os zumbis não tem uma origem literária nobre, como Drácula e Frankenstein, afetou a percepção geral sobre eles?

JR: Os zumbis sempre foram o "segredinho sujo" da cultura norte-americana, criaturas nascidas da ocupação do Haiti e da propaganda que girava em torno disso, enquanto os americanos tentavam justificar a invasão de um estado soberano (talvez os zumbis fossem os primeiros terroristas!). Outros montros, como vampiros, lobisomens e a criação de Frankenstein, eram muito mais antigas e estáveis. Eles surgiram do folclore europeu e tiveram grandes romances escritos no século 19, como o Drácula de Bram Stoker, por exemplo. Zumbis não tiveram nada disso. Para a maior parte dos espectadores ocidentais de 1914 eles eram um monstro completamente novo - e esfarrapados, despenteados. Acho que isso ajudou a manter os zumbis como um tipo de subclasse nos círculos do horror, especialmente no cinema. O grandes filmes de horror do Universal Studios eram sobre Drácula, Frankenstein e o Lobisomem. Eles nunca fizeram um filme de zumbi.

5. Desde George Romero, os zumbis são comumente associados com uma metáfora relativa à estupidez mesquinha típica das classes média e alta, mas como o senhor mostra em seu livro, a primeira associação, através do livro A Ilha da Magia, de William Seabrook, era sobre a escravidão. Já o ensaísta Chuck Klosterman, da New York Times Magazine, compara zumbis aos emails spams que temos de eliminar a todo momento, mas ainda assim eles continuam chegando. Coisas fáceis de se livrar, mas que mesmo assim, nunca páram de nos assediar. Isso é parte do "encanto" dos zumbis? Podemos associaá-los com qualquer coisa?

JR: Colocar zumbis e emails spam lado a lado é engraçado. Eu gosto da ideia principal de Klosterman, de que a vida moderna é tão implacável que nos sentimos como se estivéssemos lutando contra zumbis. É por isso que o zumbi é tão interessante: é uma grande metáfora para nosso mundo, um mundo no qual não somos mais escravizados por magos Voodoo ou um homenzarrão com um chicote, mas por forças que tentam nos deixar tão burros quanto os zumbis. Acho muito interessante que os zumbis tenham se tornado mais populares do que nunca durante a crise financeira global. O que ficou bem claro nos últimos três anos é como somos todos escravos da elite financeira mundial, os banqueiros. Estamos sendo esmagados pelas hipotecas (em inglês, mortgage, que deriva do francês: mort [morte], mais gage [penhor], o que parece tão apropriado!). Amamos zumbis por que eles são um espelho de nossa situação atual e também por que eles aparecem em histórias nas quais as pessoas lutam para sobreviver e serem livres.

6. Os filmes de George Romero costumam ser menos sobre zumbis e muito mais sobre quão desprezíveis e mesquinhos, nós, os vivos, podemos ser. Seremos nós os verdadeiros zumbis, com nossas roupinhas de marca, carros modernos e iPads?

JR: Sim, definitivamente! Somos todos zumbis agora! A grande dinâmica dos filmes de zumbis é esta: você fica dividido entre se identificar com os zumbis e as pessoas que estão tentando não se tornar um deles. São monstros muito niilistas - e eu acho que as pessoas que amam zumbis tem um real desejo de ver o mundo se destroçar, os mortos levantarem e toda a podridão de nossa sociedade ser varrida em um grande apocalipse zumbi. É emocionante e aterrador ao mesmo tempo.

8. Quer dizer que se não fosse pela série de videogames Resident Evil, de enorme sucesso desde os anos 1990, não estaríamos vendo toda esta "zumbimania"?

JR: Entrevistei George Romero há uns dois anos e eu disse a ele que A Noite dos Mortos Vivos (1968) era o Cidadão Kane do cinema zumbi. Perguntei como ele se sentia tendo criado todo um subgênero do cinema de terror - o apocalipse dos zumbis canibais com um contexto sócio-político. Ele sorriu e disse achar que os videogames é que mereciam o crédito pela atual explosão dos zumbis, incluindo Resident Evil. Sou um grande apreciador desses games e acho que é o meio perfeito (para os zumbis). Eles traduzem de forma perfeita o aspecto implacável dos monstros e conseguem te fazer imergir nisso totalmente. Jogar Left 4 Dead é incrível: nunca me senti tão aterrorizado (no sentido psicológico do coração acelerado e das mãos suadas) do que jogando esse negócio. Eles realmente "fervem" a mecânica básica das histórias de zumbi - ou seja, sobrevivência - até o seu âmago.

9. O senhor acha que é mesmo verdade as histórias sobre os zumbis haitianos? Que algo realmente próximo ao conceito de zumbi realmente existiu ali?

JR: Estou certo de que houveram zumbis, eles foram documentados. A questão é se eles estavam vivos ou mortos. Pessoalmente, estou inclinado a achar que o zumbi foi mesmo só um mito que cresceu entre deficientes mentais ou pessoas que sofreram "lavagem cerebral", seja pelo poder da sugestão, seja por uso de drogas específicas. Leia o livro de Wade Davis, A Serpente e o Arco-Íris (Jorge Zahar, 1985, adaptado para o cinema por Wes Craven em 1987, com o título nacional de A Maldição dos Mortos-Vivos) e você verá que bem possível "zumbificar" alguém ainda vivo, usando os venenos corretos. Eu não acredito na ideia de mortos trazidos de volta à vida – se bem que, depois de ter assistido tantos filmes de zumbi, eu não me arriscaria a caminhar por um cemitério tarde da noite!...

10. Como o senhor avalia os últimos filmes de George Romero, Terra dos Mortos (2004), Diário dos Mortos (2007) e Ilha dos Mortos (2010)? É uma nova trilogia, um novo conceito? Ou apenas a continuação de uma linha de de raciocínio, de discussão?

JR: Para ser honesto, estou desapontado com o trabalho de Romero desde Terra dos Mortos. Ele realmente perdeu seu "mojo" (tesão) e isso é terrivelmente triste de se testemunhar. Achei Diário ocasionalmente péssimo e totalmente fora da sua esfera de expertise. Aquela coisa toda da câmera subjetiva / internet, é como assistir o papai tentando fazer um rap. Uma tentativa de soar relevante vinda de alguém que - ele mesmo já admitiu - não entende nossa era da internet. Já Ilha dos Mortos foi completamente esquecível. Mas eu realmente amo Romero e sempre assistirei tudo o que ele produzir. Ele merece todo o respeito por ter criado sozinho o moderno filme de zumbi, com a trilogia Noite, Amanhecer e Dia dos Mortos. Agora, um dos meus filmes favoritos dele é o seu conto (sem zumbis) de duelos de motocicletas: Cavaleiros de Aço (Knightriders, 1981), com Ed Harris e Tom Savini. É um filme sobre não se vender e seguir seu próprio caminho. Mas não importa o que eu pense do seus filmes recentes, eu sei que são feitos do jeito que ele projetou. Ele não recebe dinheiro de grandes estúdios (isso só aconteceu em Terra), ele não compromete sua visão... ele faz do seu próprio jeito, assim como os motoqueiros de Knightriders – e eu o amo por isso.



11. Eles estão em todos os cantos: nos filmes, na TV, games, livros, HQs, internet, música e até nas ruas (nos eventos Zombie Walks). Será esta a Era de Ouro dos Zumbis?

JR: Sim, totalmente! É algo incrível de se assistir, por que a coisa realmente cresceu. Quando meu livro foi publicado nos Estados Unidos e no Reino Unido em 2005, estava só começando. Tivemos muita sorte em publicá-lo enquanto a mania estava se estabelecendo. Sabe, acho que foram criadas mais histórias relacionadas a zumbis nos últimos seis anos do que no século 20 inteiro. É o mundo dos zumbis lá fora, nós apenas vivemos nele.



Agradecimentos ao pessoal da Editora LeYa / Barba Negra, por possibilitarem a realização desta entrevista, publicada no periódico da Avenida Tancredo Neves, no dia 19 de abril de 2011.

segunda-feira, abril 25, 2011

O BEIJO NEGRO DE HOWARD CHAYKIN

A década de 1980 foi uma das mais marcantes para os quadrinhos – tanto no aspecto do desenvolvimento de sua linguagem, quanto na sua configuração dentro da indústria cultural. Foi naquele período que surgiram autores que mudaram – para sempre – a percepção das HQs como um veículo essencialmente infantil. Autores como Alan Moore, Frank Miller, Neil Gaiman, o brazuca Angeli e... Howard Chaykin.

Quem? Pois é, a maioria das pessoas que hoje leem Sandman ou Watchmen, maravilhadas, não conhece (ou não lembra) de Chaykin, autor da ultracontroversa HQ Black Kiss, que, vinte anos após sua publicação no Brasil pela extinta editora Toviassu (dos integrantes do Casseta & Planeta, sigla para “Todo Viado é Surdo”), volta às prateleiras em edições de luxo e brochura, via Devir.

Black Kiss foi o ápice do trabalho que este norte-americano já vinha desenvolvendo desde os anos 1970, em títulos como Dominic Fortune, O Sombra, Falcão Negro, Times² e principalmente, a sensacional American Flagg!.

Atmosfera noir perturbadora

Com uma história maluca, à primeira vista sem pé nem cabeça, erotismo explícito no limite da pornografia e muita violência, Black Kiss causou furor entre religiosos e conservadores nos Estados Unidos quando foi lançada em 1988, pela extinta editora Vortex Comics.

Mesmo sendo vendida em um invólucro plástico preto, para que não fosse folheada por crianças, e todos os avisos de “material impróprio”, houve quem comprasse a revista só para queima-la – o que foi ótimo para Chaykin, já que isso elevou não só os gráficos de venda, mas também a aura cult e transgressora da HQ.

Em entrevista ao site especializado Comic Book Resources, Chaykin contou que a gênese de Black Kiss se deu quando, em 1985, ele se mudou de Nova York, aonde morava, para Los Angeles.

Fã da literatura noir de Raymond Chandler, patrimônio cultural da Cidade dos Anjos, ele percebeu que o clima da marginalidade local não havia mudado tanto assim entre os anos 1940 e 80. “Havia algo mesmo perturbador nessa cidade que permanece até hoje”, notou.

Essa atmosfera noir, que na realidade, é uma característica presente em todos os trabalhos autorais de Chaykin, é um dos traços mais marcantes de Black Kiss – só que, aqui, turbinada por uma intenção expressa do autor em subir o tom da violência, do sexo e do inesperado.

O resultado foi polêmico e serviu para atingir um outro patamar de censura. “Acho que contribuí nesse sentido. Hoje, as pessoas não se incomodam tanto com esse tipo de material”, disse.

Clichê noir, conto de homem comum envolvido em intriga é só o início da HQ

O jazzista Cass Pollack mal saiu da clínica de reabilitação (onde se internou para tratar do vício em heroína) e já se meteu em encrenca de novo.

Tudo começou quando ele deu carona para uma loira estonteante – que na realidade, era um travesti, que por sua vez, é obcecado por uma atriz decadente de Hollywood, Beverly Grove, que está sendo chantageada por mafiosos, os quais detém um filme com esta última, em atos inomináveis. Com um alto membro do Vaticano.

No meio disso tudo, ainda surgem os vampiros. Pronto, está armado o caótico cenário que vai sugar o inadvertido boa-pinta Pollack em um turbilhão muito maior do que ele, no bom e velho estilo noir.

Conjugando sexo e violência, Chaykin cria uma narrativa gráfico-literária espetacular e pertubadora, à altura dos mestres do estilo. Um clássico.

Black Kiss / Howard Chaykin / Devir Livraria / 152 páginas / R$ 49,90 (capa dura) ou R$ 36 (brochura) / www.devir.com.br

terça-feira, abril 19, 2011

NUTE: O ROCK A MIL POR HORA DE ALAGOINHAS

Jean, um jovem roqueiro de Alagoinhas, um dia recebeu um ultimato da namorada: “Você tem que parar de beber essas coisas estranhas que tem na TV”.

Seja lá o que for a que ela estava se referindo – tem tanta coisa estranha na TV – , o rapaz, contrariado, se inspirou e destilou sua frustração compondo Coisas Estranhas, uma dos melhores cacetadas que o colunista recebeu em seu surrado canal auditivo nos últimos tempos.

A música faz parte do primeiro CD demo da banda Nute, Pisando Fundo. “Esse CD a gente só distribuiu umas 50 cópias – o que eu acho até muito”, ri o baixista e cantor da Nute, André Fiscina.

“Eu sei que ele está circulando. Volta e meia, tem alguém aqui na minha porta pedindo o CD”, conta o rapaz.

Ao lado do já citado Jean Santil (guitarra e vocais) e Odisnei (bateria), André formou a Nute em 2007, meio de brincadeira, para tocar covers dos Ramones. “Quando viu, já estávamos compondo”, lembra.

Ele conta que a Nute é uma das três bandas de Alagoinhas em atividade, ao lado da Inventura e da Universo Variante. “Por aqui o movimento ainda é meio fraco, por enquanto. Estamos tentando dar uma levantada. A ideia é nos juntarmos em um coletivo para organizar shows no Centro de Cultura daqui de Alagoinhas. E marcar outros, fora daqui”, planeja.

O CD demo foi gravado no Estúdio Jimbo, recentemente criado por um dos chapas da Inventura, no esquema rock de guerrilha: 1, 2, 3, valeu.

Pisando fundo

No mês passado, eles fizeram o primeiro show em Salvador, durante o Grito Rock, organizado pelo coletivo Fora do Eixo. “Foi legal. Meio rápido, corrido, mas deu para fazer o som”, diz.

E de velocidade esses caras entendem. O som da Nute, com letras em português e claramente inspirado em bandas de rock casca-grossa, como Queens of The Stone Age, Hellacopters e Ramones, fala basicamente de pegar a estrada e viver a mil.

“Não tem muito uma fórmula para a hora de compor, mas a ideia é falar disso mesmo: estrada, mulher, rock ‘n’ roll”, admite André.

“Não pode ficar pensando muito, se não trava”, ensina.

“Correndo contra o vento / não sei onde vou parar / postos de gasolina, no motel ou em um bar“, canta ele, em Pisando Fundo. Que seja uma longa (e pacífica) estrada.

Ouça: www.myspace.com/nutebr

Fotos Nute: Angello Fernandes Jr.

NUETAS

Camisinha no Parque
Domingão, dia 1º de maio, a reformada Camisa de Vênus faz show gratuito na concha acústica do Parque da Cidade (Itaigara). A apresentação marca o lançamento do CD Mais Vivo Do Que Nunca (que sai por R$ 5, ali, na hora), gravado ao vivo no ano passado. Só sucessos.

Malhando Mizeravão
A bagaceiríssima banda de covers Os Mizeravão (em foto de Tanta Bandeira) toca neste Sábado de Aleluia no Groove Bar. É a festa Malhação dos Mizera (por que malhar um judas dentro do Groove não ia dar certo). 22 horas, R$ 25 na lista do Groove e R$ 30 na hora.

Discotecagens afins
Duas sessões semanais de discotecagens roqueiras / alternativas seguem firmes, criando pontos de encontros para a minoria pensante, que não engole qualquer porcaria imposta pela grande mídia. A primeira é hoje, às terças-feiras: o TAZ – Tuesday Autonomous Zone (Bar Ulisses, Santo Antônio Além do Carmo), criada por Marcos Rodrigues, Nei Bahia e Osvaldo Braminha, às 19 horas. E a outra é a Nuvem de DJs, toda sexta-feira, pilotada por Messias Bandeira, no sebo Praia dos Livros (Porto da Barra), às 18 horas. Eventos gratuitos.

DÃO DÁ DURO ATÉ O FIM DE MAIO NO JEQUITI'BAR

Uma das melhores revelações surgidas na música independente baiana nos últimos anos, o cantor Dão (em foto de Fernando Naiberg) sintetiza no seu trabalho um apanhado bastante feliz de diversos matizes da música preta: soul, samba, funk, rock, reggae, jazz etc.

Após lançar e divulgar o seu primeiro disco, Para Embelezar a Noite (2010), ele começou a desenvolver um novo trabalho, intitulado Trampo de Samba.

Desde o mês passado, ele vem se apresentando todos os sábados no Jequiti’Bar (varanda do Sesi Rio Vermelho), aonde vem construindo o novo repertório.

“A gente tá fazendo um show tentando mesclar o funk com o samba e fazendo o resgate de alguns sambas de Batatinha, Nelson Cavaquinho e Cartola. Além disso, também rolam alguns de minha autoria, que vão estar no meu próximo disco”, comenta o músico.

Especialista em tudo o que envolva ritmo e suíngue, ele conta que “a ideia é passear pelas várias vertentes do samba, para poder continuar mexendo com a onda do balanço: samba rock, samba duro, samba funk etc”.

Dize-me com quem andas...

A boa recepção aos shows no Rio Vermelho tem sido tanta que a temporada foi estendida até o fim de maio. “Tá enchendo todo santo sábado, ainda bem”, comemora, feliz.

Quem for ainda corre o risco de presenciar participações especiais dos amigos de Dão. “Os amigos sempre passam por lá, Gerônimo apareceu e foi lindo. Agora eu tô querendo que Ronei (Jorge) vá lá pra gente brincar um pouco”, convida o cantor.

“Isso é legal, gradativamente vão aparecendo convidados e fica super diversificado. O clima é de baile total. O pessoal dança pra caramba”, garante.

Figura de proa de uma cena rica de ótimos músicos independentes e que abrange diversos gêneros, Dão destaca que “se as coisas são feitas com pouco recursos, o próprio público ajuda a movimentar, com seus twitters e facebooks. É um boca a boca virtual”, ri o músico.

No palco, Dão é acompanhado pelas feras Júlio Caldas (guitarra), Almir Azevedo (baixo), Léo Bittencourt (bateria), Carlos Billy Paul (percussão) e Bruno Aranha (teclados).

Dão em: Trampo de Samba / todos os sábados de abril e maio / Jequiti’Bar (Sesi Rio Vermelho) / 22 horas / R$ 20 / www.myspace.com/daoeacaravanablack

quinta-feira, abril 14, 2011

DEDO-DURO É A MÃE! EU SOU "O" AGENTE X-9!

Em um programa Roda Viva (TV Cultura) recentemente exibido, o poeta maranhense Ferreira Gullar, que aliás, deu uma linda entrevista, lembrou que, na sua infância, a casa dos seus pais não tinha nenhum livro à mão. “Tinha lá uns gibis do X-9, mas era só isso”, recordou.

O que o poeta talvez não saiba (ou não lembre) é que os antigos e hoje charmosíssimos quadrinhos do detetive eram escritos, pelo menos no início, por um dos maiores escritores de ficção policial de todos os tempos: Dashiell Hammett (1894-1961).

É essa produção clássica e pouco lembrada do autor de O Falcão Maltês que chega agora às livrarias, no álbum Agente Secreto X-9 (Devir).

Criado em 1934, a mando do magnata da imprensa William Randolph Hearst como uma resposta ao sucesso que as tiras de Dick Tracy, de Chester Gould, faziam nos jornais concorrentes, o Agente Secreto X-9 teve a bênção de cair no colo de Hammett, então um autor popular, e do desenhista Alex Raymond.

Este último é outra lenda da cultura pop por méritos próprios, sendo ninguém menos que o criador de um dos mais conhecidos personagens da ficção científica, Flash Gordon.

Dono de um traço tecnicamente perfeito e dinâmico, Raymond ainda concedeu aos personagens de X-9 uma elegância digna dos croquis de um estilista: os homens usam sobretudos, chapéus e ternos bem cortados. E as mulheres, sejam fêmeas fatais ou mocinhas em perigo, parecem ter saído de um filme de Billy Wilder.

Longa trajetória

O álbum da Devir (disponível em capa dura ou brochura e em formato horizontal, para privilegiar a publicação das tiras), traz as sete aventuras iniciais de X-9, publicadas nos jornais norte-americanos entre 1934 e 1935.

Somente as três primeiras, contudo, foram escritas por Hammett. Como conta o editor Leandro Luigi Del Manto no prefácio, “com o passar das semanas, os leitores começaram a se sentir meio perdidos em meio à trama complexa desenvolvida por Hammett”.

Com isso, os editores da King Features, sindicato fundado por Hearst que distribui (até hoje) as tiras de X-9, “começaram a fazer pequenas alterações nos textos de Hammett para deixá-los mais fáceis”, escreve Leandro.

Depois da terceira aventura, O Caso Martyn, Hammett foi demitido e Raymond continuou – mas só até a sétima aventura (a última do álbum), O Organizador, escrita por Leslie Charteris, autor famoso por ter criado outro personagem clássico dos romances policiais: O Santo.

Daí em diante, X-9 passou pelas mãos de inúmeros quadrinistas, como Mel Graff, Al Williamson e Archie Goodwin (os dois últimos, velhos conhecidos dos leitores de gibis da Marvel e DC), até ser cancelado, em 10 de fevereiro de 1996.

O álbum da Devir, com o material inicial da dupla Hammett / Raymond, é uma leitura bastante prazerosa para fãs do estilo vintage que caracteriza a obra como um todo: desde as tramas de o ritmo ágil ao lindo estilo do desenho e o clima anos 30 das histórias.

Nas telas e passarelas

Nos cinemas, X-9 ganhou duas adaptações nos antigos seriados para as matinês. Uma em 1937, na qual o detetive misterioso foi interpretado por Scott Kolk.


Na segunda adaptação, de 1945, ganhou o rosto de Lloyd Bridges (pai do oscarizado Jeff Bridges). Anos mais tarde, Lloyd se tornaria um ídolo da TV ao protagonizar o seriado Aventura Submarina.

No Brasil, X-9 foi bastante popular, sendo até hoje sinônimo de dedo-duro, de alguém infiltrado com o intuito de espionar. Na cidade de Santos, em São Paulo, há até uma escola de samba chamada X-9.

Agente Secreto X-9 / Dashiell Hammett e Alex Raymond / Devir / 160 p. / R$ 62 (capa dura) e R$ 48/ www.devir.com.br

segunda-feira, abril 11, 2011

E MARCELO, LOBÃO?

Osvaldo Braminha, decano fundador deste Rock Loco, deixa o retiro blogúistico de lado e traz, em sua resenha sobre a autobiografia de Lobão, um questionamento: então, quer dizer que ele era o único rebelde dos dos anos 1980?

Depois do lançamento de sua autobiografia no final do ano passado, 50 anos a mil, Lobão se posicionou de vez como o agent provocateur do rock nacional.

Digo mais, ele é o único artista do meio rocker a ter espaço na grande mídia com uma postura contestadora. Que bom um artista de relevância questionando o atual estado da musica no Brasil e tendo espaço na grande mídia, não é mesmo?

No entanto, do jeito que as coisas estão sendo colocadas pode se ter a impressão que ele é o único que pensa assim, o que não traduz a realidade, coisa que Lobão não parece fazer a menor questão de desmistificar.

Antes de entrar no assunto que me interessa mais, que é a questão que envolve a musica, gostaria de recomendar o livro.

O autor tem uma historia de vida intrigante, infelizmente permeada com algumas tragédias familiares , alem de um significativo e importante trabalho artístico, o que faz do livro uma excelente leitura, mesmo para não roqueiros. Destaque para o ghost writer dele, Claudio Tognolli.

Mas, depois de terminar o livro, fiquei com a sensação que Lobão é aquele cara integrante de uma turma super-conectada que sempre causa polêmica, mas que nunca deixou a própria turma que tanto critica.Tipo um outsider dos insiders.

A situação contada por ele no inicio do livro não foi escolhida por acaso, e marca o território que ele pretende delimitar.

Durante o velório de Julio Barroso (Gang 90), Lobão e Cazuza cheiram cocaína em cima do caixão do defunto, enquanto o primeiro filosofa com o segundo que aquela morte significa o inicio de desarticulação da incipiente "cena" do rock Brasil, do qual o núcleo duro, composto pelos três obviamente.

Era o que havia de autônomo, de inteligente, ect: enfim, a tchurma que "sabia das coisas", os reis da cocada preta e da branca também (hehe, não resisti).

A partir daí, segundo ele, a cena ficava desprotegida e fácil de ser apropriada por artistas oportunistas, com uma versão diluida da contestadora proposta inicial
desta dita cena. Cazuza viria a morrer de Aids alguns anos depois.

Então se pode deduzir que só ele sobrou desta santíssima trindade, é só fazer a matemática.

Desde da década de 70, quando integrou o mítico Vímana, ao estouro do Rock Brasil com a Blitz nos 80,sua bem-sucedida carreira solo ainda nos 80,chegando na importante iniciativa da revista Outra Coisa nos 00, Lobão quase sempre esteve nos lugares certos, com a turma certa, na hora certa.

Nesta trajetória, Lobão fez, na minha opinião, algumas das melhores músicas já
produzidas pelo pop/rock no Brasil, sem dúvida um dos caras mais talentosos da sua geração.

Inquieto, o Grande Lobo se coloca como um artista que sempre questionou a postura corporativista e adesista da classe artística , mesmo num ambiente artístico supostamente mais contestador - como, em tese, seria o do rock.

As conseqüências da sua oposição a esta cooptação resultou em todo tipo de retaliação, postura que o relegou a um estado de quase-ostracismo.

Enfim, a julgar por Lobão, ele foi o único com balls para enfrentar o establishment.

Então, desanca sem tréguas o "apropriador" Herbert Vianna, o cooptador-mor Caetano, vários medalhões como Chico Buarque, Gil e Caetano (olha ele aí de novo), no lamentável caso da numeração dos discos e, o tal "rock de bermudas".

E aí vem algumas questões que realmente incomodam no livro.

Como assim o rock de bermudas? Não me lembro de Lobao ter comprado esta briga na época publicamente.

O cara que criou o termo, e que comprou a briga com a tchurma foi Marcelo Nova, até porque era considerado um intruso na "cena", e tinha uma postura de radical contestação ao establishment musical.

E aí vem o resto do que incomoda no livro. Lobão meio que minimiza o que estava acontecendo fora da cena da sua turma, leia-se Rio de Janeiro, cena e cidade que atualmente Lobão rejeita.

Lobão trata as outras cenas geradas no país nos 80, principalmente São Paulo e Brasila, um tratamento lightweight.É óbvio que o Rock Brasil estourou de forma impactante em torno da cena do Rio, que no anos 80 ainda não tinha perdido para São Paulo sua hegemonia como o grande pólo cultural do país, e ditava as tendência culturais no país.

Porém, o fato destas cenas não terem destaque na mídia e relevância comercial, não significava que não existia vida inteligente, com articulação e capacidade de questionamento.

Enfim, a tchurma que Lobão sempre fez parte, não detinha o monopólio das coisas. Logico que o sucesso comercial da cena do Circo Voador abriu os caminhos para que bandas de Brasilia, Porto Alegre, São Paulo e a intrusa baiana Camisa de Vênus pudessem viabilizar suas carreiras.

Mas como o próprio Lobão sentiu na pele, a proposta mais cosmopolita de São Paulo para a cultura em geral se mostrou mais relevante para os anos futuros.

Prova disto é que Lobão mora em Sampa, fazendo musiquinha (Song for Sampa), declaracões de amor ect - e desancando sua cidade natal e sua tchurma de origem.

Impossivel não fazer um paralelo com Sampa de Caetano com a Song For Sampa de Lobão.

Lobão desanca sem dó nem piedade Caetano, algumas vezes com boas doses de razão, mas como foram notórias suas idas e vindas com o santo-amarense, algumas das reconciliações foram até com direito a "poesia", não será surpresa se uma nova poesia vier por aí.

Por ultimo chama a atenção este lance dele se colocar como o único que contesta, que
bate de frente, ect.

E chama particular atenção a total ausência de qualquer menção dele a Marcelo Nova e ao Camisa de Venus, apenas citados por Maria Juçá nas entrevistas que estão no final do livro, como um apêndice, no livro mesmo nem uma menção.

Qualé, Lobão?

Marcelo e o Camisa não foram tão irrelevantes assim, pelo contrario, eram bem conhecidos nos 80, e Marcelo Nova Lobão conhece e muito bem.

Qual foi? Não quis dar brecha para um polemista muito mais forte, com um a historia de confronto muito mais forte? Inclusive devido a "apropriação" dos termo "rock de bermudas", termo notoriamente criado por Marcelo, Lobão, no mínimo, deveria reconhecer que existem outros que tem postura parecida, ou até mais combativa que a dele.

Depois não se queixe de Herbert Viana.

Texto de Osvaldo Braminha Silveira, exclusivo para o Rock Loco.

Foto Lobão: Rui Mendes / Ilustração Marcelo Nova: Batistão.

quinta-feira, abril 07, 2011

RUÍDOSILÊNCIORUÍDO

A intimidade de grandes (e mesmo pequenas ou até inexistentes) bandas costuma gerar ótimos documentários, como O Último Concerto de Rock (The Last Waltz, de Martin Scorsese) e Rock é Rock Mesmo (The Song Remains The Same, do Led Zeppelin) e This Is Spinal Tap, para ficar só nos clássicos.

Desta forma, uma banda tão original e de trajetória tão incomum quanto os Pixies só poderia mesmo render um excelente documentário. Bastava cair nas mãos hábeis de um bom diretor.

Foi o que aconteceu em loudQUIETloud: A Film About The Pixies (Coqueiro Verde), da dupla Steven Cantor e Matthew Galkin, que acaba de chegar às lojas em DVD e periga entrar na lista dos clássicos do gênero.

A película, selecionada para exibição em diversos festivais de renome do cinema independente, como Tribeca e South By Southwest, enfoca os bastidores da turnê que, em 2004, trouxe de volta aos palcos, depois de 12 anos de ausência, a cultuada banda liderada por Frank Black (ou Black Francis, dependendo do humor do homem).

É interessante notar como o enorme entusiasmo que a notícia da volta da banda causou em 2004, entre fãs e imprensa especializada, passa completamente batido nos bastidores.

Na verdade, a comunicação entre os membros do quarteto é tão rarefeita e tensa que fica até difícil entender como essas pessoas formam um grupo tão coeso em cima do palco.

Em dado momento, Kelley Deal, irmã-gêmea da baixista Kim Deal, exclama: “Mas vocês não se falam! Vocês são os piores comunicadores da história da música!”, espanta-se.

Comunicação oblíqua

Com uma narrativa enxuta e constante, silenciosa e de ritmo quase lento, loudQUIETloud poderia perfeitamente ser mais um daqueles filmes do circuito de cinema indie de Sundance, do que um documentário sobre uma banda de rock formada por quatro tiozinhos compartilhando a adoração dos fãs e diferentes graus de sequelas advindas da vida no rock ‘n’ roll.

Na verdade, o filme reflete muito bem a personalidade da banda – tanto de seus membros, quanto de sua música: oblíquo, comunica mais pelos desvios que toma em sua trajetória do que pelo que sai das bocas de seus protagonistas.

A câmera segue os quatro membros dos Pixies desde suas casas, quando negociam entre eles a volta do grupo, até os shows da turnê de retorno. Aí ficamos sabendo como estavam suas vidas durante o período em que a banda esteve parada.

Joey Santiago, o guitarrista, trabalha como editor de vídeo em uma produtora independente e leva uma vida pacata como homem casado e pai de duas crianças.

Kim, que continuava tocando e gravando com sua banda The Breeders, mudou-se para a casa dos pais como estratégia de manter-se longe dos álcool e das drogas.

O band-leader Frank Black foi quem mais se manteve estável na carreira musical, gravando bons álbuns-solo e excursionando regularmente.

O mais doidão e instável, como costuma acontecer, é o baterista. David Lovering estava vivendo praticamente como sem-teto, percorrendo praias com um detector de metais em busca de relógios e moedas perdidas e atuando como mágico em festas infantis.

Não à toa, é justamente ele quem se torna o ponto de tensão do filme, ao voltar a beber e tomar bolinhas. Chega a ser constrangedora a bronca que ele leva de Joey, que por sua vez, sofre na estrada, com saudade dos filhos.

Coalhado de momentos reveladores e tocantes, é um filme para ficar na história do gênero. E no coração dos fãs.


loudQUIETloud: a filme about the pixies / Steven Cantor e Matthew Galkin / Coqueiro Verde / R$ 24,80


quarta-feira, abril 06, 2011

MICRO-RESENHAS PARA QUEM PRECISA DE MICRO-RESENHAS

Como estragar as próprias obras-primas


Imagine a seguinte cena: logo após terminar de pintar a Mona Lisa, Leonardo da Vinci surta e rasga a tela a facadas furiosas. É mais ou menos isso o que Quincy Jones, um verdadeiro gênio da música universal, faz neste disco. Pegou algumas de suas maiores criações e as destruiu, adicionando horrendos arranjos no estilo hip hop de boate de playboy, além de convidar nulidades como Akon, Usher, Ludacris e outros rappers de nomes ridículos para tagarelar em cima. Dá tristeza ouvir o que ele fez com obras-primas como Ironside e Soul Bossa Nova. Salvam-se só duas faixas: Tomorrow, com John Legend, e It’s My Party, com Amy Winehouse. O resto é indefensável. Fuja. Q: Soul Bossa Nostra / Quincy Jones / Universal / R$ 29,60

Bendito fruto, Maria

Surgida em 2008, a cantora norueguesa Ida Maria fez um bom barulho entre apreciadores de um rock ‘n’ roll cru e sem firulas, mas ainda assim, dançante e divertido. Agora, com Katla, seu segundo álbum, confirma sua vocação para fazer balançar quadris – mas sem apelar, como nas faixas Cherry Red, Bad Karma e Let’s Leave. Em I Eat Boys Like You For Breakfast, pende para um ritmo latino e adiciona sopros mariachi com grande resultado. Já em Devil, comete um épico de nove minutos que não cansa e cresce a cada audição. Ida Maria / Katla / Universal - Nightliner / Importado

Loopings sonoros do mal

Mestres do rock instrumental denso e pesado, às vezes até ensurdecedor, os escoceses da banda Mogwai estão de volta com o disco (de título irônico, como de costume) Hardcore Will Never Die, But You Will. Possivelmente, trata-se do disco mais acessível do grupo – se é que dá para dizer algo assim. Entre longas (e meio sonolentas) digressões como You’re Lionel Ritchie (mais de oito minutos) e Death Rays (com seis), pode-se cortar caminho e ir direto ao filé: San Pedro (melodia cortante, guitarras em cascata), White Noise (hipnotizante) e Rano Pano, outro bom looping sonoro. Mogwai / Hardcore Will Never Die, But You Will /Sub Pop / R$ 54,40








Do tuíter para a TV


Um desempregado de 28 anos volta a morar com o pai, um viúvo rabugento de 72 anos – e passa a postar seus resmungos no Twitter. Virou livro e a sitcom Shit My Dad Says. Amostra: “Gosto dos seus amigos. Acho que eles não transariam com sua namorada, se você tivesse uma”. Meu pai fala cada m*rda / Justin Halpern / Sextante / 144 p. / R$ 19,90 / www.esextante.com.br








Leitura de macho

Mestre da narrativa ágil, sexy e violenta em inúmeros romances policiais e de western, Leonard demonstra continuar em grande forma neste novo livro. Entre ladrões de banco, mulheres de caráter duvidoso e gangsters, o ex-detento Jack Foley busca se equilibrar numa corda sempre bamba. Os comparsas / Elmore Leonard / Rocco / 256 p. / R$ 38,50 / www.rocco.com.br









Os filhos do Chefão

Original de New Jersey, terra de Bruce Springsteen, a banda The Gaslight Anthem imediatamente chamou a atenção do popular herói do rock norte-americano – até por que sua influência é muito evidente no som vigoroso e cheio de energia do grupo liderado por Brian Fallon. Em seu terceiro álbum, American Slang, à moda do Chefão Bruce, eles cantam as desventuras dos deserdados do Sonho Americano, do homem comum e dos desempregados sem perspectiva – mas sempre com aquela pegada pra cima, gloriosa. Viva Bruce (e filhos). The Gaslight Anthem / American Slang (Importado) / SideOneDummy Records / R$ 62,40





“Deus” está vivo e bem

Também conhecido como “Deus” (desde os anos 1960, após pichações nos muros de Londres), Eric Clapton entrega, em Clapton, seu melhor trabalho em anos. Com um repertório de standards do blues e da canção popular, o disco trabalha muito mais os climas e os arranjos (precisos, elegantes) do que sua proverbial habilidade com as seis cordas em solos (muitas vezes) redundantes. Cantando melhor do que nunca, é uma delícia ouvir sua interpretação para clássicos como Milkman (Fats Waller), Rocking Chair (Hoagy Carmichael), River Runs Deep (JJ Cale) e Autumn Leaves (Prevert, Kosma & Mercer). “Deus” é grande. Eric Clapton / Clapton / Warner Music / R$ 37,60




Musa new age celta baiana

Cantora baiana radicada há mais de dez anos em Oxford (Inglaterra), Mariana Magnavita traz em seu último trabalho, o EP Autograph, um belo disco de acento celta e predominantemente acústico, com delicados arranjos de pianos, violinos, cellos e violões. Afinadíssima, sua obra parece dialogar tanto com musas new age como Sarah Brightman e Enya – mas sem o tédio que costuma acomete-las – quanto com Liz Fraser (ex-Cocteau Twins). Impressiona também a desenvoltura no cantar em inglês. Muito mais que o belo par de pernas que se vê na capa. Mariana Magnavita / Autograph / Independente / www.myspace.com/marianamagnavita

Praieiro com cérebro

O ex-Maria Bacana e Os Culpados André Mendes deixou a culpa de lado em seu primeiro disco solo e foi curtir a praia, a brisa do mar e as coisas boas da vida. Em um álbum essencialmente acústico (com algumas guitarras limpas aqui e ali), André exercita sua veia poético-tropical esquivando-se de neotropicalismos cabeça e buscando a simplicidade e a singeleza em belas faixas, como Ouro Sol Milho e Sal, Os Padrões São Feitos Só Para Atrapalhar, Rio e Te Ter. Beach Boys no Porto da Barra, em co-produção de andré t. André Mendes / Bem Vindo à Navegação / Independente / Download gratuito: www.andremendes musica.com.br

Literatura policial grega?!?

Roteirista dos filmes contemplativos de Theo Angelopoulos, o escritor grego Petros Markaris faz um retrato da Grécia urbana contemporânea através dos romances policiais protagonizados pelo seu personagem Kostas Xaritos, um comissário de meia-idade pra lá de mal-humorado. Os amantes da noite / Petros Markaris / Record / 480 p. / R$ 57,90 / www.record.com.br






E ainda tem idiota que acha a bandeira dos confederados muito "cool"

A guerra do norte industrializado contra o sul escravista e agrícola, que partiu os Estados Unidos ao meio entre 1861 e 1865, é explicada aqui com riqueza de detalhes. Momento de definição, o episódio, que é considerado a “primeira guerra moderna”, marcou o país para sempre e até hoje tem reflexos em sua sociedade. Guerra da Secessão / Farid Ameur / L&PM / 128 p. / R$ 12 / www.lpm.com.br






Para os fãs do explorador / intelectual / aventureiro / doidão inglês

Com o subtítulo Antropologia, Política e Livre Comércio 1861- 1865, o historiador Gebara, doutor em História pela Usp, traça neste livro um perfil da África que o famoso explorador inglês Richard Burton (1821- 1890) encontrou durante seu período como cônsul britânico. A África de Richard Francis Burton / Alexsander Gebara / Alameda / 260 p. / R$ 41 / www.alamedaeditorial.com.br









O som do Rio Babilônia

Che é o pseudônimo de Alexandre Caparroz, autor deste verdadeiro túnel do tempo em direção ao Rio de Janeiro da era disco, Banda Black Rio e Lincoln Olivetti, ali entre o fim dos anos 1970, início dos 80. Um delicioso som que remete aos primórdios da era FM e a filmes da época, como Rio Babilônia e Menino do Rio: patins, muito suíngue e libidinagem sem culpa, nem Aids. Destaques para A Crazy Night at Papagaio com a diva disco Lady Zu, Bairro Peixoto (James Brown no juízo) e Voo Livre (trilha para voar de asa delta). Uma homenagem e tanto. Che / Papagaio’s Fever / YB Music - Somzera / Preço não divulgado






A última ousadia de Neil

Neil Young, quase 50 anos de carreira e dezenas de álbuns (diversos deles, geniais) no currículo, já fez disco de todo jeito: acústico, elétrico, eletrônico, com big band de sopros e grandes bandas de apoio (como Pearl Jam). Em Le Noise, ele e o produtor Daniel Lanois (U2, Bob Dylan) optaram por fazer um disco de voz, guitarras (paredes delas) e (muitos) efeitos. O resultado tem sido saudado pela crítica como mais um grande álbum do mestre canadense. Mas não se enganem, não é um disco fácil. A pulsação da bateria faz muita falta, mas há ótimos momentos. Para digerir aos poucos. Neil Young / Le Noise / Warner - Reprise / R$ 32






Um dia qualquer no Rajastão, um cara entrou na estação de trem...

Em uma estação de trem, quatro passageiros, desconhecidos entre si, jogam conversa fora enquanto esperam para embarcar. Publicado originalmente em 1951, Meu tipo de garota é um dos livros mais importantes de Buddhadeva Bose (1908- 1974), grande nome das letras bengalis. Meu tipo de garota / Buddhadeva Bose / Cia. das Letras / 152 p. / R$ 33 / companhiadasletras.com.br












Ah, Atenas!

Em linguagem simples, o professor de português Cláudio Moreno destrincha, em crônicas bem humoradas, diversos mitos da Grécia antiga. Ele mostra como, seja hoje ou há 5 mil anos, nossas angústias, desejos e ansiedades continuam exatamente as mesmas. Educativo sem ser chato. Um Rio que Vem da Grécia / Cláudio Moreno / L & PM / 160 p. / R$ 12 / www.lpm.com.br