sábado, fevereiro 16, 2013

MÁRIO MEMÓRIA PARTE 2

Diário do rock 2 – O natal rock’n´roll

Por Mário Jorge Heine, ex-baterista das bandas Úteros em Fúria e Penélope

Sempre fiquei na dúvida se fazer um show no natal foi genialidade ou maluquice.

Mentira, nunca tive dúvidas, para mim sempre foi genial.

Nos idos de 1992 quando chegava as 10h30 da noite de natal já não tinha mais o que fazer, então, um show era tudo que se podia esperar de mais legal.

Ainda mais que não tinha bafômetro, podia tomar “os goró de natal” e se mandar na tranqüilidade... Alguém já viu guarda na rua na noite de Natal?
Edson foi o idealizador desse “negócio”. Ele era dono da “Sound + Vision”, loja alternativa mais legal da cidade.

Tinha um grande acervo de vídeos raros, discos obscuros e camisetas “pretas”. Muitos vídeos VHS copiamos lá... Lembro muito bem do Jane´s Addiction ao vivo em Milão! Piratão maravilhoso de qualidade horrorosa.

O mais impressionante é que Edson conhecia cada vídeo e cada disco com detalhes, era um profundo conhecedor do rock e dono de uma memória implacável. Mas não era um produtor de shows.
Os shows rolaram na Krypton, boate no Jarim dos Namorados (hoje a Madrre, salvo engano). O Dr. Cascadura em noite “Gangrena Gasosa” iniciou a festa. Rockão clássico do bom, vestimenta de capoeira e no final do show Fabio pelado e uma galinha preta pulando em cima do palco. Não preciso comentar mais nada.

O Mercy Killing veio na seqüencia com seu metal competente e inabalável. Os shows deles eram sempre muito bem ensaiados e profissionais (Inclusive ganharam o “Troféu Sound+Vision” de melhor show de 1993).
A platéia era heterogênea: bangers, playboys, punks, rockabillys, surfistas, meninas belas... 

Não tinhamos um público segmentado, agregávamos tribos em harmonia: as pessoas iam para a diversão e pronto.
Enquanto rolava o show do “meu siquilho”, no backstage a situação era a seguinte: Apú e Evandro completamente transtornados... Fora de órbita.

Borel nervoso gritava com Apú - que nem ouvia. Evandro ouvia e dizia coisas como: “sim... é...calma, rei...” e Borel começava a ser mais agressivo, quase que estapeando Evandro.

Eu não estava bom, mas pelo menos, me lembro de algumas coisas...
Tinha que subir no palco e tocar. E assim foi. O show começou e até o seu final, Evandro ficou um compasso atrasado.

Quando ele conseguia mudar a nota, já estava na próxima... Isso quando ele não estava “viajando” no reflexo da iluminação do palco na placa do contra-baixo.

Apú colocou um chapéu de cowboy, abaixou a cabeça e tocou todo o show em mi. Eu não lembro de ter “prejudicado” a bagaça, mas, com certeza, não ajudei.
Mauro e Borel tiveram que segurar a onda do show e foi o que Deus quis...

Reforçando a máxima de que um show de rock’n’roll é feito por um vocalista carismático e um guitarrista talentoso.
Mais ou menos assim foi o “Natal Rock ’n’ Roll”.
A visão da plateia, por Franchico:
Lembro que virei umas doses do uísque (Johnny Walker Red Label? Black & White? Dimple? Não lembro.) da minha avó (era Natal, então ela liberou), botei uma camiseta preta sem mangas (eu mesmo que tesourei, natoralmente) e fui pra Krypton já meio doidão, de buzú mesmo.

Morava perto, na Pituba. Na porta da Krypton, a galera ficava dando um tempo bebendo cerveja e jogando conversa fora antes de entrar - como em qualquer show. Encontrei a galera, entrei.

Não vi Fábio pelado - garaças a Deus! Ele mandou apagar as luzes antes de tirar a roupa. Mas lembro que aconteceu isso, além de uma galinha preta pulando e farofa pra todo lado jogadas pelo palco. (Acredito que Joe Tromondo, que ainda tocava baixo na banda nessa época, deva ter ficado nu também. Joe nunca precisou de convite pra tirar a roupa no meio do povo).

Era Natal, por Jah! O que tínhamos na cabeça? Enfim.

No caótico show da Úteros, lembro que dei um mosh meio mal-sucedido - não teve um filha da puta pra me segurar.

Minto. Teve Rivelino, brother da galera de Ipitanga, que na verdade, não me segurou. Eu que despenquei em cima do pobre coitado. Caímos juntos no meio da plateia. Acho que machuquei o ombro.

(Depois disso, nunca mais brinquei de dar mosh. Eu gostava mesmo era de curtir os shows da beira do palco, batendo cabeça).

Não tenho muita lembrança do show ter sido tão ruim da parte dos músicos. Não só eu ainda não tinha muita noção de porra nenhuma, como meu estado também não ajudava a manter o foco de atenção em nada.

Mas percebi que as execuções não estavam tão afiadas como nos shows do Mata Hari, por exemplo. Acho que o som tava meio pastoso. Minha boca também, assim como meu cérebro.

Na saída, percebi que tinha perdido meu relógio (depois disso, evitei usar relógios em shows de rock). Foi muita cachaça, então não lembro mais de muita coisa - nem de como voltei pra casa.

Só se tem 20 anos uma vez na vida.

3 comentários:

Old School disse...

Eu lembro desse cartaz ai da divulgacao desse show,mas nao fui.Q lembranca boa a Sound/Vision!Bom canal de discos,ai ja na era dos cds.
Por favor,alguem pode me informar o q aconteceu com Edson?Como estah essa figura?Muito gente boa e conhecia muito de rock!A ultima vez q falei com ele,me disse q tava indo morar em Brasilia,depois dai nao o vi mais.Espero q o maluco esteja com saude e feliz.
E aproveitando pra fazer um comentario tardio sobre o Mario Memoria parte 1,eu tava la naquele show do Nirvana no sambodromo,sabe q achei o show dos caras legal!Pelo menos ao vivo eu gostei.So nao sei se foi bom ou eu eh q tava ruim,hehe.

Franchico disse...

Valeu, Old!

Afro News disse...

Meu amigo Mario Jorge, grande abraço parceiro

Adenilton Cerqueira