quarta-feira, novembro 26, 2014

O EXTRAVAGANTE SOUVENIR DE UMA EX-ARTISTA DE RUA

Silvia Machete em foto de Arthur Nobre
No sempre concorrido cenário de cantoras da música popular brasileira, uma coisa difícil de se encontrar ultimamente é personalidade. A carioca Silvia Machete, felizmente, não sofre deste mal – e seu novo álbum, Souvenir, confirma isto.

Parece  que só há cantoras de três tipos: as animadoras de auditório (também são ótimas vendedoras de eletrodomésticos), as que  imitam Gal Costa abertamente e as que se revestem de uma aura de vanguardismo hype, mas que só convencem os muito jovens e / ou desinformados.

Silvia Machete, que chega agora ao quarto álbum, não se encaixa em nenhuma dessas três categorias.

“Isso é uma coisa boa. Mas pode ser traiçoeiro também, pois num mundo de rótulos, quando você não tem nenhum, acaba ficando fora da prateleira”, reflete a cantora, em entrevista por email.

“Acho que isso se deve pelo fato de ser sido  influenciada a nunca ser igual aos outros, pois cada um é de um jeito mesmo”, acrescenta.

Cantora afinadíssima e showoman capaz de entreter qualquer plateia com seu timing para bom-humor,  jogo de cintura e números de malabarismo aprendidos em anos atuando como artista de rua, Silvia mostra em Souvenir que, mesmo não fazendo parte de turmas ou movimentos, anda cada vez mais bem relacionada.

"Sim, toda a teatricalidade vem desse outro trabalho, eu uso praticamente tudo que a prendi na Rua, no palco. Foi uma grande oportunidade", confirma.

O álbum traz faixas compostas exclusivamente para ela por mestres como Moraes Moreira (Nada), Eduardo Dussek (Totalmente Tcha Tcha Tcha) e Jorge Mautner (Ba Be Bi Bo Bu), além de releituras inspiradas de Chico Buarque (Tatuagem) e Angela Ro Ro (Tango da Bronquite, com participação da autora).

Há ainda uma faixa autoral composta pela própria Silvia (2 Cachorros) e outras duas de autores portugueses muito conceituados além-mar: o trovador dos anos 1970 Sérgio Godinho (Espetáculo) e o roqueiro Jorge Palma (Trapézio).

O resultado é um álbum que, se não é o mais alegre e dançante de Silvia, ainda encanta o ouvinte pela versatilidade com que sua bela voz passeia por toda essa diversidade sem que a obra perca a unidade.

“Sim, fiquei satisfeita (com o resultado do CD). A gente se surpreende com as coisas e isso faz parte do processo”, diz.

“Mas não tenho um método. Sempre começa com uma única ideia e elas vão rodando, gerando outras. Depois você fica um tempo sem olhar muito, vendo de longe, até se envolver profundamente mais uma vez. Em algum momento verá que as peças estão encaixadas”, descreve Silvia.

Brasileiros e portugueses

Ela conta que conseguiu a participação de Moraes, Angela e Dussek da forma mais simples: “Fui atrás deles. Me identifico muito. São contadores de história, teatrais. A Ro Ro em especial, é uma figura feminina muito interessante. Compositora, performer, grande personalidade. A gente dá risadas”.

Já o encontro com o português Jorge Palma foi mais inusitado: “Ele é um pianista, cantor e compositor que veio num dos meus shows em Lisboa. Se empolgou e subiu no palco pra cantar. Não sabia quem ele era, mas o público sabia. Foi um sucesso”, relata.

Quando foi pesquisar o trabalho de Palma, se encantou com Trapézio, faixa que regravou em Souvenir.

“A música de Portugal é tão rica, assim como a poesia, a literatura em geral. O brasileiro é complicado, não liga pra quase nada, nem mesmo pros países vizinhos, pois acha que aqui tem tudo”, vê.

“Na verdade, os portugueses são tão melancólicos quanto a gente. O samba é muito triste também. Sabemos curtir um blues”, ri Silvia, que agora espera um convite para trazer o show de Souvenir a Salvador.

“Quero voltar! Alguém pode me convidar? Tem cenário, tem muitas novidades. Sempre tem, não vejo a hora de me apresentar aí novamente”, conclui.

Souvenir / Silvia Machete / Coqueiro Verde Records / R$ 19,90 / www.silviamachete.com / www.coqueiroverderecords.com

terça-feira, novembro 25, 2014

A ARTE POP E UNIVERSAL DE UM PIONEIRO DO GRAFITE BAIANO

15 anos após última individual, Miguel Cordeiro abre mostra hoje, no Palacete das Artes

Surgido como grafiteiro – pioneiro e irreverente – na cena urbana local em 1979, o artista visual Miguel Cordeiro estava há um bom tempo sem expor seu trabalho ao público.

Hoje, com a abertura da exposição Horizonte, ele exibe sua produção mais recente.

Em cartaz até fevereiro de 2015 na Sala Contemporânea Mario Cravo Jr. (Palacete das Artes, Graça), a mostra, com curadoria de Claudine Toulier, exibe 60 obras em técnicas como acrílica sobre tela e papel, colagens e stencil.

“São trabalhos mais recentes, feitos de um ano para cá. Eu trabalho permanentemente, mas realmente não exponho com frequência”, diz Miguel.

“A mostra surgiu de um convite  de Murilo Ribeiro (diretor do Palacete). A partir daí eu passei a produzir para a exposição, em dimensões maiores – muito embora eu trabalhe incessantemente para alimentar meu blog (miguelcordeiroarquivos.blogger.com.br)”, conta.

Aos 58 anos, o soteropolitano Miguel pode até não ser muito conhecido das novas gerações, mas já fez muito barulho em Salvador, quando começou a grafitar muros com críticas provocativas à classe média, através do personagem Faustino.

Miguel em 1985, em foto do A Tarde, coletada pelo blog reynivaldobritoartesvisuais
Ligado à cena roqueira de então, Miguel mostrava seu trabalho nos shows, de maneira informal.

Em 1985, fez sua primeira individual, no Museu de Arte da Bahia. Só em 1999 fez a segunda, na Galeria ACBEU (veja matéria do jornal A tarde sobre essa mostra aqui).

De lá para cá, só mostrou seu trabalho informalmente – e no blog, que começou em 2006. “Isso não quer dizer que eu evite expor. É que às vezes as condições não compensam”, diz.

Na verdade, Miguel credita a presente mostra justamente à repercussão do seu blog, no qual posta desenhos e ilustrações, sempre acompanhados de seus textos – ora sardônicos, ora surrealistas ou memórias.

“Com a internet você disponibiliza seu trabalho para milhões de pessoas, não depende dos meios tradicionais. Essa exposição é consequência desse trabalho desde 2006, no blog e no Facebook”, afirma Miguel.

“Com o blog, já fui compartilhado em vários sites internacionais de arte contemporânea, de street art e até no site de Bob Dylan”, afirma o artista.

Com forte influência da pop art e da cultura pop em si, a obra de Miguel dialoga com um mundo em constante transformação através de uma linguagem urbana e acessível, que evita ser óbvia ou acadêmica.

“Não trabalho com abstrato, sou  mais figurativo, mesmo. São observações que eu faço,  coisas que vejo no dia a dia”, define.

“Aí vou trabalhando em cima disso, faço uma abordagem visual sobre coisas que observo, filtradas por influências dos anos 1960 para cá, mas sem ser conceitual, esse lance que lida com simulacros. Tipo pendurar um cordão no teto e dizer que o universo se equilibra ali. Pô, é só um cordão, entende? Essa não é a minha. Isso é complicado pra caralho é torna a arte inacessível, hermética, cerebral demais”, acredita.

“Como Raul falava ‘eu não sou apenas o cantor’, eu não sou apenas um pintor. O barato são as múltiplas possibilidades. Está tudo dentro desse universo de expressão, desde 1979, quando fazia grafite, fanzines, cartaz para shows”, observa.

"Eu tenho essa facilidade de me expressar dessa maneira, nessa arte pós-anos 1950, multidisciplinar. Eu moetrava meu s trabalhos em shows de rock e venho madurecendo desde 1979, quando comecei o Faustino, que era uma coisa absurda para a época. Xerox, arte postal, música, grafite, fanzine, internet, é um processo longo, que pode ser percebido nessa mostra", acrescenta Miguel.

Além de quadros, Horizonte exibe banners com gravuras digitais, que reproduzem  posts do blog. Outra atração é uma sala onde o artista reproduz seu trabalho de grafite, “com alguns Faustinos e stencils”, conta.

De postura ferozmente independente (não à toa, é amigo pessoal e parceiro eventual de Marcelo Nova desde os anos 1970), Miguel acredita que, mesmo assim, sua atividade pode ser economicamente viável – mesmo na Bahia, onde o QI (Quem Indica) costuma ser a regra.

"Não quero ficar reclamando, não. Cada um sabe o que faz”, despista.

“Aquele papo ‘ah, aqui é uma merda, não tem galeria, as que tem não convidam’ é complicado. É um mercado muito complexo", observa.

"Às vezes, o cara ser independente não significa que não possa estar inserido no mercado. No rock é assim, bandas independentes podem ser bem sucedidas, independente de mercado”, conclui.

HORIZONTE, de Miguel Cordeiro / Abertura amanhã, 19 horas / Palacete das Artes / Graça  / Até 22 de fevereiro de 2015, de Terça a sexta, das 13h  às 19h / Sáb, dom e feriados, 14h às 19h

sexta-feira, novembro 21, 2014

O CONCERTO DA DIÁSPORA

Orquestra Sinfônica da Bahia se apresenta com compositor africano Ray Lema domingo, no Teatro Castro Alves

Lá fora chove, mas faz certo calor na sala de ensaios da Osba, no Teatro Castro Alves.

A música é apropriada, com passagens rápidas em stacatto, a melodia remetendo  a certa melancolia.

O maestro convidado João Maurício Galindo (Orquestra Jazz Sinfônica - SP) se dirige aos músicos: “Essa música, São Tomé, se refere a um porto na África de onde escravos eram despachados para cá. Então é um lamento, uma música triste, tá”?

Os músicos voltam ao trecho e o maestro quer mais: “Perfeito, mas pode ser mais dolorido?”, pede.

Findo o ensaio, o homem negro e alto ao piano aplaude e agradece. Ray Lema, o compositor de São Tomé, é a atração, junto à Osba, do concerto de encerramento da Série TCA 2014, neste domingo.

Sentado no foyer do TCA para uma entrevista exclusiva, Lema elogia a performance da nossa Orquestra Sinfônica da Bahia.

“Já toquei esse mesmo repertório com orquestras na França e na China”, conta.

“Mas com os músicos baianos foi muito mais fácil. O groove é mais pronunciado, pois eles tem todas essas influências locais, o que faz uma diferença enorme. Estou muito feliz – e olha que foi só o primeiro ensaio”, afirma.


220 tribos, 220 tradições

Nascido no antigo Congo (atual Zaire) em 1946, Lema vive em Paris há mais de 30 anos.

Esteve em Salvador pela primeira vez há uns vinte, participando de um festival. “A cidade mudou demais”, nota, arregalando os olhos.

“Só reconheci o Pelourinho. Todo o resto está muito diferente”, percebe.

Ele e o maestro Galindo já se conhecem de outra ocasião: “Em 2009, no Ano da França no Brasil, eu fiz esse concerto em São Paulo, com a Orquestra Jazz Sinfônica. A embaixada francesa ofereceu vários compositores para eles, aí o Galindo escolheu a mim e o (acordeonista) Richard Galiano”, conta.

Aluno seminarista na infância, Lema logo chamou a atenção dos padres por um outro  dom divino: “Eles decidiram que eu tinha um dom para a música, então foi assim que me tornei músico: na igreja”, conta.

Em 1974, Lema percorreu centenas de tribos do seu país, conhecendo as tradições musicais de cada uma.

“Mobutu (Banga, ditador do Zaire), queria um balé nacional. Fui indicado como diretor musical e enviado nessa missão para recrutar músicos tradicionais das tribos. A experiência mudou minha vida para sempre e me tornou quem  sou hoje”, relata.

“O Congo (sic) é quatro vezes e meia o tamanho da França, com 220 tribos diferentes e 220 tradições musicais. É um universo gigantesco”, observa.

Em 1979, ganhou uma bolsa da Rockefeller Foundation e foi estudar nos Estados Unidos: “Morei lá um tempo, mas  fugi da América. Venho de um país colonizado. E é isso que a América faz com o mundo hoje”.

“Eles impõem suas visões e cultura, mas só se enfraquecem, pois acreditam ser auto-suficientes. O colonizador não toma conhecimento do colonizado. Mas o colonizado estuda tudo do colonizador. Nós sabemos tudo da América, mas a América só sabe de si mesma, por isso somos mais ricos”, observa.

Ray Lema e Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA) / domingo, 20 horas /  R$ 140 e R$ 70 (filas A a P); R$ 110 e R$ 55 (Q a Z) e R$ 80  e R$ 40 (Z1 a Z11)


DOSE DUPLA DE POSCAST ROCKS OFF E A VOLTA DAS DICAS EM PLUTÃO, DA VANDEX TV

Rammstein ao vivo em 2013
Neste podcast, Osvaldo Braminha Júnior e Nei Bahia recebem (lá eles) este blogueiro para mais uma session novidadeira (ou nem tanto).

Rola Bowie, Tom Zé, Medeski Scofield Martin & Wood, Michael Kiwanuka, Prince, os alemão alucinado do Rammstein e o caralho, véio.

Se liga'í.



 




Jack Bruce em foto enviada direto do paraíso, fazendo seu som
Já neste outro aqui, Nei Bahia e Osvaldo Braminha Júnior prestam sua homenagem ao grande John Symon Asher "Jack" Bruce.

Sim, ele, o overfodástico master cantor e baixista que se notabilizou à frente do Cream: Jack Bruce, que nos deixou no último dia 25 de outubro.








E aqui embaixo, o programa Dicas em Plutão, da Vandex TV, de volta, com este desajeitado blogueiro à frente do video, resenhando a estreia solo de Ordep Lemos, um nome fundamental no rock baiano.


quinta-feira, novembro 20, 2014

CIRCO DE MARVIN INJETA FRESCOR EM ESTILO ESGOTADO E IMPRESSIONA PELA POSTURA

Circo de Marvin, foto Igor Souza
Faz tempo que o colunista blogueiro não vê / ouve, no autoindulgente rock baiano, uma banda tão talhada para o sucesso pop quanto a Circo de Marvin. A questão nem é originalidade. Longe disso.

O som que eles fazem – funk rock linha Red Hot / Charlie Brown Jr. – não é novidade há mais de vinte anos.

A diferença é que o quarteto, liderado pelo vocalista Bruno Souri, faz esse som velho de guerra tanto com personalidade quanto com pegada pop, acessível a qualquer FM local, se essas tocassem música independente.

Impressionado pela qualidade do clipe que eles andaram divulgando, da faixa Só Eu Sei, o colunista ligou para Bruno, esperando conversar com o típico surfista /skatista doidão, que não fala coisa com coisa.

Eu não poderia estar mais errado: “Estamos começando a jornada agora, temos dois anos de banda e, desde o início, nossa preocupação é fazer as coisas bem feitas”, começou o rapaz.

“Nosso objetivo é levar nosso som para fora, além da Bahia. Queremos fazer parte de nova cena do rock brasileiro. Temos isso bem claro e acho que temos som, temos o que dizer para a galera”, acrescentou.

Achou pouco? Sente só o discurso pronto do artista: “Acho que a gente, por ter uma cena de rock meio fragilizada, com poucos espaços e incentivos, eu vejo muito mais como uma oportunidade  de recomeçar das cinzas e fazer algo grandioso”, diz.

“Muita gente reclama dos festivais, da estrutura, da qualidade das bandas. Eu falo: ‘cara, pegar as coisa prontas é fácil’. Se tivéssemos uma cena forte, talvez fôssemos só mais um. Ao contrário, temos que encarar como oportunidade de refazer do nosso jeito”, afirma.

“E dessa perspectiva, temos metido as caras mesmo. Nunca nos sentimos prejudicados, menos ou mais do que realmente somos. Tem que ser pé no chão. E se não existe um público que comparece, vamos conquistar, com nosso som e nossa atitude, dentro e fora do palco. Rock 'n' roll é isso”.

Tomou, papudo?



Lero-lero esclarecido

Poxa, se esse rapaz tão articulado fosse candidato a alguma coisa, meu voto ele já tinha.

Com um EP de sete faixas já lançado, a Circo de Marvin transita em um estilo que, quando pariu sua segunda geração (Korn, Limp Bizkit), ainda nos anos 1990, já parecia acabado, esgotado.

Mas o quarteto baiano, por incrível que pareça, injeta frescor no funk rock de branco que caracteriza o gênero com uma abordagem leve e boas dinâmicas entre as levadas de baixo e os riffs de guitarra.

Em dois anos de banda, a CdM saiu da garagem para shows em Recife, BH, Ouro Preto, Santos e Juazeiro.

Mas e esse lero-lero todo esclarecido de Bruno, da onde saiu isso, cara?

“É que eu sou formado em Comunicação (Propaganda)”, conta. Ah, tá!

"O lance é que não adianta ficar chorando 'ah São Paulo que é massa'. A gente já teve a oportunidade de tocar lá e fomos bem recebidos, mas por que não fazer algo aqui? Vamos pagar o preço! Costumo dizer que é curioso, por que vi até na faculdade o pessoal falando de mercado, que 'o mercado de Salvador é complicado para qualquer coisa'. Então o que dá certo aqui, dá certo em qualquer lugar. Tenho isso em mente e conversamos com as pessoas daqui que acham legal nossa banda, então podemos fazer isso no Brasil todo. O lance é que a cena no Brasil todo está bem frágil. Mas nossa mentalidade é que isso não é tipo uma desgraça lamentável, e sim uma oportunidade de refazer a coisa toda e puxar o bonde", reflete.

“Vamos lançar nosso primeiro álbum no primeiro semestre de 2015. Estamos conversando com os produtores mais rodados da cena, ainda vamos decidir. O que posso dizer é que vem coisas bem legais por aí em termos de conceito de álbum e clipe. Estamos com tudo bem fechadinho e o disco já tem título: Modo Hard”, avisa Bruno.

Além de Bruno (de camisa vermelha na foto), a CdM é Fabio Vilela (gtr) Yuri Oliver (bx) Marcelo Estevão (btr).

www.circodemarvin.com.br

Em tempo: esses meninos andam com tanta moral que até fã famoso já arrumaram. Olha o depoimento dele aí embaixo:



NUETAS

Tropicais e selvagens

Todas as quintas-feiras de novembro tem o duo Tropical Selvagem com convidados no Cabaré dos Novos do Teatro Vila Velha. Semana passada foi Manuela Rodrigues. Nesta tem Rebeca Matta e Luvebox FX. Semana que vem  é Tuzé de Abreu. 20 horas, R$ 30 e R$ 15.

Cometa loucuras

Separe sua camisa de força: Pancreas, Intrusos, Professor Doidão & Os Aloprados e Overdose Alcoólica fazem a festa The Crazy Rocks. Sexta-feira, Dubliner’s, 22 horas, entrada grátis. Loucura perde.

Laia e Fao no sábado

O power trio avant garde Laia Gaiatta e a cantora Fao Miranda seguem desenvolvendo um novo trabalho  em temporada no Teatro Gamboa Nova. Sábado, 20 horas, R$ 20 e R$ 10.

terça-feira, novembro 18, 2014

REIS DO DEATH METAL NORDESTINO HOMENAGEADOS NO BRASIL E EXTERIOR

Reconhecimento Headhunter DC, de Salvador, ganha disco-tributo em dois volumes

Rapaziada da Headhunter DC no ossuário de Sedlec (Rep. Tcheca), em 2013
Um dos maiores nomes da música extrema da América Latina, a banda baiana de death metal Headhunter DC é admirada pelos apreciadores do estilo não só no Brasil, mas mundo afora – mesmo.

Após uma bem-sucedida primeira turnê europeia em 2013, o grupo é agora homenageado com um álbum-tributo em dois volumes.

Prática comum no rock desde os anos 1990, os álbuns-tributo costumam trazer bandas e artistas gravando canções de determinada banda ou artista que se quer homenagear.

Lançado pelo selo paulista Mutilation Records, o tributo ao Headhunter tem um título longo e com reticências, como já é tradição nos discos da banda: Born to Punish The Skies... A Deathmetallic Brotherhood in Darkest Mourning for God: Tribute do Headhunter DC.

Mal traduzindo: Nascido para punir os céus... Uma irmandade deathmetálica no mais sombrio luto por Deus: Tributo ao Headhunter DC – título mais do que coerente com a ideologia anticristã (ou melhor: antirreligião) da banda.

“A ideia partiu do dono da Mutilation Records, o Sérgio Tullula”, conta o vocalista da Headhunter, Sérgio Baloff Borges.

“Ele já tinha essa ideia há uns três anos. Aí um dia ele comentou que já estava mais do que na hora de rolar esse tributo. Fiquei honrado, claro”, acrescenta.

Dividido em dois volumes, o disco um saiu no mês passado e conta com 17 bandas do Brasil e do mundo fazendo releituras de músicas pescadas dos cinco álbuns da banda, lançados desde 1991.

O volume dois, segundo Baloff, “sai no primeiro trimestre de 2015”.

“É um projeto complicado, por que você lida com muitas bandas e fica dependendo da agilidade delas. Só esse volume um levou um ano e meio para ficar pronto”, conta.

Se vacilar, sai um terceiro

Quem acabou coordenando toda a produção foi o próprio Baloff, que convidou bandas com as quais o Headhunter tem afinidade: “São bandas que tem um elo com a gente – ideológico e musical”, define.

Com o tempo, a notícia da organização do tributo acabou se espalhando na comunidade death / black metal: “Inicialmente, seria um volume só. Mas foi tanta banda entrando em contato, querendo participar, que tivemos que fazer em dois volumes. Se vacilar, sai até um terceiro”, diverte-se.

Em dezembro, o Headhunter toca no maior festival de música extrema do Brasil
Das dezessete bandas do  volume um, doze são brasileiras: Inner Demons Rise, Eminent Shadow, Decomposed God, Malefactor, Poisonous, Pure Noise, Bastard, Queiron, Holder, Insaintfication, Unborn e Nervo Chaos.

Há ainda uma alemã (Revel in Flesh), uma holandesa (Funeral Whore), uma polonesa (Embrional), uma chilena (Demonic Rage) e uma norte-americana (Dead Conspiracy).

"Na sua maioria, são bandas de death metal mesmo. Mas tem de outros estilos, como a Pure Noise, de Vitória da Conquista, que faz noise core, um estilo bem 'anti-música', que pegou uma faixa de nosso primeiro álbum, que é mais ou menos do mesmo estilo deles. No segundo volume vai ter uma banda de black meta, que tocal sem deixar de ser death, mas é bem legal, a Eternal Sacrifice, daqui de Salvador. Não é bairrismo termos quase que só bandas de death, mas é que tem mais a ver", detalha.

"Até acho que seria bem interessante ver uma banda de heavy metal tradicional fazer um cover nosso, mas como costumo me referir a este tributo, ele meio que uma congregação de death metal. É mais que um tributo: é uma celebração ao death metal em si", define Sérgio.

"As bandas de fora do Brasil são bandas com quem já tenho contato há há alguns anos, como a Dead Conspiracy (USA), de quem eu já era fã em 1988, tinha demo tape deles, era fanático pelo som deles. Então é interessante hoje eles participarem de um tributo para gente. Fiquei muito honrado com a banda da Alemanha (Revel in Flesh), que fez uma versão foda que abre o disco. Mas no geral fiquei bem satisfeito com todas as bandas. Agora, como são bandas diferentes, gravando em estúdios diferentes, você sente diferenças de gravação e de qualidade. Aí o que a gente faz é nivelar os volumes, para não ficar um mais baixo que o outro. Fora isso, não mexemos em frequência nenhuma. Basicamente, o volume e damos uma masterizada para dar uma encorpada no som, mas não mexemos em mais nada. Foi tudo masterizado e compilado aqui mesmo em Salvador. A coordenação foi toda minha", continua Sérgio.

Obsessão com reticências

Palavras de Jeff Becerra (Possessed), no encarte do tribute
"A concepção da capa que fizemos com o Juanjo, que já tinha feito a capa do nosso último CD, um trabalho fantástico dele aliás. A ideia foi justamente pegar elementos de cada capa de nossos discos ficou bem interessante. Agora, essas reticências no título é meio uma obsessão minha. Não tem muita frequência essa sua pergunta, aliás. É como se fosse um sentido de continuidade, mesmo. Tenho obsessão com reticências. Nosso único disco que não tem reticências no título é o segundo, que foi do nosso ex-baixista. Se fosse meu...", ri Sérgio.

"Sim, é coisa de louco obcecado, mesmo. Tenho obsessão com reticências e os números 13, 7 e 666", conta.

No encarte, o vocalista e baixista Jeff Becerra, pioneiro do death metal com a banda californiana Possessed, elogia o Headhunter: “Banda incrível, de estilo old school e avant garde ao mesmo tempo, serei sempre fã e tenho sorte de ser um irmão para eles”, escreve.

"Pô, esse cara do Possessed é o pai do death metal. Ele deu um depoimento por que é meu amigo pessoal mesmo. Já dividi o palco com ele em 2008, fui no show deles ano passado em São Paulo. Fiquei mais do que honrado com as palavras dele", agradece Sérgio.

Parceiro de cena baiana, Lord Vlad, da Malefactor, ecoa as palavras do americano: “Esse próprio disco-tributo já é a prova do que te digo: se não fosse brasileira – ou melhor: baiana – o Headhunter teria muito mais reconhecimento”, afirma.

"No nosso caso, escolhemos uma musica que é mais diferente até para eles mesmos, pois é mais cadenciada, não tão acelerada. Não foi fácil, mas ficou mais plausível. Ficaria forçado fazer alguma faixa que não tem nada a ver com a gente", conta Vlad.

Com seu último álbum (In Unholy Mourning..., 2012) lançado na Europa pelo selo alemão Evil Spell, o Headhunter não para.

“De sábado em diante tocamos todo fim de semana até o fim do ano. Dia 22, Boqueirão Rock Metal Festival (Cícero Dantas). Dia 30, no Festival Suiça Baiana (Vitória da Conquista). Dia 6, no Bahia Metal Festival (Alto do Andú, Salvador). E dia 14, no Zoombie Ritual Open Air (Rio Negrinho - SC). O culto não para”, avisa Sérgio.

Born to Punish The Skies...  Tribute to Headhunter DC Vol.1 / Vários artistas / Mutilation Records / R$ 22 / Vendas: www.facebook.com/HeadhunterDc



segunda-feira, novembro 17, 2014

PODCAST ROCKS OFF BOTA ROGÉRIO BIG NA RODA

Rogério Big. Foto Rafael Flores (Gambiarra)
Nei Bahia, Osvaldo Braminha Júnior e Miguel Cordeiro botam o grande (em mais de um sentido) Rogério Big Bross Brito na roda para falar de rock baiano, produção, selo independente, festivais, publico (ou falta de), postura e todos os perrengues passados em mais de vinte anos batendo cabeça nessa luta inglória – mas se não fosse ele, hein?....

O que seria do rock baiano?

Pois é.

Ah, não sabe de quem se trata?

Saiba.

Aqui, ali e acolá.




Parte 1



Parte 2


quinta-feira, novembro 13, 2014

ZONA DE OUTRAS TENDÊNCIAS

Festival: Quinta edição do Zona Mundi traz shows Largo Teresa Batista. Seleção de artistas nacionais e locais refletem a nova música brasileira

Metá Metá: hypado, trio de SP faz o show Metal Metal, mistura afro jazz rock
A Bahia, que não costuma receber shows internacionais relevantes, tem uma cena de festivais igualmente claudicante.

Felizmente, graças a alguns poucos obstinados, vez por outra algo acontece, como o Zona Mundi, que chega a quinta edição a partir de amanhã, no Pelourinho.

O obstinado aqui é o músico Vince de Mira, que, a frente da produtora Maquinário, organiza o Zona graças ao apoio (via edital) da Petrobras Cultural.

Nesta edição, as atrações principais de fora do estado são a cantora carioca Bárbara Eugênia, o trio paulista Metá Metá, BNegão Trio (RJ) e a banda olindense Academia da  Berlinda.

As atrações locais são igualmente interessantes: Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta, Junix_11 & Rafa Dias, Ifá Afrobeat e Vince de Mira & O Batuque do Vigia.

Vince de Mira por Carol Garcia
“Aos cinco anos, o festival está mais consolidado do que nunca”, afirma Vince.

“Claro que tem potencial para ser maior. Mesmo assim, estamos sempre de orelhas em pé, correndo para cumprir metas – nossas e dos patrocinadores”, diz.

Com curadoria do próprio Vince, ele conta que “todos os anos vamos mapeando o que tem de interessante sendo produzido, como o Metá Metá, que  agora se apresenta em Salvador com a  formação completa”, conta.

“Bárbara Eugênia é a primeira vez que vem. Tem uma linha que a gente segue mesmo, em relação as experiências contemporâneas, com artistas como IFÁ, BNegão, Rafa Dias (que é do do grupo A.MA.SSA), Junix, caras que tem referências de música contemporânea e que misturam várias linguagens no som. Bandas que transformaram muito seus sons desde o acesso aos novos plugins, os novos softwares. A gente tenta pegar dai em diante. A ideia é tentar entender e misturar esse nichos, pensar essas tendências da nova música brasileira”, diz.

O Zona também foi a oportunidade para o produtor finalmente estrear ao vivo seu próprio trabalho, Vince de Mira & O Batuque do Vigia.

"É, meu show demorou pra caramba. Agora é unir o útil ao agradável. É até mais sincero estrear no contexto de um festival com um trabalho novo do que fazer logo um show só meu. Não que eu não queira, mas neste momento, tocar num festival com boa estrutura é bacana pára qualquer banda. Vai ser um show relâmpago, de 40 minutos", conta Vince.

Bárbara com Cascadura
Bárbara canta com Cascadura. Ft: Marcos Vilas Boas
Elogiada pela crítica, badalada pelo público, Bárbara conta que realmente, é difícil para artistas independentes viajar pelo país.

“Comecei a viajar mais  com o segundo disco (É o que temos - Oi Música, 2013). Só agora estou chegando ao Norte  e Nordeste”, conta.

Artista de difícil classificação, a cantora autodefine seu estilo como “rock canção”.

“É um termo que explica bem, pois não faço o rock tradicional, mas também não é pop simples. São canções, com uma coisa romântica. Rock canção explica um pouco”, afirma.

No show em que Bárbara fará músicas dos seus dois álbuns, a cantora contará com o auxílio luxuoso da banda local Cascadura. Por questões de agenda, seus músicos de São Paulo não poderão vir.

“Mandei um email pra Márcia Castro, ‘preciso de uma banda em Salvador’ e tal, e  ela me passou o contato dos meninos”, relata.

Ronei: possível novo álbum dos Ladrões no futuro

Edinho, Pedrão, Kopinski e Ronei: disco novo no futuro dos Ladrões de Bike?
Um dos maiores nomes do cenário alternativo local, a banda Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta volta aos palcos após um bom tempo afastado.

“Vamos tocar umas três músicas novas. Duas são parcerias com Edinho (Rosa, guitarrista)”, conta Ronei.

Bastante ativa na década passada, a banda acabou em 2010, após dois álbuns elogiados até nacionalmente. Voltou em 2013, mas sem pressão.

"Estamos operando em ritmo tranquilo, é como se fosse um recomeço. A gente acabou, voltou, teve aquele show da volta que foi um reencontro com os caras e as músicas já conhecidas. Esse agora a gente já vai experimentar algo novo, já pensando em disco novo, mas ainda é tudo muito embrionário", diz.

“Não descarto (lançar um disco novo), não. É um desejo natural dos quatro membros gravar algo mais. Estamos montando repertório novo. O disco do Tropical Selvagem (duo de Ronei com João Meirelles) deve sair antes, por que está mais encaminhado, já fez bastante show. Ano que vem devemos lançar um EP. E os Ladrões, quando tiver tudo engatilhado vamos correr atrás”, diz.

"A Ladrões estava parada, aí foi a oportunidade de começar a desenvolver outras coisas, trilhas, esse trabalho com João (Meirelles, com Ronei forma o duo Tropical Selvagem), que é algo completamente diferente dos Ladrões. Dá vazão a outro tipo de trabalho", observa.

"O lance é que eu tô muito querendo desenvolver o que me for permitido: música, cinema etc. Como surgiu essa oportunidade trabalhar com João, para mim é ótimo, como também é ótimo trabalhar com os Ladrões ou até tocar com outras pessoas. É uma coisa de desenvolver múltiplas trajetórias e possibilidades artísticas, todas são enriquecedoras para caramba. Os Ladrões é uma banda que já trabalho há muito tempo e a gente se encontra e faz shows. Se surgir a possibilidade de fazer um terceiro disco é bom também, mas tudo relax, no nosso tempo", conclui.

BNegão homenageia Dorival

BNegão Trio: MC, DJ e trompetista. Foto: Felipe Diniz
Outra atração bastante esperada é o BNegão Trio, liderado pelo rapper carioca que se notabilizou nacionalmente nos anos 90 ao dividir a frente do Planet Hemp com Marcelo D2.

Formado por BNegão, DJ Castro e Pedro  Selector (trumpete), o show do Trio terá homenagem a um baiano: “Independente do lugar que estivermos no planeta, costumamos encerrar nossas apresentações com uma homenagem feita de coração, ao mestre dos mestres, Dorival Caymmi”, conta o rapper.

Um dos principais talentos do rap brasileiro, BNegão costuma agradar não só ao público do hip hop, já que foge aos clichês do gênero.

“Tem sempre coisa nova e improvisos. O show é baseado em músicas que gravei ao longo do tempo”, diz.

“Uma coisa é certa: as frequências graves (cortesia do nosso DJ Castro) dominam o ambiente. A questão principal é sempre se o público comparecerá ou não. E, no nosso caso, o pessoal costuma sempre chegar juntis”, conclui.

Zona Mundi 2014

13/11 (quinta), 14h:  Mesa redonda: “Música periférica, mercado em desenvolvimento”. Participantes: Augusto Jobim e DJ Branco. Local: auditório do Instituto Mauá (Pelourinho), entrada gratuita.  

13/11 (quinta),  14h: Workshop:  “A utilização dos meios de produção como linguagem de ressignificação da música periférica (ritmo, timbres    e ambiências)”,  com Junix_11 e Rafa Dias. Local: Palco da Praça Pedro Archanjo (Pelourinho), entrada gratuita.

14/11 (sexta), 20h: Junix_11 e Rafa Dias, Ifá Afrobeat, Metá Metá, BNegãoTRIO


15/11 (sábado), 20h: Vince de Mira & O Batuque do Vigia, Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta, Bárbara Eugênia, Academia da Berlinda. Shows no  Largo Teresa Batista / www.facebook.com/zonamundi / R$ 20 e R$ 10

BÔNUS: 4 PERGUNTAS PARA BNEGÃO

Como vai ser o show em Salvador? Material dos dois discos, mais alguma coisa - inédita, improviso?...

BNegão: Tem sempre coisa nova e improvisos, nas apresentações do Trio, mas o show é baseado em músicas que eu gravei ao longo do tempo. Isso inclui as versões originais de "Enxugando Gelo" e "Dorobo", por exemplo ( nos Seletores, fizemos versões pra banda tocar), e versões completamente diferentes de "Bass do Tambô" e "Essa é Pra Tocar no Baile".Tem também uma versão de "Sorriso Aberto" ( imortalizada pela mestra Jovelina Pérola Negra), que fiz com meus irmão do Digitaldubs, aqui do RJ.  E, dentro disso tudo, uma coisa é certa: as frequências GRAVES (cortesia do nosso Dj Castro) dominam o ambiente. E, sempre, independente do lugar que estivermos, no planeta, costumamos encerrar nossas apresentações com uma homenagem feita de coração, ao mestre dos mestres, Dorival Caymmi.

É uma formação bem inusitada, a do BNegão Trio. Surgiu naturalmente ou foi algo pensado para ser exatamente assim? Por que trompete especificamente – e não flauta ou sax, por exemplo?

BN: Surgiu naturalmente. Na verdade, o trio remete ao início dos Seletores de Frequencia: quando eu tive a idéia de fazer o meu trabalho solo (que depois acabou virando uma banda, da qual eu sou o líder), ele começou comigo e com o Kalunga (baixista dos Seletores, nessa época, como MC),e um dj convidado, no caso o Negralha (que toca com os meus irmãos d'O Rappa). Essa foi a formação do primeiro show. Quando rolou o convite pro segundo, já pensei no Pedro (Selector), pra somar, pela versatilidade e estilo que muito me agrada. A gente já tinha tocado junto na formação final do Funk Fuckers. Depois disso, à cada show, foi entrando um integrante, até a banda se formar por si só, sem uma idéia pré-concebida. O Trio é meio que essa raiz dos Seletores. 

Foi um intervalo bem longo entre seu primeiro e seu segundo álbum. Ainda assim, sei que vc não para de trabalhar com outros artistas e projetos (aliás, sensacional seu trabalho com os Autoramas). Para quando podemos esperar um novo álbum seu com os Seletores? Há alguma previsão?

BN: O intervalo entre um disco e outro foi longo, mas a nossa caminhada é muito singular, realmente fora dos padrões: Lançamos o "Enxugando Gelo" em novembro de 2003, daí começamos à fazer vários shows médios e grandes na Europa, sendo o ponto alto, uma apresentação (retumbante) no Roskilde Festival de 2006, na Dinamarca. Neste mesmo ano, o disco começou à pegar aqui no Brasil (!), o que nos fez ficar por aqui mesmo, fazendo shows incessantes,sendo que o auge dessa fase foi o nosso show no Festival SWU, em 2010! Daí lançamos o "Sintoniza Lá" no segundo semestre de 2012,e estamos preparando o segundo videoclipe desse disco (da faixa "Essa É Pra Tocar no Baile" ) apenas agora, uma coisa completamente fora do que são as regras do "mercado fonográfico". Dito isso, te escrevo que sim, é muito provável que lançemos um disco novo, no ano que vem. Estamos preparando um disco de música instrumental também...enfim: aguardem as cenas dos próximos capítulos.

Ainda nessa questão: para um artista dinâmico como vc, gravar álbuns ainda é uma prioridade? Ou é mais uma formalidade para vender shows?

BN: Eu não entendo muito essa questão de não se fazer mais discos. Eu amo esse formato,e o nosso público também. Nós temos idéias e estofo pra fazer um trabalho desses, que são quadros daquele momento específico da vida, da nossa visão particular do mundo.Eu gosto dessa idéia de ter uma sequencia de músicas, uma arte visual e tudo mais. Acho que isso define um trabalho. Sobre a questão de marcar shows ou não, existem sim alguns poucos lugares que ainda estão atrelados à essa questão de só fazer shows à partir dos discos novos, mas a maioria independe disso. A questão principal é sempre se o público comparecerá, ou não. E, no nosso caso, o pessoal costuma sempre chegar juntis.

terça-feira, novembro 11, 2014

PODCAST ROCKS OFF DISSECA A NEW WAVE

Nei Bahia, Miguel Cordeiro e Osvaldo Braminha Jr. passam gel com purpurina (esse aí do lado) nos cabelos (?) e vestem suas roupas de cores cítricas para dissecar a New Wave.












Bônus: meu disco preferido do período.


NETO LOBO & A CACIMBA EVOLUEM EM ÓTIMO 2º ÁLBUM, MEU PÉ DE UMBU

Neto Lobo, Sidnei Rasta (btr), Duda (gtr),  e Jonatas (bx). Foto Natalia Cardoso 
Entre os muitos talentos surgidos no interior da Bahia nos últimos anos, dois artistas solo se destacam pela absoluta consistência de seus trabalhos: Ayam Ubrais, de Ipiaú, e Neto Lobo, de Senhor do Bonfim.

Ambos já foram vistos nesta coluna e, agora, Neto retorna, lançando seu segundo álbum, Meu Pé de Umbu, com um show amanhã, no 30 Segundos Bar.

Enquanto Ayam é mais roqueiro e psicodélico, Neto é mais pop e apegado às raízes nordestinas – e Meu Pé de Umbu reforça ainda mais essa valorização desde o título, já que o umbuzeiro é apontado por Euclides da Cunha como uma espécie de árvore sagrada da caatinga, em Os Sertões.

O legal é que, mesmo com toda essa nordestinidade presente nos temas, nas letras e na interpretação de Neto,  o som que se ouve no disco é urbano e cosmopolita, com direito a guitarras roqueiras e timbragens eletrônicas coerentes, na medida certa, que não  brigam com a concepção do artista.

Ponto, mais uma vez, para um dos produtores mais competentes atuando na Bahia, quiçá no Brasil: andré t.

“Sim, os arranjos mudaram um pouco, estão mais maduros. Desde o início, a ideia era unir os elementos da cultura do interior com as possibilidades do mundo”, conta Neto.

“Por isso esse entrosamento com andré foi interessante. Deixamos ele trabalhar da forma dele. Mostramos nossas ideias, ele absorveu e colocou o que ele achou adequado, como teclados e sons eletrônicos”, diz.

Meu Pé de Umbu demonstra, de forma definitiva, o talento impressionante de Neto, um cara que escreve letras belíssimas e sabe interpretá-las de acordo, com o registro de voz variando em sintonia com o clima da canção.

Se na estradeira Rock de Tabaréu sua voz é mais suave, na roqueira Oh Deus!, ele rasga a garganta. “Tem essa variação que as músicas pedem, não tinha como fazer de outra forma”, observa Neto.

Gravado com recursos via edital da Funceb, o CD está a venda nas lojas Midialouca e Pérola Negra.

“6 de dezembro tocamos em Aracaju, dia 7 no Domingo de Cabeça Pra Baixo e em janeiro,  no evento Conexão Nordeste, no Circo Voador (Rio de Janeiro)”, anuncia o artista

Neto Lobo e a CacimBA / Lançamento do CD Meu Pé de Umbú / Amanhã, 20 horas / 30 Segundos Bar (Rua Ilhéus, 21, Rio Vermelho) /  R$ 10 (CD incluído)



NUETAS

Zona Mundi 2014

Barbara Eugênia, foto Ali Karakas
O  Zona Mundi (5ª edição) traz shows ao Largo Tereza Batista: Junix_11 e Rafa Dias, Ifá Afrobeat, Metá Metá e BNegão Trio na sexta. Sábado tem Vince de Mira & O Batuque do Vigia, Ronei  Jorge & Os Ladrões de Bicicleta, Bárbara Eugênia e Academia da  Berlinda. 20 horas, R$ 20 e R$ 10.

Quanto Vale de hoje

O som eletrônico-industrial da Modus Operandi e a banda Flauta Vértebra são   as atrações de hoje do evento Quanto Vale o Show? 18 horas, free.

Cascadura Camaça

Cascadura leva seu show comemorativo de 22 anos à Camaçari com os paulistas da banda Alarde, mais os locais Código em Sigilo e Eu & Sofia. Sexta-feira, Espaço Cultural Casa de Taipa, 21 horas, R$ 15.

segunda-feira, novembro 10, 2014

O OUTONO DO VELHO SAFADO

Charles Bukowski, foto Richard Robinson - Black Sparrow Press
Para alguém que passou a maior parte da vida bebendo como se não houvesse amanhã, chegar aos 70 anos é um feito considerável.

Charles Bukowski (1920-1994) sabia bem disso e, quando chegou à essa idade,  comemorou o drible que deu na morte publicando o livro Miscelânea Septuagenária.

Composto de contos e poemas até então inéditos, o volume não versa exatamente sobre questões profundas como a passagem do tempo ou a velhice.

E nem poderia: este não era o estilo do Velho Buk.

Não que o autor, nascido na Alemanha e criado em Los Angeles, não tivesse lá seus momentos mais meditativos.

Na verdade, sensibilidade não lhe faltava. Só que, a exemplo de um de seus ídolos, Ernest Hemingway (1899-1961), Bukowski revestia sua prosa de uma secura de dar inveja em qualquer dry martini.

Com seu estilo direto, sem rodeios, anavalhado, ele confundia sua vida de bebum californiano devasso, fã de música clássica, com seus contos e poemas sem rimas ou métrica.

Sua obra é habitada por beberrões, vagabundos, gente sem noção e mulheres vulgares, quase sempre envolvidos em confusões e brigas de soco em becos escuros, além da luta pela sobrevivência em subempregos desumanos.

Um típico escritor filho da Grande Depressão e da 2ª Grande Guerra.

Linda e Charles Bukowski em foto exposta em 2011 na Huntington Library
Em Miscelânea Septuagenária, o Velho Safado, como era conhecido, reuniu material engavetado que contém todos estes elementos e outros, como sua paixão pelas corridas de cavalo e seu desprezo pela geração contemporânea de escritores – “para mim, a galera atual não passa de um bando de farsantes frouxos”, vocifera, no poema lugar nenhum.

Só que, mesmo por baixo de toda a pose de durão, havia sim, uma indisfarçável compaixão pelo ser humano, como atestam suas obras mais sensíveis (no estilo Velho Safado, claro), como o romance Misto Quente ou o conto   A Mulher Mais Linda da Cidade.

Carimbo de qualidade

Apesar de não trazer nada à altura dos seus melhores momentos, Miscelânea Septuagenária tem, claro, o carimbo “Charles Bukowski de qualidade” em suas páginas.

No conto A Vingança dos Desgraçados, ele narra uma invasão de sem-tetos à loja de departamentos mais chique de Los Angeles, organizada por dois bebuns sem nada melhor para fazer.

Já em A Vida de um Vagabundo, ele segue um dia na vida de Harry, vadio sem emprego ou auto estima, que escapuliu de ser convocado para lutar na 2ª Guerra, em 1943.

Outro conto digno de nota é O Filho de Satã, que bem poderia ser um trecho de Misto Quente, seu livro de memórias da infância e juventude.

Na verdade, este livro é ideal para quem nunca leu Bukowski, já que, diferente dos outros, este traz contos e poemas, servindo como uma boa introdução  ao universo do Velho Safado.

Miscelânea septuagenária: Contos e poemas / Charles Bukowski / Tradução: Pedro Gonzaga / L&PM/ 392 p./ R$ 54,90

quinta-feira, novembro 06, 2014

NOVOS ERUDITOS

Seminário traz músicos eruditos de Nova York e do Rio de Janeiro à cidade

Mivos: Joshua Modney e Olivia De Prato (violinos), Mariel Roberts (violoncelo) e Victor Lowrie (viola). Ft: Alexander Perrelli
Apreciadores da música de concerto tem uma bela programação na cidade a partir de amanhã até terça-feira (11).

É o 1º Seminário em Música Contemporânea do MAB (Música de Agora na Bahia), que traz a Salvador músicos de Nova York e do Rio de Janeiro, além de locais.

O MAB é uma série de eventos organizado pela OCA (Oficina de Composição Agora), grupo originário da Escola de Música da Ufba, que já tinha realizado uma edição do MAB em 2012.

Esta edição, iniciada em julho último com patrocínio da Petrobras, vai até dezembro de 2015, com realização de concertos, recitais, apresentações em escolas públicas, seminários etc.

A ideia do MAB é difundir e estimular a música de concerto feita “agora”, de autores vivos.

O concerto de abertura deste seminário é amanhã e fica por conta da Orquestra Sinfônica da UFBA (Osufba), com regência do maestro Erick Vasconcelos. O solista será o violonista Mario Ulloa.

Ele, Vasconcelos e a Osufba vão estrear uma peça inédita: Concerto para Violão e Orquestra, do professor da Emus- Ufba Wellington Gomes.

Música feroz

Duo CardAssis. Foto: Carla Reis
No sábado, o músico Pedro Amorim Filho vai comandar uma Projeção Sonora Especial com o resultado de workshop com participantes do Seminário, no Teatro do Movimento (Escola de Dança da Ufba).

No domingo, o grupo CRON, do Rio de Janeiro, faz concerto no Salão Nobre da Reitoria da Ufba, com estreias de duas peças de autores baianos: Chula (clarinete solo), de Túlio Augusto e Sem Comentários (violino e violoncelo), de Alex Pochat.

Segunda-feira é a vez da atração internacional do Seminário, o quarteto de cordas novaiorquino The Mivos Quartet, que se  apresenta no Teatro do Icba (Corredor da Vitória).

O Mivos foi apontado pelo jornal The Chicago Reader como “um dos conjuntos musicais mais ousados e ferozes dos Estados Unidos”.

Na Bahia, eles incluem peças de baianos, como Paulo Costa Lima (Zazie-Quartettsatz) e Guilherme Bertissolo (Pungência Agônica).

O encerramento do Seminário é na terça-feira, com recital do Duo CardAssis, formado pelas pianistas Ana Claudia Assis e Luciane Cardassi, no Salão Nobre da Reitoria da Ufba, também com peças de baianos.

Com exceção do concerto do Mivos (R$ 20, meia), todas as atrações são gratuitas.

Confira a programação:

Dia 7/11, 20h: Orquestra Sinfônica da UFBA (com Mario Ulloa, sob a direção de Erick Vasconcelos), na Salão Nobre da Reitoria. Entrada franca

Dia 8/11, 20h: Projeção Sonora Especial - Direção: Pedro Filho. Teatro do Movimento (Escola de Dança da Ufba). Entrada franca

Dia 9/11, 20h: Grupo Cron (RJ), no Salão Nobre da Reitoria da Ufba. Entrada franca

Dia 10/11, 20h: Mivos Quartet (www.mivosquartet.com) (NY), no Teatro do ICBA. Ingressos: R$40 e R$20 (meia)

Dia 11/11, 20h: Duo CardAssis, no Salão Nobre da Reitoria da Ufba. Entrada franca

1º Seminário em Música Contemporânea do MAB / Concerto de Abertura: Orquestra Sinfônica da UFBA (com Mario Ulloa e maestro Erick Vasconcelos) / Amanhã, 20 horas /  Salão Nobre da Reitoria da Ufba / Entrada gratuita / Informações: www.musicadeagoranabahia.com


quarta-feira, novembro 05, 2014

DERRUBE O MURO: A BANDA DE HC QUE ACABOU, REGISTROU EM VÍDEO E VOLTOU

Rodrigo e "Dill" (guitarras), Dudu (voz), Diogo (btr), Doriva (voz) e Gabriel (bx)
Se a cena do rock baiano em si já não tem lá muita visibilidade ou incentivo, imagine o senhor e a senhora dona de casa a cena do hardcore local, esse estilo barulhento, veloz, reclamão e muitas vezes incompreensível para quem não é do ramo.

Mas como o hardcore é filho do movimento punk, seus adeptos não são muito de pedir licença nem “ajudinha” de quem quer que seja: “faça você mesmo” é o seu lema  – aliás, de todo mundo que já captou o espírito de nossa época.

Por tudo isso, o minidocumentário Doc Entre Aspas - A Desintrigante História de uma Banda de Hardcore Soteropolitana, do grupo Derrube o Muro (foto acima de Mari Martins), ganha importância ao registrar a breve e meteórica carreira desta banda local.

Com 22 minutos, o vídeo está disponível no You Tube e não poderia ser mais simples: mostra os membros da banda dando depoimentos e tocando ao vivo em um estúdio, gravando seus últimos registros antes do guitarrista se mudar para o Rio de Janeiro.

“Começamos no verão de 2006, mas da formação original só sobrou eu e Rodrigo Gagliano (guitarra)”, conta Eduardo Dudu Lima, vocalista, advogado e ativo blogueiro da cena (tomanacarahc.blogspot.com).

“A gente queria fazer hardcore old school de Nova York, linha Agnostic Front, além de bandas da Califórnia: Suicidal Tendencies e Dead Kennedys, que  nem precisa citar”, diz.

Jovens até morrer

O Derrube o Muro deixou poucos registros.

Além de um EP gravado em 2009 e uma participação no CD tributo ao Pastel de Miolos, lançaram recentemente um split (disco “rachado” entre bandas) com o próprio  PDM, Aggressivos e a banda Riiva, da Finlândia.

Chegando aos 30 anos, os membros da Derrube o Muro começaram a ser atropelados pela própria vida, se afastando da banda: “Todo mundo trabalha, está  casado, tem filho”, conta Dudu.

“A banda acabou muito tempo parada, aí o Rodrigo disse que estava se mudando para o Rio de Janeiro.

Resolvemos ir para o estúdio, gravamos e filmamos tudo. O áudio das músicas foi para o split”, conta.

Agora, um ano depois, Rodrigo voltou do Rio de Janeiro, reativando a banda.

“Tem uma música da banda Seven Seconds que diz: “I'll be young until I die (Serei jovem até morrer). É importante  manter o espírito”, conclui Dudu.

Com o minidoc no You Tube e o split lançado pela Brechó Discos, a Derrube agora se reforma, faz planos.

Veja: www.facebook.com/DerrubeOMuroNordesteHardcore



NUETAS

Baia na área, galera

Um dos artistas prediletos desta coluna deste blog desde os anos 1990, Baia retorna à Salvador para dois shows no Dubliner’s: sexta-feira, com Lily Braun e sábado, com Arapuka. O melhor aluno da verve raulsexista (com estilo próprio), Baia vem lançar seu último single, o impagável Do Romantismo à Roma Antiga / Meu Facebook Is On The Table. Imperdível, OK? 22 horas, R$ 30.

Laia Gaiatta com Fao

O trio avant garde Laia Gaiatta se junta à cantora Fao Miranda em uma temporada de três sábados no Teatro Gamboa Nova: o próximo (8), 15 e 22. Música diferente e desafiadora, recomendada. 20 horas, R$ 20.

terça-feira, novembro 04, 2014

AQUELE ABRAÇO PARA RIACHÃO

Show no Pelourinho reúne artistas locais para homenagear o grande sambista baiano Riachão

Homenagear os mortos é louvável, mas está longe do ideal. Quem é digno de homenagem, merece recebe-la em pessoa, olho no olho.

Felizmente, esse tem sido o caso do sambista baiano Riachão, patrimônio cultural vivo, que estará no centro do evento A Bahia Abraça Riachão, quinta-feira, no Pelô.

Além do público que sempre o abraçou, nomes consagrados do samba e da música baiana em si estarão lá para reverenciar o mestre, como Margareth Menezes, Saulo Fernandes, Nelson Rufino, Gal do Beco, Batifun e Fora da Mídia, entre outros não menos valorosos.

Prestes a completar 93 anos no dia 14 próximo, Riachão é um fenômeno.

Continua com aquela mesma energia, positividade e alegria que o povo já conhece. Semana passada, durante visita ao jornal A TARDE (que apóia o evento), cantou e conversou com todos que encontrava pelo caminho, distribuindo simpatia e carinho.

“Não tem nada melhor do que fazer samba com os amigos”, disse o veterano. “Deus é música, minha vida é cantar”.

Cercado de amigos e familiares, ostentando uma pesada corrente no pescoço e aneis por todos os dedos, Riachão foi recebido como a autoridade que de fato é, sentando-se a vontade no sofá da sala da presidência do jornal, com toda a elegância que o tornou célebre.

“De madrugada eu fico na cama, cantando baixinho para mim mesmo. Tem horas que eu até choro com as músicas, as lembranças”, confidenciou, deixando o resto da sala com um nó na garganta.

“Sinto saudade da velha guarda, ô tempo bom! Muita coisa já não lembro mais, mas sinto muita saudade”, diz.



Reconhecido nacionalmente

Visto por quem entende de música como um verdadeiro professor, monumento vivo da nossa cultura, Riachão nasceu Clementino Rodrigues, no distante ano de 1921.

Ao longo de nove décadas, criou mais de seiscentos sambas – a maioria nunca foi gravado. Mas o que foi registrado, em sua parca discografia de cinco álbuns e alguns poucos compactos (a maioria fora de catálogo), se tornou clássico.

Não a toa, foi reconhecido e regravado por gente do porte de Jackson do Pandeiro, Caetano Veloso, Tom Zé, Gilberto Gil, Jamelão, Cássia Eller, Dona Ivone Lara e muitos outros.

“Riachão é símbolo maior da cultura baiana e brasileira, por isso, merece todo o reconhecimento”, saúda a cantora Margareth Menezes.

“Mestre da  poesia musicada do samba, ele carrega em si a tradição da baianidade, toda a força da música que inspira a mim e a tanta gente. Foi com gratidão que recebi esse convite e é com alegria que vamos celebrá-lo nessa festa mais do que merecida”, acrescenta.

Personagem original

Para o produtor do evento, Wilson Santos, “é importante lembrar que, em sete anos, Riachão terá 100 anos. Precisamos abraça-lo agora, como um exemplo de artista e de pessoa”, diz.

“Quando  coloca seu quepe de motorneiro e a toalha em volta do pescoço ele se torna um personagem original, que transmite uma alegria contagiante. É o nosso grande artista”, afirma.

Já a sambista Luci Laura, que também veio ao jornal, vê Riachão como “uma parte viva da história do povo negro, que criou o samba. Sua musicalidade é muito alegre e divertida, cheia de histórias e da poesia popular da Bahia”.

Outro sambista presente à visita, André Lima, do grupo Sangue Brasileiro,  agradece a oportunidade de homenagear seu mestre: “Riachão é  o professor. Para mim, que já gravei Vá Morar com o Diabo com minha banda, é uma honra seguir seus passos e ensinamentos”, diz.

Cantor do grupo Amizade Partidária, que também estará no show de quinta-feira, Alã Nascimento chama atenção para a preservação de nossa memória musical: “O futuro não existe se não houver um passado para nos inspirar e nos ensinar. E foi isso que Riachão fez e tem feito. Nos sentimos no dever de continuar esse trabalho ao homenagear esse ícone da música”.

A Bahia abraça Riachão /Com Margareth Menezes, Saulo Fernandes, Nelson Rufino, Gal do Beco, Batifun,  Fora da Mídia, Neto Bala, Amizade Partidária, Luci Laura, Sangue Brasileiro e outros / Quinta-feira, 19 horas / Praça Pedro Archanjo, Pelourinho / R$ 20 / Venda antecipada nos postos de Classificados de A Tarde dos shoppings e na sede do jornal