segunda-feira, maio 28, 2012

BIOGRAFIAS MOSTRAM COMO NEM TODO BATERA É UM DOIDÃO DESCONTROLADO...

Na mitologia roqueira, o instrumento que cada músico toca costuma meio que definir a personalidade da pessoa.

Guitarristas solo são donos de egos gigantescos. Baixistas são sóbrios e discretos. Vocalistas são primas donas. E bateristas são os mais loucos, imprevisíveis  e selvagens do bando.

Esse clichê, alimentado em grande parte por figuras trágicas e geniais como John Bonzo Bonham (Led Zeppelin) e Keith Moon (The Who), tem seu contraponto em duas boas biografias de bateristas famosos, que contradizem o lugar comum.

Inside Out: A Verdadeira História do Pink Floyd, autobiografia de Nick Mason, e Dave Grohl: Nada a Perder, de Michael Heatley, mostram que nem todo baterista de rock é um alucinado movido a  drogas, sexo e violência gratuita (haja visto os diversos relatos de episódios com tais ingredientes, protagonizados por Bonzo e Moonie).

Inside Out, escrito pelo próprio homem das baquetas do Pink Floyd, oferece, como sugere o título (“De dentro para fora”) a versão interna de um dos protagonistas da admirada trajetória da banda.

E, a se julgar pelo texto inequivocamente refinado de Mason, coalhado de ironias finas e alentadas reflexões, não há dúvidas que estamos diante de um típico cavalheiro inglês: ponderado, enigmático e dono de senso de humor intrigante.

Não a toa, a autobiografia de Mason se inicia narrando seu encontro com o futuro baixista do Floyd, na faculdade de arquitetura que frequentavam em Londres (acima, foto do livro que mostra os dois justamente naquele tempo): “O único motivo pelo qual Roger Waters importou-se em se aproximar de mim foi por que ele queria tomar emprestado o meu carro”, revela.

Atualizado, o livro cobre todas as fases da banda, desde seus primórdios até a apresentação final com todos os membros ainda vivos, no evento Live 8 (2005) e a subsequente morte do tecladista Rick Wright (2008).

Trauma com drogas

Já a biografia de Dave Grohl, assinada pelo jornalista Michael Heatley, também tem a vantagem de ser bem atualizada – a tradução partiu da edição lançada em setembro de 2011 no exterior.

Outro ponto positivo é o bom ritmo do texto de Heatley, que é bem objetivo e consegue munir o leitor de informações sobre toda a trajetória do célebre ex-baterista do Nirvana / líder do Foo Fighters, desde sua infância na minúscula Warren, Ohio, até o último álbum dos Fighters, Wasting Light (2011).

Considerado um dos sujeitos mais boa-praça do rock, Grohl, por incrível que pareça, também contradiz o esterótipo do baterista doidão e drogado. Segundo o livro, ele não usa (ou usava) drogas pesadas.

A razão é bem verossímil: “Eu nunca experimentei cocaína porque um amigo meu teve um ataque cardíaco na porta de uma loja de conveniências quando tinha 18 anos de idade, cheirando coca. Então ela sempre foi essa droga malvada e mortal – além disso, se eu começasse a usa-la, sou o tipo de pessoa que iria gastar cada centavo e enfiar o mundo no meu nariz”, admite o músico, citado por Heatley.

A vida pré-Nirvana de Grohl é outra passagem bem interessante da biografia, especialmente o seu envolvimento com a cena hardcore, quando se juntou à banda Scream (foto acima), um dos expoentes de Washington DC, celeiro do punk norte-americano.

Em 1990, Grohl deixou o Scream para se juntar a uma certa banda de Seattle, chamada Nirvana. O resto, como dizem, é história – e está no livro.

Inside out: A Verdadeira História do Pink Floyd / Nick Mason / Tradução: Alan Ianke / Editora Escrituras / 464 páginas / R$ 54,90 / www.escrituras.com.br

Dave Grohl - Nada A Perder / Michael Heatley / Tradução: Tony Aiex / Edições Ideal / 240 páginas / R$ 39,90 / www.edicoesideal.com

quinta-feira, maio 24, 2012

ESQUEÇA O POE DO FILME E LEIA O HOMEM NA CHINCHA

Na última sexta-feira, Hollywood fez estrear nas telas o filme O Corvo (The Raven), um policial de época que vem na trilha dos Sherlock Holmes de Guy Ritchie, dirigido por James McTeigue – aquela cria dos Irmãos Wachowski (Matrix) que dirigiu a adaptação de V de Vingança.

O curioso é que o personagem principal, diferente do Sherlock interpretado por Robert Downey Jr., não é um personagem fictício, e sim, alguém que realmente existiu: Edgar Allan Poe (1809-1849), cânone da literatura universal, que no filme, interpretado por John Cusack,  é travestido de detetive.

Ora, qualquer um que já leu qualquer coisa sobre Poe sabe que ele andava sempre ocupado demais enxugando garrafas de bourbon, cuidando de enfermidades (dele e de sua esposa), trabalhando e delirando – atividade que deve ter  lhe rendido boa parte de sua obra – pra sair pagando de detetive por aí.

Ao tempo em que o autor de mentirinha chega às telas via Hollywood, uma bela edição em capa dura, com 22 das melhores narrativas curtas do autor real, chega às livrarias: Contos de Imaginação e Mistério vem com nova tradução – de Cássio de Arantes Leite –, ilustrações de cair o queixo  do artista inglês Harry Clarke (1889-1931) e prefácio de ninguém menos que Charles Baudelaire (1821-1867), o cultuado poeta francês, autor de As Flores do Mal.

O livro  é a versão brasileira de uma edição inglesa publicada em 1919,  considerada clássica, para qual foram encomendadas as ilustrações de Clarke, um extraordinário precursor do Art Noveau.

Por que ler Poe

Tudo isto posto, conferir o blockbuster do cinema parece se reduzir a  perda de tempo. “Devemos ler Poe por vários  motivos”, aconselha o tradutor, Cássio. “Primeiro, por que são histórias muito boas. E Poe é um clássico, uma dessas coisas que você não pode deixar de ler na vida, como Moby Dick, Don Quixote, As Mil & Uma Noites, A Ilíada, Odisseia etc”, afirma.

Outra razão para amar Poe é sua imensa influência, dado o seu caráter de fundador de gêneros. “Ele é um escritor seminal em vários gêneros. Todos esses psicopatas, policiais, cientistas forenses e detetives que existem hoje em dia na tevê e no cinema são seus devedores, de certa forma. Assim como não haveria sitcoms sem (P.G.) Wodehouse (1881-1975, autor inglês de humor), não haveria CSI sem Edgar Allan Poe”, aposta Cássio Arantes.

A verdade é que todo mundo se lembra de Sherlock Holmes ou do gordinho belga Hercule Poirot, mas são poucos os que lembram do primeiro investigador de ficção, Auguste Dupin, criado por Poe em Os Assassinatos da Rua Morgue – molde sobre o qual tanto Conan Doyle quanto Agatha Christie criaram seus famosíssimos detetives.

“Poe ocupa lugar central em gêneros diferentes: o gótico, o policial, o fantástico, o psicológico – e as epígrafes de Conan Doyle e Júlio Verne na quarta capa do livro dizem isso melhor do que ninguém”, aponta.

No livro, o leitor encontrará tanto clássicos famosos do atormentado autor bostoniano (Os Assassinatos da Rua Morgue, O Poço e o Pêndulo e A Queda da Casa de Usher), quanto outros mais obscuros, como Silêncio: Uma Fábula, O Colóquio de Monos e Una e O Rei Peste.

Outro achado da edição é o magnífico prefácio do “maldito” Charles Baudelaire – que, com certeza, deve ter se identificado com Poe de imediato. “Imagine, por um segundo, o feliz espanto que deve ter sido para Baudelaire em sua época (e ocupando o centro cultural de seu mundo) descobrir uma estrela dessa magnitude brilhando em um continente ‘bárbaro’”, contextualiza o tradutor.

Cássio só lamenta a não-inclusão do conto O Homem na Multidão, “um marco da modernidade, um fantasma flanando pelos versos do poeta francês sobre o nascimento da cidade moderna”, descreve.

Sobre a tradução em si, Cássio diz ter procurado ser “fiel ao ritmo, à variação na escolha de palavras, à pontuação. Faço o trabalho com o  máximo de cuidado que o tempo permite, releio bastante e não invento, nem acochambro, quando a passagem é difícil. Mas isso é obrigação”, observa.

“De resto, é o domínio que se tem (ou não) da própria língua e dos diversos registros de discurso: erudito, coloquial, informal. As soluções que você é capaz de encontrar na transposição de uma língua para outra. Tradutor é como juiz de futebol, quanto menos lembram de você, melhor”, conclui.

Contos de Imaginação e Mistério / Edgar Allan Poe, Harry Clarke (Ilustrador) / Tordesilhas / 424 p. / R$ 59,90 / www.tordesilhaslivros.com.br











terça-feira, maio 22, 2012

ACHEI QUE ISSO NÃO EXISTIA MAIS: GAROTOS DA GOZO DE LEBRE MANDAM A CARETICE UNIVERSITÁRIA ÀS FAVAS PARA FAZER ROCK, PONTO



O rock baiano é um bicho estranho, que vive de ciclos de mais ou menos uma década cada – e todos com pouca ou nenhuma ligação com o ciclo anterior. É o princípio do “voo da da galinha”, como preconizado pelo artista visual e blogueiro Miguel Cordeiro (Koyotes).

Hoje vemos uma cena mais fragmentada do que nunca, que parece (com raras exceções, claro) se contentar em viver à sombra de um certo quarteto de barbudos cariocas.

Diante desse cenário desolador, esta coluna tenta dar visibilidade à todos, mas fica alegre mesmo é quando descobre as “exceções à regra”, aquelas bandas que não estão nem aí pra Caetano, Novos Baianos ou Los Hermanos.

Pois aqui está a Gozo de Lebre (em foto de Marina Muniz): quatro jovens caras de pau passando batidos pela caretice universitária (cheirando a um abominável sentimento de culpa pequeno burguês) que ora assola o rock local.

Tava com saudade do espírito adolescente do rock ‘n’ roll, do descompromisso, da revolta juvenil, do senso de perigo que caracteriza (e legitima) o rock em seu nascedouro? Achou.

Enrique Araújo (bateria), Mateus Prates (vocais), Thiago Schindler (guitarra) e Daniel Souza (baixo) formaram a Gozo de Lebre apenas ano passado, mas já tem o CD Até Umas Hora (sem concordância, mesmo) com 12 músicas gravadas (sabe-se lá como, mas dane-se) e um clipe divertidíssimo dirigido pelo decano do vídeo roqueiro local, Alexandre Xanxa Guena, a quem cabe o mérito de ter descoberto o bando de proscritos.

Matinê de rock ‘n’ roll

Para sentir o drama, basta citar os títulos das faixas: Bebendo no Além, Nicotina, Como Eu Vou Beber, Vodka, Meu Bom e Velho Rock ‘n’ Roll.

A do clipe chama Barulho e a letra só poderia ter sido escrita por um adolescente: “O meu irmão me manda calar a boca / minha mamãe já tá ficando louca / Mas o meu rock eu não paro, não / disso eu não abro mão”.

Enrique, baterista, conta que conheceu Mateus, o cantor, na escola. Daí é mais ou menos a mesma coisa que acontece com todas as bandas: outros amigos vão chegando, aprendendo a tocar seus instrumentos e quando vê, o estrago  está feito.

A forma como esses meninos descobriram o rock é que é bem típica desta época: “Eu jogava muito Tony Hawk (game de skate). Nele eu conheci Motorhead e a identificação foi total. A partir daí fui pesquisando e conhecendo outras bandas: AC/DC, Ramones etc. Isso com oito ou sete anos de idade”, conta Enrique.

A história de como eles toparam com Xanxa é outra pérola: “A gente tava tomando cerveja num barzinho aqui no Canela e um cara com pinta de muito doido veio falar com a gente: ‘Vocês tocam em uma banda?’ Ele falou que fez um curta, mas na hora não botamos fé. Depois pesquisamos e vimos que ele era conhecido”, relata.

Sábado tem show – em matinê. Mais jovem, impossível.

Impacto Music Rock, com Ofel (SP), Gozo de Lebre, Absolut e outras / sábado, 13 horas (matinê) / Dubliner’s Irish pub (Rio vermelho) / R$ 10

Ouça: www.gozodelebre.tnb.art.br




NUETAS

Theatro na Praia
Um dos melhores (e infelizmente, menos comentados) discos baianos de 2011 foi No Fim de Maio, da Theatro de Seraphin (ao lado). Agora, justamente na época sugerida pelo CD, eles fazem show acústico no Sebo Praia dos Livros (Porto da Barra). Na sequencia, a Nuvem de DJs, que promete fazer chover (também) dentro do Sebo. Sexta-feira, 19 horas, R$ 10. 


RockCital com Pastel
Depois da matinê, a noite de sábado no Dubliner’s traz o RockCital - Rock & Literatura, com Pastel de Miolos, Fridha e Newrônio. A parte literária conta com Lupeu Lacerda, Gustavo Rios e Sandro Só, todos lançando livros. 21 horas, R$ 15.

Virtuoses do violão
A série Guitarrisimo, do Instituto Cervantes (na Ladeira da Barra), traz o violonista espanhol Daniel Casares. Amanhã, 19h30, grátis.

sexta-feira, maio 18, 2012

AMERICAN HARDCORE DISSECA PRIMEIRO CICLO DO HC IANQUE

Vitória de Ronald Reagan em 1980 foi o estopim para reação brutal em forma de som & fúria produzidos por jovens revoltados
É interessante notar como certos movimentos culturais  parecem intrinsecamente ligados ao momento histórico e ao contexto sócio-político-econômico em que ocorrem.

O documentário American Hardcore - A História do Punk Rock Americano 1980-1986 (EUA, 2006), que acaba de ser lançado em DVD, deixa bem claro como o ciclo punk ianque inicial foi uma reação ao primeiro mandato do Ronald Reagan (1911-2004), presidente Republicano branco, conservador, intervencionista.

Não a toa, as primeiras imagens do filme dirigido por Paul Rachman - uma espécie de Botinada dos gringos - são justamente as de Ronnie jurando solenemente sobre a Bíblia, durante sua posse em 1980.

“No início dos anos 80 havia essa tendência de restabelecimento da ordem. Sabe como é, Ronald Reagan, a ordem do homem branco”, conta Vic Bondi, da banda Articles of Faith, entrevistado no filme.

“Por que antes tinha aquele cara, Jimmy Carter (presidente Democrata 1976-80, considerado fraco), falando de paz, direitos humanos e toda aquela ‘merda’. E havia as feministas, os negros, todos passando ‘por cima de nós’. E aí o país entrou nessa fantasia pueril anos 1950, enquanto nós éramos somente mentiras”, relata.

Dizer tudo em 32 segundos

Com dezenas de entrevistados, o documentário mapeia (literalmente), de modo bastante eficiente, um movimento que, hoje, é difícil de entender como se espalhou Estados Unidos adentro numa época em que ainda não existiam as facilidades da Internet e as rádios não tocavam nenhuma daquelas bandas.

Também, pudera: as pedradas produzidas por bandas como Black Flag, Bad Brains, Minor Threat, SS Decontrol e Millions of Dead Cops, entre outras, ainda hoje soam extremamente agressivas e pesadas.

A primeira geração do punk inglês, como Sex Pistols e The Clash são como canções de ninar perto delas. E a ideia era justamente essa: despir a música de qualquer “gordura” e deixar apenas o centro, o “caroço duro” (hardcore, em inglês).

“Vou dizer exatamente o que está na minha cabeça, e vou fazer isso em 32 segundos”, definiu, de forma definitiva, Ian MacKaye, do Minor Threat.

Com linguagem ágil, American Hardcore recupera dezenas de imagens de arquivos de shows das bandas e explora os diversos aspectos do movimento: as personalidades (HR, do Bad Brains, Henry Rollins, do Black Flag), as garotas, as tretas, as turnês, as diferenças entre as facções e muito mais.

E tudo fluiu, até chegar 1984. “Quando Reagan ganhou da primeira vez, a gente quase não acreditou. Como isso pôde acontecer? Mas da segunda vez que ele ganhou, foi devastador pra mim”, relata Dave Dictor, do Millions of Dead Cops.

“Aqueles primeiros quatro anos de punk rock, de 1980 até 84, era tudo esperança. Depois daquilo ficamos cínicos, o punk rock se fragmentou em muitas cenas diferentes”, conclui.

American Hardcore - A História do Punk Rock Americano 1980 - 1986 / Ideal Shop / R$ 29,50 / Vendas: www.idealrecords.com.br








quinta-feira, maio 17, 2012

COMEÇA HOJE: MÚSICA DE AGORA NA BAHIA (MAB)

PRIMEIRO CONCERTO DÁ PONTAPÉ INICIAL EM SÉRIE DE 38 EVENTOS QUE SE ESTENDEM DE MAIO ATÉ DEZEMBRO
Música de concerto contemporânea de autores baianos serão executadas pelo Camará - Conjunto de Câmara da Ufba

Pontapé inicial do MAB - Música de Agora na Bahia, este concerto de importância simbólica terá lugar no próximo dia 17 em local igualmente simbólico: o Teatro Vila Velha, um dos palcos mais revolucionários da Bahia. Nada mais adequado para marcar um novo momento para a música erudita baiana.

Com peças de autores contemporâneos como Paulo Rios, Alexandre Espinheira, Paulo Costa Lima e Wellington Gomes, o primeiro encontro da Música de Agora na Bahia com o público terá execução do Camará - Conjunto de Câmara da Ufba, criado em 2011 justamente para fazer ouvir as criações dos novos compositores da música de concerto contemporânea baiana.

A noite de abertura do MAB ainda terá um coquetel para marcar o lançamento e a audição do álbum Compositores da Bahia, lançado pela OCA.

O evento demonstrará que "'música clássica', como a maioria das pessoas se refere à música de concerto, não precisa ser algo feito há 300 anos, por alguém que já está morto e obras que falem de um contexto histórico, social e cultural tão distante", explica Paulo Rios Filho, diretor artístico do Camará e membro fundador da Oficina de Composição Agora (OCA), grupo idealizador do MAB.

“Tem gente nova, que vive debaixo desse mesmo sol escaldante, que pega o mesmo trânsito, que escuta os mesmos sons na rua e que vai aos mesmos shows que qualquer habitante de Salvador, fazendo uma música 'clássica' que fala desse tempo e lugar", descreve.

O MAB ainda terá mais quatro concertos além deste, cada um com uma formação musical diferente, indo desde o quarteto de clarinetas ao conjunto de câmara, encerrando em dezembro com uma... banda de rock!

Quem não puder comparecer pode acompanhar tudo ao vivo, pelo site www.livestream.com/teatrovilavelha.

O Camará - Conjunto de Câmara da Ufba é formado por: Paulo Rios Filho, diretor artístico e regente; Flávio Hamaoka (flauta), Gueber Santos (clarinete), Davysson Lima (saxofones), Vitor Rios (bandolim), Gilson Santana (violão), Humberto Monteiro (percussão), Samuel Dias (violino), Adalberto Vital (violino), Suzana Kato (violoncelo) e Fernanda Monteiro (violoncelo).

O MAB é uma série de 38 atividades que englobam: concertos, projeções sonoras, seminários, palestras, mini-recitais em escolas públicas e intervenções urbanas, se estendendo de maio até dezembro de 2012.

O MAB é uma realização da Associação Civil Oficina de Composição Agora (OCA) com patrocínio do Fundo de Cultura da Bahia (Secult).

VILA DA MÚSICA - As atividades do MAB nas dependências do Teatro Vila Velha acontecem dentro do projeto Vila da Música, coordenado por Jarbas Bittencourt, com curadoria do mesmo, com Ronei Jorge. O MAB é parceiro do Vila da Música, que por sua vez, é patrocinado pela Oi.

CONCERTO DO MAB (MÚSICA DE AGORA NA BAHIA) - DIA 1 (DE CINCO): 17 DE MAIO

EXECUÇÃO: CAMARÁ – CONJUNTO DE CÂMARA DA UFBA, COM REGÊNCIA DE PAULO RIOS FILHO

TEATRO VILA VELHA (PASSEIO PÚBLICO, S/N, CAMPO GRANDE)

COQUETEL ÀS 20 HORAS / CONCERTO ÀS 21 HORAS

INGRESSOS: R$ 10 e R$ 5

CADA INGRESSO DÁ DIREITO A GANHAR UM EXEMPLAR DO CD "COMPOSITORES DA BAHIA" - OCA

TRANSMISSÃO AO VIVO: www.livestream.com/teatrovilavelha


Maiores informações:
www.musicadeagoranabahia.com
www.musicadeagoranabahia.com/wordpress

www.ocaocaoca.com.br
www.camaraufba.blogspot.com (site do Camará)
www.pauloriosfilho.blogspot.com (site do diretor artístico)
tiny.cc/nsz68 (página do Camará no Facebook)


Fotos Camará: Emílio Le Roux (primeira) e Salete Maso (segunda)

terça-feira, maio 15, 2012

DIEGO ORRICO MOSTRA O JUMP BLUES EM TEMPORADA NO VISCA

O bom e velho blues todo mundo já conhece e – quem tem bom gosto – aprecia. Mas já ouviu falar em jump blues? E um sinuoso mambo blues, já experimentou dançar?

Ou quem sabe um traditional ou mesmo um animado swing blues noite adentro? Não? Pois a temporada do gaitista Diego Orrico (ao lado, em foto de Crisna Pires) no Visca Sabor & Arte é a oportunidade que  esperávamos para conferir estes e outros sons.


Parte da pequena porém ativa cena gaiteira de Salvador, o baiano Diego começou tocando saxofone, mas abandonou o instrumento aos 19 anos, depois de começar a brincar com a compacta gaita.

“Adoro o sax, aprendi muito sobre respiração com ele, mas é um bicho muito grande, dá um trabalho danado”, conta o músico.

Em 2005, o rapaz se aliou ao baterista norte-americano radicado em Salvador Brian Knave, um estudioso do blues e que já tinha a experiência de ter tocado na banda de um  gaitista lendário de sua terra, Norton Buffalo and The Knockouts.

Put on your red shoes and dance the blues

Com Brian, Diego formou a banda The Blues Bullets, que depois de muito entra e sai, estabilizou uma formação matadora, com CH Straatmann (baixo) e Jorge Solovera (guitarra).

“É um pessoal bem ocupado, mas até que conseguimos manter uma agenda sem muito conflito. Este mês, por exemplo, CH não está na cidade, mas conseguimos um bom substituto, que é o baixista queniano Dave Yowell”, relata Diego.

Com planos de gravar e lançar um álbum em breve, ele segue na batalha, ao lado de Luiz Rocha, para estabelecer uma cena para o instrumento na cidade, através de iniciativas como os eventos Papo de Gaita.

E assim como Luiz era endorser (patrocinado) da fábrica Bends (que infelizmente, fechou há poucos meses), Diego descolou contrato com a fábrica de amplificadores vintage Serrano.

E para quem pensa que seu show é para assistir sentado, pode esquecer: “Quando montamos a banda, a ideia era mostrar o estilo jump, que mistura sons dos anos 40 (swing) e 50 (rockabilly). É blues para dançar mesmo, você não fica só sentado bebendo”, garante.

Em tempo: no sábado (26), aniversário de Diego, a noite será especial, com muitos convidados surpresa em uma "jam party".

Diego Orrico & The Blues Bullets / Dias 17, 24, 31 (quintas-feiras) e sábado (26), 22 horas / Visca Sabor & Arte (Rua Guedes Cabral, 123, Rio Vermelho) / R$ 14

NUETAS

Rosi Marback sexta

Por falar em blues, nesta sexta-feira, a cantora Rosi Marback apresenta repertório de standards acompanhada de super banda – comandada pelo multi homem Jerry Marlon – no Europa Bar (Largo da Dinha). Às 22 horas, por R$ 15.

Escola Pública estreia sábado

Vista nesta coluna no início do ano, a elogiada banda Escola Pública, de Cachoeira, finalmente estreia na cidade. A rapaziada, que faz um samba super decente, vem lançar   EP e  conta com participações de Pietro Leal (Pirigulino Babilake) e Giovani Cidreira (Velotroz). Sábado,  22 horas, na  Casa da Águia - Centro Cultural da Misericórdia (Rua Guindaste dos Padres, 01, Ed. Taveira, Comércio), R$ 15 ou R$ 10 mais 1 quilo de alimento. Atenção: a entrada é só pelo Comércio e a produção garante que tem segurança 24 horas no local.

sexta-feira, maio 11, 2012

ELETRONIKA CHEGA HOJE À CIDADE: EMICIDA, JAMES PANTS, WADO E KASSIN SÃOS OS DESTAQUES

Tendência cada vez mais forte entre festivais, a itinerância traz mais um – de grife – para Salvador: é o mineiro Eletronika - Festival de Novas Tendências, que acontece em Belo Horizonte desde 1999 e rola hoje e amanhã no reformado casarão do Cine Teatro Solar Boa Vista (Engenho Velho de Brotas).

Ao contrário do que o nome possa sugerir, o Eletronika não se resume a uma sequência de DJs se revezando em pick-ups – embora eles também marquem presença na grade de atrações e, diga-se de passagem, são DJs  de altíssimo nível.

Bem diversificado, o festival traz nomes bem badalados nos circuitos moderninhos do Brasil e até fora dele, como os norte-americanos James Pants e Cut Chemist, o carioca Kassin (que recebe o convidado Arto Lindsay), o rapper paulista Emicida (que traz seu projeto Os Três Temores), o catarinense-alagoano Wado (com André Abujamra) e o capixaba SILVA.

Desta forma,  o Eletronika cumpre o que promete seu subtítulo, que anuncia um  “Festival de Novas Tendências” – característica que está no seu DNA, que pode ser rastreado desde o ano de 1994.


Naquele ano, aconteceu em Belo Horizonte o festival BHRIF (BH Rock Independente Fest), que levou à capital mineira nomes como Fugazi, Dorsal Atlântica, Anathema e outros. “O Eletronika surgiu como minha tentativa de reeditar o BHRIF”, conta o idealizador Aluizer Malab.

“Mas o Eletronika nasceu com um olhar mais para a frente, no caso, voltado à cena eletrônica, mas não só: para o futuro, como um festival de novas tendências, mais aberto”, relata.

Nada de área VIP

Depois de mais de dez edições, com direito a marcar presença em São Paulo, Rio de Janeiro, Belém e Barcelona (no tradicional Sónar) o Eletronika chega a capital baiana, através do programa Vivo arte.mov e viabilizado pelo FazCultura (Governo da Bahia), além do apoio da Red Bull Music Academy.

“Acredito que Salvador, aonde já morei por um período, tem um público ávido por outras propostas artísticas”, apostou e acertou, Aluizer: os ingressos para o sábado esgotaram.

Ele conta que, mais do que artistas badalados, o critério de seleção da grade de atrações é “buscar artistas de boa performance, preferencialmente, não tão conhecidos do grande público. Também é importante  dialogar com a nova música brasileira”, acrescenta Aluizer.

Um dos nomes mais elogiados dessa nova música brasileira, Wado, que se apresenta hoje, esteve em Salvador há poucos meses: “O público de Salvador é legal demais, muito caloroso. Esse último show no Portela Café teve todo mundo cantando junto, o maior barato”, entusiasma-se.

“Agora em um festival, a expectativa é ainda melhor. Até por que  estarei na mesma noite com o Kassin, que é um amigo, e o André Abujamra dividindo o palco comigo em algumas músicas”, comemora.

Outro show imperdível é do James Pants, DJ e multi-instrumentista badaladíssimo nos circuitos cosmopolitas mundo afora. “Acho que sempre me imaginei indo ao Brasil algum dia, mas não esperava que fosse em Salvador. Mas ouvi boas coisas daí. Mal posso esperar. Gostaria de conseguir alguns besouros gigantes para minha coleção também”, disse ele, via email.

Pants ficou satisfeito de saber que o show seria em um teatro: “Áreas VIP são a escória da humanidade”, disparou.

Leia entrevista completa que fiz com James Pants aqui.

Eletronika - Festival de Novas Tendências / Hoje e amanhã, 21 horas / Cine Teatro Solar Boa Vista (Engenho Velho de Brotas) / R$ 20 e R$ 10 / à vanda nos Balcões Ticketmix / Ingressos para amanhã esgotados


Atrações:

Dia 11: DJ 440, SILVA, Wado (com participação de André Abujamra) e Kassin (com participação de Arto Lindsay).
 

Dia 12: DJ 440, James Pants, Cut Chemist e o show “Os Três Temores”, com os rappers Emicida, Projota e Rashid.

Site oficial: www.festivaleletronika.com.br
Twitter: @eletronika
Facebook: /festivaleletronika

quinta-feira, maio 10, 2012

JORGE SOLOVERA, ANDINO COM DENDÊ


Quem vê o produtor musical Jorge Solovera, figura tranquila e reservada,  circulando pelos estúdios e palcos da cidade não imagina quanta história e experiência de vida este chileno de 37 anos, residente na Bahia desde 1986, tem para contar.

 Solovera não lembra do seu pai. Ele tinha um ano de idade quando os militares golpistas do Chile o capturaram e desde então, nunca mais foi visto.

“A última notícia que tive foi que surgiram alguns documentos e ossadas, que disseram que pode ser do meu pai, mas não foi confirmado ainda”, conta.

“Sei que o lugar aonde ele ficou detido era pertinho da casa aonde morávamos em Santiago. Tem um memorial nesse mesmo lugar com os nomes de todos que foram torturados e mortos ali, incluindo meu pai, mas ainda não tive coragem de visitar o local”, confessa.

Em 1983, sua mãe, Patricia Salas, se casou de novo, com um brasileiro – e a família migrou para o Brasil. Depois de uma passagem de um ano e meio no  Rio de Janeiro, chegaram à Salvador.

Mas a experiência de Solovera com a música já tinha começado anos antes, ainda no Chile. Tanto o pai, sindicalista da CUT chilena, quanto a mãe eram músicos. “Minha mãe tinha um grupo de música andina formada só por mães e mulheres de desaparecidos”, revela.

“Elas organizavam atos e viajavam o Chile todo. Tinha música, dança, protesto, era um negócio bem emocionante. E eu sempre ia junto. Se chamava Grupo Detenidos Desaparecidos”, conta.

Do Tesão & Cia aos estúdios

Solovera tomou as primeiras aulas de violão clássico aos seis anos e entrou no conservatório da Universidade do Chile aos oito.

Já em Salvador, sua mãe se tornou sócia do antológico bar / comunidade libertária Tesão & Cia., que ficava em Piatã.

“Comecei a tocar na noite lá, pirralho ainda, com 14, 15 anos. Toquei em bandas cover da Blitz (Let It Blitz), The Doors e Raul Seixas. Eventualmente, minha mãe conheceu a mãe de Glauber Guimarães (ex-Dead Billies) e chegamos a morar todos juntos, rachando um apartamento no Cabula”, revela Solovera.

“Um dia, Glauber botou um LP do Iron Maiden pra tocar e começou a cantar junto – igual ao vocalista. Aí eu pirei. Disse: ‘velho, você tem que tocar comigo’. Aí começamos a nos apresentar em dupla no Tesão. No dia seguinte, íamos ao Iguatemi torrar o dinheiro todo em sorvete e discos novos”, ri.

Com o tempo, os convites começaram a surgir e Solovera não parou mais. Emprestou seu talento de instrumentista para nomes como Ricardo Chaves, Daniela Mercury, Jeremias Não Bate Corner, Jorge Zárath, Clara Ghimel e muitos outros.

Por conta disso, conhece a fundo os dois lados da música baiana – o comercial e o artístico. “Não tenho o menor problema em dizer: eu não considero a axé music um trabalho artístico. Sua única preocupação, da forma como ela é feita, é o mercado. É tudo muito tosco. Ultimamente, até houve uma certa evolução técnica, mas até pouco tempo,  tudo era muito mal gravado. Foi um dos motivos por que larguei”, relata.

Apesar da grande musicalidade e habilidade como guitarrista,  foi mesmo como homem de estúdio que Solovera se encontrou profissionalmente.

Seu mestre foi o mesmo de nove entre dez produtores baianos: Nestor Madrid. “Ele me ensinou todas as técnicas. Hoje não consigo passar uma semana sem gravar”, confessa.

Entre os nomes que passaram por sua mão, seja como produtor ou arranjador, estão: Dois Em Um, Cascadura, Formidável Família Musical, Teclas Pretas, Los Canos, Mou Brasil e Maglore. Sua maior expectativa agora é o disco novo de Lazzo Matumbi. “Vem com uma pegada soul, meio Tim Maia”, conclui.

SOLOVERA LINKS:

http://www.myspace.com/soloveramixing

http://www.jorgesolovera.com.br/
 

http://soundcloud.com/jorge-solovera

sábado, maio 05, 2012

MCCOY TYNER: "JAZZ É VIDA"


McCoy Tyner é um senhor de quase 80 anos e aparência frágil, que anda bem devagar, quase arrastando as solas do sapato no assoalho do portentoso palco do Teatro castro Alves.

Sua voz é praticamente um sussurro rouco, o que, aliado ao fato de falar uma língua estrangeira, torna bem difícil a tarefa de entender o que ele diz.

Toda essa suposta fragilidade e dificuldade de comunicação, porém, desaparecem assim que ele toma seu lugar ao piano.

Se Maradona é conhecido como La Mano de Dios (A Mão de Deus), Mr. Tyner bem que merecia um nessa linha, algo como “A Mão Esquerda de Deus”.

Por que toda a música que sai do seu piano parece embasada no que sua mão esquerda é capaz de fazer – e não é pouca coisa.

Com o TCA razoavelmente cheio, McCoy Tyner, em diversas músicas, praticamente surrou as teclas mais graves do piano com sua canhota percussiva – por vezes utilizando até a parte inferior da palma da mão, mais macia, para golpear as teclas, marcando  tempos mais fortes.

Quem viu o show do Branford Marsalis no mesmo TCA ano passado pôde perceber que uma comparação entre os dois seria extremamente injusta.

A banda de Marsalis era claramente superior – exceção feita ao próprio McCoy Tyner, claro.

Contudo, conferir uma lenda viva do jazz – mandando muito bem, obrigado – sem precisar pegar um avião foi um ótimo cartão de visitas para o Santo Antônio Jazz Festival. Que venham muitos outros shows.

ENTREVISTA MCCOY TYNER

"Meu conselho aos jovens é trabalhar muito duro para tentar encontrar seu próprio caminho"

No mundo do jazz, McCoy Tyner está para o piano assim como John Coltrane está para o saxofone.

Não à toa, foi com o próprio Coltrane que Tyner despontou no cenário em 1960, ao responder pelas teclas no clássico LP My Favourite Things.

Ao lado de Elvin Jones (bateria) e Jimmy Garrison (baixo), a dupla formou um dos quartetos de jazz mais influentes da história do gênero.

Com o tempo, diferenças criativas começaram a surgir e Tyner deixou o quarteto em 1965, assumindo uma longa e brilhante carreira solo iniciada a partir de Inception (1962).

De lá para cá, foram mais de 70 álbuns lançados, muitos premiados com o Grammy e inúmeras outras honrarias.

Nascido na Filadélfia, em 11 de dezembro de 1938, Tyner começou a tocar piano incentivado pela mãe. Canhoto, tornou conhecido seu estilo percussivo de bater nas teclas, justamente com a mão esquerda.

Em uma rara oportunidade, os baianos tiveram a oportunidade única de conferir esta verdadeira lenda viva do jazz no Teatro Castro Alves, acompanhado de um trio formado por Gerald Cannon (baixo acústico), Marcus Strickland (sax) e Montez Coleman (bateria).

A apresentação inaugurou a primeira edição do Santo Antônio Jazz Festival, que ainda teve apresentações de Mou Brasil, Ricardo Andrade e um workshop com o trio de acompanhamento de McCoy Tyner.

Você é sempre citado como um dos pianistas mais influentes do jazz. Mas quanto desta influência você consegue perceber nos pianistas contemporâneos?

McCoy Tyner: Eu acho que tem sido uma bênção que tantas pessoas gostem e tenham se influenciado com a música que fiz ao longo dos anos. Tudo o que podemos fazer é continuar a tocar e fazer o que está em nossos corações. Para mim, ser capaz de tocar a minha música para as pessoas é realmente uma bênção, e é para isso que eu vivo. Para a nova geração, eu diria a eles para continuar a praticar e nunca desistir!

Desde o início dos anos 1960, o senhor tocou com quase todos os "grandes" do jazz. Teve algum com quem o senhor gostaria de ter feito uma parceria, mas não aconteceu? Quem e por que?

MT: Bem, eu nunca consegui tocar com Miles (Davis). Isso teria sido uma oportunidade que eu teria abraçado. Mas, às vezes, você só tem o que você recebe.

Como o jazz entrou na sua vida? Estava na sua casa, nas ruas de sua cidade? Ou foi um gosto adquirido?

MT: Eu comecei a tocar piano quando eu era um menino na Filadélfia. Minha mãe queria que eu tocasse piano e como não tínhamos um piano em casa, eu tinha que praticar nas casas dos amigos dela. Mas mais tarde, minha mãe colocou um piano em seu salão de beleza, então fazíamos jam sessions enquanto as mulheres estavam cuidando dos cabelos! Era um tempo fantástico. Eu sempre amei o Bud Powell e Thelonious Monk. E Bud viveu na Filadélfia quando eu estava lá. Ele não estava muito bem naquela época, mas foi uma emoção vê-lo por perto.

Quais são os novos talentos do jazz que chamam sua atenção? Por que?


MT: Todos os jovens músicos que tive a sorte de reunir na banda ou de igual peso – Christian Scott, Chris Potter, Eric Alexander, Francisco Mela, Jon Batiste, entre outros – esses jovens músicos são extraordinariamente talentosos e merecedores de reconhecimento mais amplo.

Como um experiente artista de gravação, de que jeito o senhor gosta mais: no estúdio ou ao vivo? Por que?

MT: Acho que ambos têm o seu lugar na música. Eu não sei se prefiro um mais do que o outro. Eu estou sempre animado e abençoado de ser capaz de tocar a minha música na frente dos fãs que apreciam isso e gostam de ouvir!

O senhor já tinha ouvido falar de Salvador, Bahia? Conhece e aprecia algo de nossa música? E quanto a música e ao jazz brasileiros? O senhor gosta? De que artistas?

MT: Eu sempre tive um apreço pela música brasileira. Na verdade, eu escrevi uma canção chamada Festival na Bahia. Gravei ela com minha banda Latin All-Stars. Eu já toquei com muitos músicos brasileiros ao longo dos anos. Eles têm uma grande história e tradição. Guilherme Franco estava na minha banda por um tempo e gravou em alguns dos meus álbuns.

Quando o senhor olha para trás e vê uma carreira tão brilhante quanto a sua, como se sente? Ou o senhor prefere só olhar para o que vem na frente?

MT: Eu realmente não gosto de olhar muito para trás, mas estou muito orgulhoso do que tenho realizado. Mais do que isso, sou grato de que tantas pessoas ainda queiram ouvir minha música. Eu me sinto muito abençoado de ser capaz de fazer o que estou fazendo e estou ansioso para fazer ainda mais música no futuro.

Como o senhor vê o jazz contemporâneo? Os jovens estão honrando o legado dos grandes músicos?

MT: Meu conselho para jovens músicos é trabalhar muito duro para tentar encontrar seu próprio caminho. Todos os grandes músicos são amados porque eles têm um som distinto que as pessoas reconhecem e apreciam, e é algo que precisa continuar para que a música possa evoluir e crescer.

Eu sei que provavelmente já perguntaram isto ao senhor trocentas vezes, mas eu tenho que arriscar: o que é jazz para você?

MT: Jazz é vida. É claro que é a música, mas eu acho que vai além disso. É o ar que respiramos e a vida que vivemos. É o que você faz dela e isso significa algo diferente para todos.

Tradução das respostas do Tyner: Marcos Casé. Fotos do show no TCA: Vinícius Xavier / Divulgação. Foto Tyner: John Abbott. Entrevista e comentário do show publicados originalmente no Caderno 2+ do jornal A Tarde.

quinta-feira, maio 03, 2012

ENQUANTO NÃO APARECE NADA MELHOR, TOME-LHE (MAIS) MICRO-RESENHAS!

Reverência country

Além de discos próprios e participações em projetos nota dez, como Rome (2011), a adorável Norah Jones mantém sua banda paralela, The Little Willies. Aqui, boas versões para clássicos, como Wide Open Road (Johnny Cash), Jolene (Dolly Parton) etc. O tom é reverente, mas é tudo muito bem resolvido, graças à categoria dos músicos envolvidos. Delicioso. The Little Willies / For The Good Times / EMI  / R$ 29,90
 









Mais um álbum de cover dos Beatles - mas ei, este é daquela cantora! Aquela...

Álbuns de cover dos Beatles existem às baciadas, então é difícil ainda sair coelho deste mato. Mas este aqui, da eterna musa de Killing Me Softly,  merece um desconto. Tem In My Life, Oh Darling, Come Together, We Can Work It Out.. Roberta Flack / Let It Be Roberta - Roberta Flack Sings The Beatles / Lab 344 / R$ 27,90








Paulas Fernandes politizadas

Musas do country atual, as Dixie Chicks são mais famosas por aqui por terem se pronunciado abertamente contra o governo Bush e a invasão ao Iraque, o que lhes valeu muita hostilidade dos caipiras ianques. O som? Parece Paula Fernandes. E não, isso não é elogio. Dixie Chicks / Storytellers / Sony - BMG / R$ 41,90








Analisando a Ocupação

Alguns dos mais importantes (e provocativos) pensadores contemporâneos analisam os diversos ângulos do fenômeno Occupy, movimento que tomou as ruas das grandes metrópoles mundo afora em 2011. Estão aqui Slavoj Zizek, Tariq Ali, Emir Sader, David Harvey, Vladimir Safatle e outros. Occupy / Vários autores / Boitempo - Carta Maior/ 88 p./ R$ 10/ www.boitempoeditorial.com.br







Calafrio é terror clássico brasuca

Em 1981, uma pequena editora independente marcou época ao lançar Calafrio, uma revista de HQs de terror com alguns dos melhores talentos nacionais, como Rodolfo Zalla, Eugenio Colonnese, Júlio Braz e outros. Em 2011, outra editora retomou a revista da numeração original. Um trabalho de paixão e um belo tributo aos quadrinhos brasileiros. Acompanham dois postais irados a cada edição. Calafrio - Edição de Colecionador / Vários autores / D-Arte - CLUQ/ 52 páginas (cada)/ R$ 30/ À Venda na  www.comix.com.br






Você já ouviu / viu isso antes...

O Iron Maiden lança seu trocentésimo álbum ao vivo com, basicamente, o mesmo repertório há quase 30 anos. Quem acha isso parecido com o que fazem as bandas de axé e medalhões da MPB, levanta a mão fazendo chifrinho... Iron Maiden / En Vivo!  / EMI / R$ 54,90 (CD), R$ 69,90 (DVD), R$ 174,90 (Blu-Ray)








Joga fora no lixo

É impressionante a cara de pau de quem se dispôs a lançar este DVD no mercado. São três entrevistas de dez minutos cada, que parecem ter sido pescadas do You Tube. Nem os fãs dessa chata de galochas merecem. Não aceite nem de graça. Adele / Fire and Rain: The History / Music Brokers / R$ 24,90

 







O golpe antes d'O Golpe

Três anos antes do golpe de 1964, logo após a renúncia de Jânio Quadros, os ministros das forças armadas tentaram tomar o poder do vice, Jango, na marra, com mobilização de tropas e ameaça de bombardeio. Aqui, o jornalista Flávio Tavares, testemunha ocular, conta em texto ágil e vibrante, como Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul –, metralhadora em punho e tudo! – conseguiu adiar o desastre que, infelizmente, chegaria de qualquer jeito três anos depois. 1961 - O Golpe Derrotado / Flávio Tavares / L&PM/ 240 p./ R$ 37/ www.lpm.com.br





Big Bang de referências

Se você fica perdido(a) com as referências – científicas e de cultura pop – de Big Bang Theory, este é o seu livro. Além de um glossário que abrange desde minúcias de Star Trek à física quântica, ele traz detalhes da criação do badalado seriado e biografias dos atores. Big Bang: A Teoria – Guia não autorizado da série / George Beahm / Universo dos Livros/ 320 p./ R$ 29,90/ www.universodoslivros.com.br







A essência dos personagens

Depois de um tempo em baixa, as HQs Disney voltam a ficar badaladas junto aos  leitores, graças a coleções como esta, que trazem histórias inéditas enfocando aspectos “essenciais” dos personagens a cada volume, como casais, vilões e traços de personalidade. Com o número 1, grátis o número 2. Essencial Disney / Vários autores / Abril / 100 p. (cada volume)/ R$ 10 / www.abriljovem.com.br







Versiones hermanas

Mesmo quem não é exatamente chegado em pop latino pode ter uma boa surpresa com este álbum de versões do ídolo argentino Fito Paez. Inclui Construccion (de Chico Buarque), Baila Por Ahi (Dancin’ in The Streets) e até Bob Dylan. Fito Paez / Canciones Para Aliens / Sony / R$ 24,90








Hype ontem, alvo hoje

Mais uma daquelas bandas que o semanário inglês NME anuncia como “a maior coisa desde o pão de forma” em uma semana para praticar tiro ao alvo na semana seguinte. Além de um ou dois singles, pouca coisa se salva. The Vaccines / What Did You Expect From The Vaccines? / Sony / R$ 24,90








Mundanos artistas

Coletivo que reúne novos escritores, poetas, fotógrafos e artistas visuais, o Instituto Mundo Mundano lança este 2º volume com a produção dos seus associados. Variada e bem humorada, a seleção traz recortes inusitados do cotidiano em muitos contos, poemas e imagens. Mundo Mundano e o Seu Novo Mundo - Vol. 2 / Vários autores / Prólogo/ 250 p./ R$ 40 / www.mundomundano.com.br







Gaimania prossegue

Ótimo escritor, mas de certa forma supervalorizado (ou superavaliado), Neil Gaiman cometeu uma obra-prima das HQs chamada Sandman. E foi só. Neste misto de biografia e estudo de sua obra, os fãs vão se esbaldar com a descrição de como ele escreveu Sandman e outras, como Coraline, Deuses Americanos etc. Os Vários Mundos de Neil Gaiman / H. Wagner, C. Golden e S. R. Bissette / Geração/ 760 p./ R$ 69,90/ www.geracaoeditorial.com.br







Os meninos de Ennis

O  irlandês Garth Ennis é o psicopata que escreveu algumas das melhores HQs recentes, como Preacher e Justiceiro. No 2º volume da série The Boys, a equipe de monitoramento (e eventuais sumiços) de super-seres se depara com um genérico tarado do Batman e a máfia russa. Sangrento e hilário. The Boys - Volume 2: Mandando Ver / Garth Ennis e Darick Robertson / Devir/  192 p./ R$ 39,90 / www.devir.com.br







Hype hoje, alvo amanhã

Responsável por um dos shows mais frenéticos do Lollapalooza Brasil, o quinteto norte-americano Cage The Elephant oferece uma atualização da sujeira grunge via Pixies e Pavement. Originalidade zero, energia adolescente dez. Cage The Elephant / Thank You Happy Birthday / EMI / R$ 29,90








Jornada dupla para Elis

20 de julho de 1979: os ingressos para o show de Elis Regina em Montreaux estavam esgotados. A solução foi fazer mais uma apresentação, de tarde. Neste álbum duplo, a íntegra dos dois  shows – irrepreensíveis – para a posteridade. Participação de Hermeto Paschoal. Elis Regina / Um Dia  / Warner / R$ 31,90









A verdade sobre bruxas (e lobisomens, vampiros, trolls e sabe lá mais o quê)

O historiador italiano Carlo Ginzburg põe lente de aumento no rituais pagãos que aconteciam (ainda acontecem?) por toda a Europa, sua perseguição e erradicação pela Inquisição e o real significado dos sabás. Entre rituais, orgias, sacrifícios e banquetes, uma parte oculta da história Ocidental ganha visibilidade. Obra de fôlego em linguagem acessível, imperdível para interessados no assunto. História Noturna: Decifrando o Sabá / Carlo Ginzburg / Cia. de Bolso / 480 p./ R$ 29,50 / www.companhiadasletras.com.br






O filme vai ser divertido

Este é um daqueles livros que parecem já ter sido escritos para serem adaptados ao cinema – o que a Warner já está fazendo. Ambientado em 2044, quando a Terra se tornou quase inabitável, acompanha as aventuras de um jovem loser no OASIS, realidade virtual para a qual quase toda a humanidade se mudou, aonde se desenrola um movimentado jogo de caça ao tesouro. Pelo tema da realidade virtual, moldável à vontade dos usuários, tem sido muito comparado à Matrix. Bobo e divertido. Breve, nas telas. Jogador Nº 1 / Ernest Cline / LeYa / 464 p. / R$ 34,90 / www.leya.com