terça-feira, novembro 25, 2014

A ARTE POP E UNIVERSAL DE UM PIONEIRO DO GRAFITE BAIANO

15 anos após última individual, Miguel Cordeiro abre mostra hoje, no Palacete das Artes

Surgido como grafiteiro – pioneiro e irreverente – na cena urbana local em 1979, o artista visual Miguel Cordeiro estava há um bom tempo sem expor seu trabalho ao público.

Hoje, com a abertura da exposição Horizonte, ele exibe sua produção mais recente.

Em cartaz até fevereiro de 2015 na Sala Contemporânea Mario Cravo Jr. (Palacete das Artes, Graça), a mostra, com curadoria de Claudine Toulier, exibe 60 obras em técnicas como acrílica sobre tela e papel, colagens e stencil.

“São trabalhos mais recentes, feitos de um ano para cá. Eu trabalho permanentemente, mas realmente não exponho com frequência”, diz Miguel.

“A mostra surgiu de um convite  de Murilo Ribeiro (diretor do Palacete). A partir daí eu passei a produzir para a exposição, em dimensões maiores – muito embora eu trabalhe incessantemente para alimentar meu blog (miguelcordeiroarquivos.blogger.com.br)”, conta.

Aos 58 anos, o soteropolitano Miguel pode até não ser muito conhecido das novas gerações, mas já fez muito barulho em Salvador, quando começou a grafitar muros com críticas provocativas à classe média, através do personagem Faustino.

Miguel em 1985, em foto do A Tarde, coletada pelo blog reynivaldobritoartesvisuais
Ligado à cena roqueira de então, Miguel mostrava seu trabalho nos shows, de maneira informal.

Em 1985, fez sua primeira individual, no Museu de Arte da Bahia. Só em 1999 fez a segunda, na Galeria ACBEU (veja matéria do jornal A tarde sobre essa mostra aqui).

De lá para cá, só mostrou seu trabalho informalmente – e no blog, que começou em 2006. “Isso não quer dizer que eu evite expor. É que às vezes as condições não compensam”, diz.

Na verdade, Miguel credita a presente mostra justamente à repercussão do seu blog, no qual posta desenhos e ilustrações, sempre acompanhados de seus textos – ora sardônicos, ora surrealistas ou memórias.

“Com a internet você disponibiliza seu trabalho para milhões de pessoas, não depende dos meios tradicionais. Essa exposição é consequência desse trabalho desde 2006, no blog e no Facebook”, afirma Miguel.

“Com o blog, já fui compartilhado em vários sites internacionais de arte contemporânea, de street art e até no site de Bob Dylan”, afirma o artista.

Com forte influência da pop art e da cultura pop em si, a obra de Miguel dialoga com um mundo em constante transformação através de uma linguagem urbana e acessível, que evita ser óbvia ou acadêmica.

“Não trabalho com abstrato, sou  mais figurativo, mesmo. São observações que eu faço,  coisas que vejo no dia a dia”, define.

“Aí vou trabalhando em cima disso, faço uma abordagem visual sobre coisas que observo, filtradas por influências dos anos 1960 para cá, mas sem ser conceitual, esse lance que lida com simulacros. Tipo pendurar um cordão no teto e dizer que o universo se equilibra ali. Pô, é só um cordão, entende? Essa não é a minha. Isso é complicado pra caralho é torna a arte inacessível, hermética, cerebral demais”, acredita.

“Como Raul falava ‘eu não sou apenas o cantor’, eu não sou apenas um pintor. O barato são as múltiplas possibilidades. Está tudo dentro desse universo de expressão, desde 1979, quando fazia grafite, fanzines, cartaz para shows”, observa.

"Eu tenho essa facilidade de me expressar dessa maneira, nessa arte pós-anos 1950, multidisciplinar. Eu moetrava meu s trabalhos em shows de rock e venho madurecendo desde 1979, quando comecei o Faustino, que era uma coisa absurda para a época. Xerox, arte postal, música, grafite, fanzine, internet, é um processo longo, que pode ser percebido nessa mostra", acrescenta Miguel.

Além de quadros, Horizonte exibe banners com gravuras digitais, que reproduzem  posts do blog. Outra atração é uma sala onde o artista reproduz seu trabalho de grafite, “com alguns Faustinos e stencils”, conta.

De postura ferozmente independente (não à toa, é amigo pessoal e parceiro eventual de Marcelo Nova desde os anos 1970), Miguel acredita que, mesmo assim, sua atividade pode ser economicamente viável – mesmo na Bahia, onde o QI (Quem Indica) costuma ser a regra.

"Não quero ficar reclamando, não. Cada um sabe o que faz”, despista.

“Aquele papo ‘ah, aqui é uma merda, não tem galeria, as que tem não convidam’ é complicado. É um mercado muito complexo", observa.

"Às vezes, o cara ser independente não significa que não possa estar inserido no mercado. No rock é assim, bandas independentes podem ser bem sucedidas, independente de mercado”, conclui.

HORIZONTE, de Miguel Cordeiro / Abertura amanhã, 19 horas / Palacete das Artes / Graça  / Até 22 de fevereiro de 2015, de Terça a sexta, das 13h  às 19h / Sáb, dom e feriados, 14h às 19h

5 comentários:

Franchico disse...

O óbvio ululante: a corrupção na Petrobras não começou ontem.

http://entretenimento.r7.com/blogs/andre-barcinski/petrobras-finalmente-uma-boa-noticia-20141125/

Além do caso escandaloso que resultou em Paulo Francis morrendo de enfarto, Ricardo Boechat tava lembrando outro dia no jornal da Band que ele mesmo denunciou um esquema em 1989 - governo Sarney.

Se neguinho cavucar, é capaz de achar roubalheira desde os tempos de Monteiro Lobato.

Rodrigo Sputter disse...

OPA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
MAIS DO QUE COLADÍSSIMO HOJE!!!!
Grande Mestre, Grande Amigo, Grande Artista!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
tava jurando que era no palácio da aclamação...eu até fiquei viajando "Caralho, lá? nunca vi exposição temporária lá, zorra, quero ver da colé!", agora ficou claro pra mim...é no palacete, entendi o palácio errado pro rei certo...adoro aquele lugar, se eu não morrer, hoje eu sonhei que morria (mas voltava), tou colado.

Sobre Barcinski, será q ele quer dar uma amenizada na merda que escreveu lá?
Cara, o que me reto com essas críticas ao PT é que esquecem quem é o PSDB.

Rodrigo Sputter disse...

Lançamento ontem BOMBADÍSSIMO, foi uma GALERA!!!
e exposição tá linda demais e grandiosa...em todos sentidos (bons claro)...só faltou um tal de Francisco Castro Jr por lá!!

Ernesto Ribeiro disse...

.

Mestre Miguel Cordeiro, só não fui ainda porque meu emprego não me permite: tenho q dormir cedo!


...mas nesta sexta-feira eu devo aparecer por lá no Palácio saudar o Rei!


Merecidíssima essa longa exposição até o ano que vem! Pra compensar a longa ausência e a injustiça do sistema brasileiro. Mestre MC merecia um museu só dele!

Rodrigo Sputter disse...

Terminou cedo Ernesto...e lá fecha cedo...19 horas...vai no fim de semana...