sexta-feira, janeiro 29, 2016

CALOR EM DOBRO

Skank e Scambo fazem mais um evento da série Encontros de Verão, do Armazém Villas, em Lauro de Freitas

Skank em foto de Weber Pádua
Tempo de encontros, o verão que ora ferve (ora enxagua) a cidade ganha mais um ponto de ebulição hoje à noite, quando as bandas Skank e Scambo compartilham o palco do Armazém Villas.

O quarteto mineiro consolida sua posição de exceção pop rock em tempos de predominância sertaneja de butique  nas paradas, graças a boa repercussão do álbum e da turnê Velocia (2014), seu registro mais recente.

Já a banda baiana dá uma paradinha nas gravações do seu próximo álbum para se encontrar com o seu sempre ávido (e crescente) público.

“O show é mesmo que vimos fazendo desde o lançamento do Velocia. Agora estamos trabalhando o terceiro single do disco, Do Mesmo Jeito, parceria minha com o Lucas Silveira, do Fresno”, adianta Samuel Rosa.

“E a turnê tá indo muito bem, temos conseguido bons públicos Brasil afora. É muito gratificante, depois de tantos anos de carreira, sentir que (a banda) ainda tem relevância, que o publico se renova”, felicita-se.

Criada em 1991, o Skank completa em 2016 25 anos de atividade, com muito sucesso. Samuel Rosa, contudo, confessa que não vê muito sentido em fazer festa para comemorar a data.

“Ninguém se lembra do Skank em 1991, fora nossos pais e amigos. É que a banda só estourou mesmo para o Brasil em 1995, com o (álbum) Calango, que vendeu um absurdo e teve vários sucessos nas rádios. O Skank já tem um tempo considerável de carreira. Eu gosto de lembrar, de olhar para trás: a partir de 94, 95, o Skank sempre esteve entre as três ou cinco bandas mais requisitadas do Brasil. Nunca tivemos um período de ostracismo, tipo 'ah, vamos parar um pouco, quero fazer carreira solo' e tal. Eu até brinco quando vejo o tanto de show que o Skank faz, 'pô, pessoal, vamos pegar mais leve'. O Skank está em turnê desde 1993”, afirma.

“Por isso, essa banda sobrevive tanto tempo: temos muito prazer de pegar a estrada, nosso relacionamento é muito satisfatório, pois temos muito prazer no que fazemos. E outra, dentro de nossa linguagem, o Skank se renovou. Basta entrar nas músicas mais conhecidas e você percebe que que apesar de conservar a assinatura, tem muitas músicas que não se parecem entre si. Garota Nacional não tem nada a ver com Dois Rios, por exemplo. A gente adora explora diversas possibilidades. Tem quem condene isso, mas foi a nossa forma de sobreviver, de se renovar esteticamente. Então acho que essas datas não tem um significado assim tão representativo. Acho que envelhece, fica  parecendo uma instituição comercial. Deixo isso pras drogarias, sabe, tipo ‘25 anos servindo melhor’”, ri o músico.

Ele aproveita e lembra uma história de bastidores do Calango: “A gente não conseguiu emplacar nenhum grande hit com o primeiro disco. O que fez o Skank andar foi o show, o buxixo, éramos uma das novidades da época. O show era bom, então começamos a vender muito show e rodar o país, mas ainda tinha muita resistência em São Paulo, por exemplo . Aí um dia, um diretor do gravadora jogou isso na nossa cara, ‘vocês ainda não tem um hit’.  A resposta veio no Calango, que por ironia do destino, foi justamente o disco com o maior numero de hits do Skank”, relata.

Adeus ao Flare

Scambo: Tosto, Pedro, Graco e o flare entre eles. Foto do Facebook da banda
Banda local de público fiel, a Scambo faz hoje um dos últimos shows do álbum Flare (2012).

“Estamos nos despedindo desse show, vamos lançar um disco novo em breve, tudo vai mudar no repertório”, avisa o guitarrista Alexandre Tosto.

“Aí, o repertório que já estava repetitivo, enfadonho pra gente, ganha novo gás. É nesse momento que os improvisos surgem da melhor forma possível. Então as novidades desse show devem ser nesse sentido, no estar mais solto no palco, o que também sempre foi o melhor da Scambo, o imprevisível”, afirma.

Ainda quente do bom desempenho no programa SuperStar, da Globo, que tornou a Scambo mais conhecida no resto do país, Alexandre faz o balanço do agitado ano de 2015.

"2015 foi mais um, e, ótimo ano. A Scambo completou seus 15 anos vivendo todos os altos e baixos possíveis e impossíveis. Quando se trabalha durante tanto tempo por um propósito você acaba encontrando, ou pelo menos deveria encontrar. O real propósito de tudo isso, e esse propósito nunca está externo a você ou ao projeto, não está num tal 'reconhecimento' ou em qualquer outro tipo de coisa, só os tolos querem respirar aplausos. Quando eu tinha 15 anos, eu li William Burroughs e Allen Ginsberg e decidi que na minha vida eu queria apenas uma coisa, ter uma banda de Rock, não de música, de Arte Rock. Anos depois, David Bowie resolveu esta equação pra mim, e a partir daí, nada mais me importa que não seja estar fazendo o que eu quero. Por isso, 2015 foi um ano milagroso onde o sonho daquele menino continua vivo", relata.

Tosto no palco, a fim de art rock. Foto do Facebook, crédito Douglas Mendes
Atualmente em pleno processo de gravação do próximo álbum, o trio experimenta uma nova abordagem nos Estúdios WR.

“Nada melhor do que um disco novo. Eu estou gostando muito do formato que decidimos gravar dessa vez. Apenas eu, Pedro e Graco no estúdio, com o apoio do Apú Tude. Está sendo uma experiência muito rica. Essa coisa de se despir do 'guitarrista', do 'vocalista'. Somos três artistas frente as composições e aos instrumentos e ponto. Eu quero saber o que nós três queremos dizer, sem influencia de músicos, fãs etc. Nunca gostei do ambiente de um estúdio, continuo não gostando, mas é a primeira vez que estou indo sem reclamar. Particularmente, espero que esse trabalho PROVOQUE (caps lock do artista), seja lá o que for, mas que provoque algo. Essa é a nossa função como Artistas. Nós temos nos provocado bastante, então acho que vai dar certo”, conclui.

Encontros de Verão com Skank e Scambo / Hoje, 22 horas / Armazém Vilas (Av. Luiz Tarquínio, 2893) /  1º lote, Pista: R$ 60 (meia), Área VIP R$ 80, Camarote R$ 100 /  Ticketmix, Pida e Balcões / 18 anos

quinta-feira, janeiro 28, 2016

PODCAST ROCKS OFF OUVE E DISCUTE O COUNTRY ROCK

Mr. Dwight Yoakam, lenda viva do country rock
Os senhores Nei Bahia, Osvaldo Braminha Silveira Jr. e o convidado de luxo Márcio Marcionílio Martinez relembram, apreciam e reconstroem as origens, os sucessos e os futuros do country rock.

Então temos Byrds (os pais da matéria para os podcasters), The Band, Eagles, CSNY, Wilco (e seus fãs afetados), Kinks (essa me pegou), Elvis Costello (outra), John Doe (o cara do X, solo), Whiskeytown, Gram Parsons etc.


MÚLTIPLO THIAGO

Na quinta-feira Hoje, o ex-baterista do Cascadura faz jams com grandes músicos na festa de um ano do Bahia Experimental

Thiagão e a Baía de Todos os Santos. Foto sem crédito, do Facebook da BE
 É um papo das antigas: todo fim implica em um novo começo. Está lá, na representação ancestral da serpente mordendo o próprio rabo (ouroboros). Para o baterista Thiago Trad não é diferente.

Membro mais duradouro da Cascadura (exceto o próprio fundador, Fábio Cascadura), extinta no mês passado, Thiago passou os últimos 16 anos se dedicando à banda em múltiplas formações, nas quais as únicas constantes eram o vocalista e ele.

Agora que a banda acabou,  ele mesmo se surpreende ao notar que não está tendo muito tempo para lamentar o fim: “Ainda não parei para sentir essa ausência”, confessa.

Com atividades diversas previstas até o fim do ano, Thiago agora vai se dedicar em tempo integral aos projetos que, na verdade, já vinha tocando em paralelo à antiga banda.

O principal talvez seja o que ele (re)apresenta ao público nesta quinta-feira hoje, Bahia Experimental, em um show viabilizado através do edital Arte Todo Dia, da Prefeitura de Salvador, via Fundação Gregório de Mattos.

Acompanhado de cinco percussionistas de diferentes perfis e uma banda com  Ian Cardoso (guitarra), Cadinho Almeida (baixo) e Pedro Degaut (trombone), Thiago quer explorar os limites do pensamento percussivo, uma pesquisa em que vem se aprofundando desde que se formou em Percussão Sinfônica na Escola de Música da Universidade Federal da Bahia.

“(O show) Não tem assim um repertório, são mais temas que conduzem a sessão toda. É uma sucessão de improvisos mesmo, de troca. Cada músico traz seu universo, por isso, os escolhi pela pesquisa de cada um”, conta.

“Japa System é da eletrônica, toca na Baiana System. Gabi Guedes, da Orkestra Rumpilezz, é um mestre, o Hendrix do atabaque”, diz.

“Mário Pam, do Ilê Aiyê, é outro pesquisador incrível, traz essa linguagem dos blocos afro. Gil Santiago, da Osba, é extremamente versátil e vai tocar vibrafone. E Jorge Dubman, baterista do IFÁ Afrobeat, é um criador de ritmos, um pensador do afrobeat”, descreve Thiago.

Vamos fazer um som?

Perc masters: Mário, Gil, Gabi, Thiago, Jorge e Japa. Ft: Nathália Miranda
Junta, essa turma toda vai comemorar o primeiro ano de existência do projeto Bahia Experimental, um conceito pensado por Thiago que se caracteriza pela versatilidade com que se adequa à diferentes situações.

“Depois que me formei, muitas possibilidades musicais se abriram. Aí passei três meses em Nova York, onde vi muita coisa na cena underground, de jazz, rock e música contemporânea. Isso foi me provocando a fazer um projeto com liberdade de explorar outros instrumentos que venho pesquisando”, conta.

“Aí criei esse projeto, o Bahia Experimental, que seria a Bahia em que eu vivo, os lugares em que eu vou. Sou muito de rua, vou muito em shows de samba, jazz, hip hop. Quero ver tudo que tá acontecendo. Apesar dos estereótipos, a Bahia é muito ampla e diversa”, afirma.

Após o show de estreia em janeiro de 2015, Thiago levou seu projeto para outras cidades, passando por São Paulo, Porto Alegre, Montevidéu e Buenos Aires. “Viajei sozinho e, onde chegava, ia arregimentando músicos. É um projeto que posso levar para todo canto. O mais interessante é essa liberdade de fazer improvisos em qualquer lugar, sem mobilizar grandes estruturas”, percebe.

Bailinho, oficina, solo...

Além do BE, Thiago ainda tem muito com que se ocupar neste ano (e nos próximos). Outro projeto muito querido do público, a banda Bailinho de Quinta, se apresenta domingo, no Clube Espanhol.

“E no Carnaval vamos tocar no Pelô, com Marcela Bellas e o paraense Filipe Cordeiro”, diz.

Pós-Carnaval, ele engata uma série de quatro workshops do Bahia Experimental: dois em Salvador, um em Santo Amaro e outro em Juazeiro.

“É através de um edital da SecultBA em que fui contemplado. Sempre convidados e apresentações para  mostrar ao público o resultado das oficinas. Vamos abrir as inscrições em fevereiro”.

Já no segundo semestre Thiago pretende lançar seu primeiro álbum solo, um disco instrumental.

“Já gravei piano, percussão e bateria. Venho compondo há um bom tempo. Gravei uma parte com Stefano Cortese, um maestro italiano que vive no Vale do Capão, e em Salvador, com Tadeu Mascarenhas”, conta.

Como se não bastasse, Thiago ainda contempla a possibilidade de acompanhar o guitarrista Martin Mendonça (Pitty, ex-Cascadura fase Vivendo...) em uma turnê pelo Nordeste.

“A gente fez esse show em dezembro no Dubliner’s, com Cadinho no baixo e foi muito legal. Estamos vendo a questão das datas, mas tudo indica que vai rolar. É muita coisa em 2016”, vê.

Deus conserve.

Bahia Experimental - Sessão Tambores / quinta-feira, HOJE, 19 horas / Teatro Gregório de Mattos (Praça Castro Alves) / R$ 20 e R$ 10

https://www.facebook.com/Bahia-Experimental-777406189000956/

quarta-feira, janeiro 27, 2016

TERCEIRA EDIÇÃO DO RUÍDOS NO SERTÃO LEVA DR. SIN E TORTURE SQUAD A POÇÕES

Festival: Após o sucesso de 2015, a festa do heavy metal no interior baiano investe em bandas brasucas – e uma argentina. Headliner, Dr. Sin faz últimos shows na Bahia antes de encerrar trajetória


Torture Squad, com Mayara Undead Puertas à frente. Foto Gil Oliveira
O metalhead, assim como o sertanejo, é, antes de tudo, um forte. Talvez por isso, o heavy metal seja tão apreciado no interior.

Está aí a 3ª edição do festival Ruídos no Sertão para não nos deixar mentir.

Este ano, são dois dias – sábado e domingo – com 11 bandas de diversos estilos de metal e várias partes do Brasil, mais uma da Argentina, Enconffined.

As headliners são a lendária Dr. Sin (hard rock) e Torture Squad (thrash / death metal), ambas de São Paulo.

Ainda há a gaúcha Hibria, as mineiras Hellway Train e Grey Wolf, a carioca Farscape, a paulista Metalizer e as baianas Trepanator, Escarnium e Storm.

Infelizmente, este ano não tem um grande nome do metal gringo como em 2015, com o grupo Metal Singers, que reuniu ex-vocais de bandas como Iron Maiden e Accept.

“Esse não é nosso foco principal”, avisa Gildásio Correia Júnior, produtor do Ruídos.

“Priorizamos valorizar as boas e grandes bandas do cenário metálico do Brasil. O que aconteceu com o Metal Singers foi uma combinação de fatores que gerou a oportunidade de traze-los. Obviamente, estamos sempre atentos ao cenário para aproveitarmos novas oportunidades”, garante.

Os hermanos da Enconffined levam seu death metal old school à Poções
"Foi uma experiência inesquecível, tanto para a gente que estava na produção quanto para o público, que parecia não acreditar que estavam diante de verdadeiras lendas do rock mundial. Falando dos bastidores, a atmosfera durante o evento foi extremamente positiva e gratificante. Todas as bandas que se apresentaram curtiram muito participar do Festival, inclusive o pessoal do Metal Singers, que fez um show memorável", relata Gildásio.

E, se em 2015, o festival contou com apoio de edital da SecultBa, esse ano o produtor teve que se coçar: “Boa parte dos investimentos da edição 2015 do festival foi proveniente do Fundo de Cultura do Governo do Estado através da política de editais. Esse quesito foi um fator fundamental para que o Ruídos no Sertão tivesse aquela abrangência e repercussão, pois nos permitiu investir em estrutura, bandas e em uma boa equipe de produção. Nesta edição, os recursos basicamente são provenientes de investimentos próprios, com apoio também de algumas empresas privadas e da Prefeitura Municipal de Poções, que apoia o Ruídos desde a primeira edição”, conta.

Produtor de shows em Poções há dez anos, Gildásio conta que, no início, o pessoal local estranhou: “Posso dizer que já se assustaram muito”, ri.

“Ano passado, houve uma verdadeira invasão de metalheads à cidade, o que foi um divisor de águas nesse sentido. A população tem abraçado o festival a cada dia mais, estão percebendo que é um marco para a cidade. Para o comércio local, o saldo também foi muito positivo em termos de benefícios, mas infelizmente, os apoios ainda estão um pouco tímidos por parte dos comerciantes locais”, lamenta.

Rapaziada da banda gaúcha Híbria. Foto Karina Kohl
"Sempre buscamos oferecer o melhor serviço, tanto para o público, quanto para as bandas. Isso vai desde a escolha do local à qualidade do atendimento. Esse ano investimos ainda mais em estrutura, teremos um grande palco que vai permitir ao público e às bandas maior conforto e comodidade durante os shows. Além disso estamos oferecendo outras melhorias técnicas em sonorização e iluminação assim como em serviços", afirma Gildásio.

Sobre a curadoria das bandas, ele diz que "Escolhemos as bandas sob diversos critérios, mas diria que os dois principais critérios que analisamos é que a banda precisa ter material próprio lançado em qualquer formado, físico ou digital e estar em atividade, seja fazendo shows, turnê lançando clipes, novos discos participando de coletâneas, enfim. Estejam contribuindo para a produção de rock / heavy metal em sua região ou estado".

"Sim, sou fã. Em parte, esse é um dos motivos que me fazem produzir o Festival. Por outro lado, como produtor cultural, vejo que é uma forma de colaborar com o segmento cultural em que eu acredito e defendo. E isso é estratégico, visto que o Ruídos no Sertão vem para suprir uma carência no circuito do heavy metal na Bahia e talvez no Nordeste", afirma o produtor.

A saideira do Doutor

Edu, Andria e Ivan: doutores prontos para últimas consultas. Ft Marco Bavini
Uma das bandas brasileiras mais importante do seu nicho, a Dr. Sin está em plena turnê pelo país, com três datas só  na Bahia: sábado em Poções, 27 de fevereiro em Serrinha e 28 em Salvador. Uma pena que o motivo de tanta atividade seja o anunciado fim da banda.

“Sim, estes são os ultimos shows da Dr. Sin. Antes de mais nada, quero esclarecer que entre nós a amizade vem antes de tudo”, afirma o vocalista e baixista Andria Busic.

Formada em 1991 por virtuoses (Andria, seu irmão  Ivan Busic na bateria e o guitarrista Eduardo Ardanuy), o trio já nasceu grande, se apresentando em grandes festivais, com contrato em gravadora major, músicas em trilhas de novela e hit nas rádios (Futebol, Mulher e Rock ‘n’ Roll, de 1995), além de muitos shows no exterior.

“Justamente por isso estamos parando, para não estragarmos uma história maravilhosa. Com o tempo, as prioridades mudaram, principalmente para Edu, que focou mais a sua própria marca, EA. Mas, para nós, não mudaram, sempre priorizamos o Dr. Sin acima de tudo”, afirma.

Em Poções, os doutores prometem aplicar suas habituais doses cavalares de hard rock nos pacientes, agora com a  emoção extra da despedida: “Posso afirmar pra todos que estiverem lendo que, a cada show que fazemos, fica mais emocionante, pois vemos o carinho demonstrado pelos nossos fãs e já começamos a sentir saudades de tudo. Podem ter certeza que verão um show onde nos entregamos de corpo e alma – como sempre fizemos, só que mais”, garante.

Com uma trajetória brilhante, a Dr. Sin se despede do seu fiel público indo ao seu encontro em todo o país e de coração aberto, sem arrependimentos: “Foi uma trajetória maravilhosa, cheia de sonhos realizados e uma vida dedicada ao rock e aos nossos ideais, tudo feito com muito amor e respeito. Somos muito felizes por podermos fazer parte da história do rock e de muitas vidas que nos apoiaram e ainda nos apoiam, onde quer que estejamos. Nos vemos na estrada”, conclui Andria Busic.

Leia a entrevista completa com Andria Busic (Dr. Sin) no A Tarde On Line

Festival Ruídos no Sertão 2016 / Sábado e domingo, 19h30 / Arena Music / Poções / Programação, infos: www.ruidosnosertao.com.br

terça-feira, janeiro 26, 2016

ROCK FILOSÓFICO POPULAR BRASILEIRO

Banda de potencial e com influências literárias, A Flauta Vértebra fecha temporada de saraus nesta sexta-feira

A Flauta: Tita, Carlos, Sohl, Ricardo e André Luiz. Foto Gether Ferreira
”Hoje tocarei a flauta / de minha própria coluna vertebral”.

Foi inspirada nos versos do poeta russo Vladimir Maiakovski (1893-1930) que a cantora Sohl Videira batizou sua banda, A Flauta Vértebra.

Condizente à origem literária, o quinteto apresenta em suas  canções influências diversas (rock, pop, jazz, MPB) e temas que vão do poli-amor às  jornadas de junho e até filosofia – Hegel é nominalmente citado em Tanta Retórica.

"Eu venho das artes cênicas", conta Sohl, a vocalista. "E todo ator acaba lendo muito, mas eu sempre gostei de poesia. Maiakovski foi um dos primeiros que li, mas enfim lia muitas coisas, até Agatha Christie, livros de terror, policiais e tal. Quando entrei na faculdade, a vivencia foi maior, passei a ler Samuel Becket, Peter Brooks etc. Adoro ler, mas tenho lido menos por que estou estudando outras coisas agora mais ligadas a minha área, que é voltada à educação"conta Sohl, uma atriz paulistana que vive em Salvador há 16 anos.

Felizmente, tudo é tratado com leveza e de forma até divertida, sem empolação.

OK, talvez citar Hegel soe um pouco highbrow, mas se eles não o fizerem, quem o fará?

"Essa musica é do Carlos (guitarrista), em que ele fala da 'dialética hegeliana'. Ele é um apaixonado por filosofia, um cara  inteligentíssimo. Eu sou mais pop que ele, mas se não fosse ele, a banda não seria o que é. É ele que tem formação em comunicação e música e faz os arranjos. Eu componho no violãozinho e passo pra ele, que transforma em algo muito maior", relata.

O fato é que o EP d’AFV (ouça no Soundcloud) é bem fluido, pop e mostra uma banda pronta para formar seu  público.

E é com isso em vista que a banda realiza periodicamente seu Sarau d’A Flauta, eventos em que se apresentam, convidam bandas amigas e trazem mostras de artes visuais, lançamentos de livros etc.



Foram, mas voltaram

A Flauta Vértebra. Foto: Gether Ferreira
“Resolvemos levar o sarau que eu já fazia em casa, para a rua. Conseguimos um acordo com o Nélson, do Âmbar Cafe e foi isso”, conta

Fundada em 2007, a banda parou em 2008 – até voltar em 2014.

“Voltamos meio de brincadeira, mais pra se divertir. Começamos a ensaiar no estúdio do Irmão Carlos. Ele gostou e nos convidou pra tocar no evento dele, o extinto Faustão Falando Sozinho. Tivemos um mês para nos prepararmos, aí foi aquela correria para criar um show 100% autoral. Tocamos e Big, que estava lá no dia, nos convidou para o Quanto Vale o Show?. Aí as coisas foram acontecendo, nossos batera e tecladista saíram, arrumamos outros e fomos tocando, até fazer o Sarau”, relata Sohl, que está grávida.

 “Até maio, quando dou à luz, vamos tentar fazer o máximo de shows. No fim do ano, lançamos um álbum cheio”, diz.

"Temos também um projeto com o Messias, do Dubliner's Irish Pub, e as bandas Callangazoo e O Mundo, um projeto mais voltado para MPB. É que a gente tem uma pegada de rock mas não é assim, rock rock. O bom da música autoral é que podemos criar livremente, sem amarras estilísticas. Provavelmente começamos com esse projeto em fevereiro pois agora estamos muito focados no Sarau, mas vai ser assim: vamos tocar toda semana convidando uma quarta banda, que ajuda a divulgar nosso trabalho e também o das outras bandas. Misturar públicos é a ideia do projeto", relata.

“Somos uma banda familiar: eu, meu marido, meu irmão e meu cunhado. Só a baterista que entrou por cota e já virou uma irmã”, diverte-se.

Sarau d'A Flauta / Com A Flauta Vértebra, Irmão Carlos & o Catado, Eric Assmar Trio e  mostra do artista plástico Oliver Dórea / Âmbar Café (Rua Afonso Celso, 485, Barra) / Sexta-feira, 18 horas,  R$ 20

www.facebook.com/aflautavertebra



NUETAS

Havana, Porn, Mapa

Dose tripla de rock hoje, no Quanto Vale o Show?, com Havana Rock Club, Soft Porn e Mapa. Dubliner's Irish Pub, 19 horas, pague quanto puder.

Ô da poltrona: rock!

Os classic rockers da Lo Han e Paulinho Oliveira convidam você para sentar na poltrona e apreciar suas performances. Sexta-feira, 21 horas, Teatro Molière (Ladeira da Barra), R$ 40, R$ 20 (lista amiga).

Maglore e  Baggios

Sábado, curta duas grandes bandas: Maglore e The Baggios (SE). Praça Pedro Archanjo (Pelourinho), 19h30, R$ 20 e R$ 10. Vendas na loja Colomy (RV) e no site Sympla.

quinta-feira, janeiro 21, 2016

MAGOS DO SOM

Eletrotécnico desempregado e pioneiro punk local, Beto Rato fabrica em casa amplificadores valvulados e pedais de guitarra artesanais

Beto na oficina. Fotos: Chico Castro Jr.
Geralmente, as melhores ideias são assim: vem na hora em que mais se precisa delas.

Eletrotécnico por formação e guitarrista de punk rock por paixão, Carlos Alberto Araújo conseguiu unir as duas atividades ao começar a fabricar, em casa mesmo e de forma artesanal, pedais de efeito e amplificadores valvulados para guitarra.

Morador do bairro de Marechal Rondon, na periferia da cidade, Beto Rato, como é conhecido, ficou desempregado após um corte de funcionários ocorrido na fábrica parceira da Ford onde trabalhava.

Aos 47 anos, Beto é também um veterano do punk rock local: na ativa desde os anos 1980, tem passagens por algumas das bandas mais antigas da cidade, como AI-5 e Proliferação (e sua união com outra banda, a Não & Proliferação).

Foi no espírito do movimento punk, como reza seu lema “faça você mesmo”, que Beto começou a mexer com equipamentos musicais.

“O grande lance foi esse (amplificador) Gianinni aqui”, aponta ele, na pequena oficina que fica no segundo andar de sua residência.

“Precisava botar pra funcionar, mas todo lugar que eu levava, o pessoal me desanimava. Mas é uma peça antiga, modelo valvulado Super Thunder Sound, coisa rara”, diz.

Amp artesanal montado por Beto
“Como sou formado em eletrotécnica com especialidade em eletrônica pelo Senai, resolvi mexer nele eu mesmo, com a ajuda de dois amigos que também manjam. Conseguimos restaura-lo”, conta.

Foi o bastante para deixar Beto animado. O passo seguinte foi montar amplificadores do zero. Primeiro, uma réplica de Fender. Depois, uma réplica de Marshall – duas das melhores marcas do mundo.

“A madeira é de compensado, é fácil arrumar. As peças eu encomendo em lojas especializadas”, relata.

E aqui vale um parêntese: os amplificadores valvulados, em oposição aos transistorizados, mais modernos, são uma espécie de fetiche entre músicos.

“O amplificador valvulado consegue definir mais o som orgânico, realça os harmônicos das notas”, explica Beto.

Para demonstrar, ele pluga uma guitarra Epiphony em um de seus amplificadores, o Igor Rex 18 Watts, “concepção Marshall”.

Avisa repórter e fotógrafo que o som vai sair alto e dá um acorde. A nota fica suspensa no ar por vários segundos.

“É esse sustain que a galera curte, entende? A nota fica suspensa mais tempo”, observa.

Diretamente da Rússia, sua majestade: a válvula 
Ele ajusta mexendo nos botões e dá outro acorde. A guitarra ganha aquele som tremido de surf music. “Esse tremolo é a válvula que favorece, é o som analógico que todo guitarrista tem fascínio”, diz.

Pedais customizados

Com os amplificadores prontos, Beto recebeu uma encomenda de um amigo, que queria um pedal de drive, responsável por  um efeito de distorção leve e estridente, muito usado por bandas punk.

“Pesquisei na internet e depois baixei o desenho dos circuitos. A caixa de metal eu compro pronta, e depois eu mesmo pinto com aerógrafo e aplico minha marca, a Voodoo Hand”, conta.

Os pedais, apesar de terem vindo depois, tem ajudado Beto. “Produzo pedais Drive, Distortion e Fuzz. Em breve começo a produzir Phaser e Delay. Um Drive novo, marca Ibañez, sai por uns R$ 1, 3 mil. Usado, você acha por R$ 450. Na minha mão, artesanal e customizado na sua cor e formato preferidos, eu faço por R$ 160. Tenho vendido uns três desses por mês”, conta.

Já os amplificadores são mais caros. Um Fender novo custa R$ 6 mil. O Voodoo Hand  sai por R$ 2,2 mil a vista. ”Ainda não tenho maquininha para dividir”, lamenta.

Aos poucos, a comunidade de guitarristas local tem conhecido e aprovado o trabalho da Voodoo Hand de Beto.

“Estou há mais ou menos um ano fazendo esse trabalho e até gora ninguém reclamou. Sim, tem garantia, é só me procurar que eu troco a peça, mas até hoje ninguém precisou”, diz.

Pedal customizado para Átila, da IFÁ Afrobeat
“Amplificadores eu ainda não entreguei nenhum, mas estou montando dois para breve: um pra Júlio Caldas e outro para Rogério Gagliano, da Les Royales, que aliás é meu parceiro”, conta.

Gagliano (leia abaixo) restaura guitarras e baixos brasileiros fabricados nos anos 1960 e 70. Juntos, eles expõem seus trabalhos em feiras e eventos.

“Quem tem nos ajudado a divulgar é o  Rogério Big Bross Brito, que tem usado meus amps em seus shows”, diz.

Entusiasta do trabalho de Beto e Gagliano, Júlio Caldas é só elogios: “Já utilizei os amps vintage de Beto em shows, super indico e até já encomendei um. Já o pedal Fuzz dele é baseado no de Jimi Hendrix, da fábrica Electro Harmonix e vou te dizer: o de Beto consegue ser melhor”, garante o freguês feliz.

Contato Carlos Alberto / Voodoo hand: busque o perfil tapete–voador no Facebook

Bônus: No vídeo abaixo, o guitarrista Cristiano Paganucci testa um pedal Voodoo Hand.



Músico da banda Les Royales restaura instrumentos raros dos anos 1960/70

Rogéro ainda faz um bico nos Honkers Foto: Nina Guerra
Músico bem ativo na cena underground, Rogério Gagliano se reveza entre o contrabaixo acústico na Les Royales (dos Retrofoguetes Rex e Morotó Slim) e a guitarra na Ivan Motosserra, na qual toca com seu irmão gêmeo, o baterista Rodrigo.

Além disso, ele também restaura instrumentos brasileiros antigos, especialmente os fabricados entre os anos 1960 e 70.

Ele adquire as peças via correio, encomendadas na internet. “Elas chegam depenadas, faltando  peças. Aí eu tenho uns canais pra conseguir réplicas em São Paulo”, conta.

Única opção para os músicos de décadas passadas, já que a importação era proibida, os instrumentos elétricos brasileiros eram considerados de baixa qualidade.

"A Gianinni, que era a maior fabricante, tinha a maior parte do mercado na época, mas eles não tinham muita noção, as guitarras eram bem rústicas", conta Rogério.

“Até que a Gianinni mandou um funcionário à fábrica da Fender nos Estados Unidos, para pegar o know-how. Hoje eu toco na Ivan com uma dessas, restaurada por mim mesmo”, conta.

Além de Gianinni, ele restaura instrumentos das fábricas Sonelli, Saema, Del Vecchio e Jog.

“As guitarras Sonelli são bem raras. É que a fábrica em Canelas (RS), inicialmente só fabricava acordeons. Com a Jovem Guarda e o estouro do rock, começou a fabricar guitarras, até que se acabou em um incêndio, em 1982. Restaurei uma de 1971 que ficou linda”, relata.

A famosa Sonelli restaurada por Rogério
"Ela só tinha um captador quando peguei. Aí achei os outros originais no Mercado Livre, mas eles tavam muio ruins, aí mandei rebobinar em São Paulo, deixaram novos. Peguei outras peças com o Roberto Fontanelli, que faz réplicas de peças antigas, como o escudo, que ficou igual como era da época, em três camadas: em acrílico, madrepérola e teclas. Mantive a pintura desgastada da época, acho que ela conta um pouco de sua historia. Aí peguei ela por R$ 500, gastei R$ 1 mil pra restaurar e vendi por R$ 2 mil. Quase não tive lucro, foi mais pela vontade de ressuscita-la, queria deixa-la como era na época em que foi fabricada", relata.

"Restauro baixos também, mas como a guitarra tem muita gente que coleciona, tem esse fetiche, eu foco mais nelas. O baixo, quando o cara compra, é pra usar, mesmo. Já a guitarra é colecionada. Tem um cara em Vitória da Conquista que tem umas 70. Pra mim, é um hobby que acabou virando uma atividade", relata.

Entre seus fregueses, Gagliano conta Alexandre (Scambo), Átila (IFÁ Afrobeat), Júlio Caldas e Teago (Maglore). “Vendi duas pra Teago mês passado”, diz.

"Rogério tem um trabalho bem legal de resgate de instrumentos antigos, que é uma coisa que me chama muito a atenção", diz Caldas.

"São instrumentos antigos nacionais raros, então eu fico pirado nos materiais", conclui o guitarrista.

Contato Rogério Gagliano: trovatomusical@gmail.com / http://rogeriogagliano.blogspot.com.br/

terça-feira, janeiro 19, 2016

RENEGADOS SERGIPANOS EM SALVADOR, NESTE SÁBADO

De Sergipe, a banda The Renegades of Punk já rodou Brasil e Europa. Sábado, tocam na city

Daniela, Amarílio e Ivo são os Renegades of Punk. Foto: Snapic
Uma tecla que esta coluna este blog gosta de bater de vez em quando é a riqueza da cena underground de nosso estado vizinho, Sergipe.

Quem acompanha a Coletânea o Rock Loco sabe que não perdemos a chance de falar das bandas de lá quando alguma vem se apresentar na cidade.

Pois bem, neste sábado, a aracajuana The Renegades of Punk toca na segunda edição do evento Tomasolnacara, organizado pelo coletivo TomanacaraHC, com as locais Ivan Motosserra, Antiporcos e Buster.

Ainda rola bate-papo sobre empreendedorismo independente com Dani e Ivo (da Renegades) e bazar cultural.

A RoP está na estrada desde 2007, quando Daniela Rodrigues (guitarra e vocais) e Ivo Delmondes (bateria e vocais) se viram sem banda, depois que O Triste Fim de Rosilene acabou.

“Quem tocava baixo era Maurício, um amigo nosso. Vínhamos todos de bandas que tinham acabado e nos juntamos por conta de algumas afinidades para continuar tocando. A gente desde muito tempo está envolvido com isso e pretende ficar por um bom tempo”, conta Daniela.

Me tire daqui

Desde então, o trio, hoje com Amarilio Carvalho no baixo, já rodou Brasil e Europa fazendo shows, lançou dois álbuns, compactos de vinil e participou de coletâneas com seu punk rock / hardcore old school furioso. Tudo, claro, no esquema “faça você mesmo”.

Cabelinho de um, cabelinho do outro... Foto Snapic
“Desde que temos banda estamos e fazemos parte ativamente deste submundo, o circuito underground, punk rock punk, faça você mesma. Então, Não tem bem uma fórmula ou modelo para fazer as coisas acontecerem além de... fazer! Produzimos merchandise (camisetas, discos, etc) que ajuda com os custos e temos uma vida ‘normal’, com trabalhos normais”, conta Daniela.

“Não vivemos de música, daí, para viabilizar projetos maiores, como a tour pela Europa, usamos uma combinação de fontes como, por exemplo, quatro eventos chamados ‘Me tire daqui’ que organizamos com o menor custo possível e ajuda de bandas amigas para reverter toda a entrada pra nossa caixinha”, detalha.

Sobre a sempre interessante cena sergipana, Daniela pontua que "Tem muitos artistas produzindo em diversos segmentos. No qual estamos inseridos mesmo, underground / punk rock, as coisas sempre são bem lentas, mas de um modo geral as coisas tem andado bem, com bandas realizando bastante coisas, viajando brasil afora, conseguindo uma boa distribuição. Voltou até a ter um festival local, coisa que tinha morrido desde o início dos anos 2000".

Menina à frente de um trio punk, Daniela vê com bons olhos esse momento de boom do feminismo nas discussões on e off line: "De fato o feminismo é 'tendência'. E é ótimo que seja! Ele tem aparecido mais na mídia grande, tem estado na estética e no discurso de artistas femininas no mainstream, mas ao mesmo tempo temos sofrido uns retrocessos brutais. Espero que tudo isso resulte em algo que vá além do oba-oba internético. Tenho sempre esperança. O feminismo é uma questão urgente, de importância singular e tem que ser fortalecido e mantido na pauta sempre. Espero que isso se concretize. Uma análise mais precisa deste nosso momento atual só poderá ser feita no futuro", percebe.

Devagar e sempre, o trio  faz planos: “Temos alguns projetos que estão, lentamente, se desenvolvendo. Estamos compondo um novo álbum, nosso segundo, e preparando um split com uma banda que gostamos muito de São Paulo. Vamos participar de um tributo ao Leptospirose e uma coletânea. Temos algumas viagens marcadas agora no primeiro semestre e é só por enquanto. Gostaríamos demais de voltar pra Europa, talvez quando o disco for lançado, mas gostaríamos mais ainda de concretizar planos de rodar pela América do Sul, como alguns amigos nossos de alguns países vizinhos tem nos incentivado a fazer. Quem sabe em 2017?".

"O show do dia 23, aí em Salvador, vai ser bem legal. Espero rever minhas amigas e amigos de longa data. Vai ser mais um vez no esquema faça-você-mesm@ e vai ser o primeiro show dessa nova formação, que conta agora com nosso amigo Amarilio no baixo. Nossas expectativas são as melhores possíveis", conclui Daniela.

Tomasolnacara II / Com The Renegades of Punk, Ivan Motosserra, Antiporcos e Buster / Sábado, 15 horas / Buk Porão Bar (Rua do Passo, Pelourinho) / R$ 10

Conheça: www.facebook.com/rop07



NUETAS

Nalini e Soir, hoje

A cantora baiana Nalini é uma das atrações de  hoje do Quanto Vale o Show? no Dubliner’s. O cantor Soir completa o line-up. Hoje, 19 horas, pague quanto quiser.

No Sarau d’A Flauta

A Flauta Vértebra segue em temporada do seu Sarau D’A Flauta aos domingos de janeiro no Âmbar Café (Av. Afonso Celso, Barra). No próximo, tem participações das bandas Calangazoo e Sertanília. O Sarau ainda tem mostra de artes plásticas, lançamentos de livros etc. 16 horas, R$ 20.

Yes, eles tocam Raul

O ex-Panteras Eládio se junta à cantora e super-guitarrista Thathi em dois shows para... tocar Raul, claro. Sexta e sábado, às  20h30, no Café-Teatro Rubi, R$ 60.

sábado, janeiro 16, 2016

EM A ENTREGA, DENNIS LEHANE CONSTRÓI TRAMA POLICIAL COM INTERESSANTE PAINEL SOCIAL DE BOSTON

Noomi Rapace (Nadia), Tom Hardy (Bob) e o cãozinho no filme A Entrega
O que você faria se, numa noite de inverno, encontrasse, dentro de uma lata de lixo, um cãozinho todo machucado, meio morto  e com frio?

É com esse início quase fofo que Dennis Lehane (Sobre Meninos e Lobos), inicia seu último romance, o ligeiro A Entrega.

Quem encontra o filhote é Bob, o melancólico barman do pub Cousin Marv’s, em Boston.

Marv, primo de Bob, foi gangster de certa proeminência na cidade até a chegada da máfia chechena, que comprou o bar em segredo e o transformou em um ponto de entrega de dinheiro sujo.

Espertos, os mafiosos mantiveram Marv a frente do estabelecimento, mantendo assim, as aparências.

Mas outras histórias mal-resolvidas cercam o Cousin Marv’s, como o desaparecimento de Richie Glory Days Whelan, malandro local sumido há dez anos.

O caso Glory Days é a pedra no sapato de Torres, o policial latino que frequenta a mesma paróquia que Bob, católico de origem polonesa (pelo que se pode deduzir de seu sobrenome, Saginowski).

Torres vive intrigado com o fato de que Bob nunca se levanta para comungar a hóstia durante a missa.

Quando adota o cachorro, Bob conhece Nadia, outra criatura machucada pela vida, que o ajuda com o cãozinho e cujo ex-namorado violento, o ex-presidiário Eric, se diz dono do bicho e o quer de volta.

Todo mundo tem segredos 

É nesse interessante painel social de Boston que Lehane constrói uma trama que captura a atenção do leitor, tanto pela agilidade da narrativa, quanto pelo clima sórdido e deprimente que envolve os personagens.

Como em todo bom romance policial de inspiração noir, em A Entrega todo mundo tem um segredo sombrio.

E esses segredos movem os personagens em suas ações – desde as mais prosaicas, como resgatar um cachorrinho machucado, quanto as mais malévolas, que os levam a atos de violência.

E a violência que surge nestas páginas, como na vida real, sempre parte de onde menos se espera, pegando  o leitor desprevenido – uma boa amostra da habilidade narrativa do autor.

Lehane roteirizou ele mesmo a adaptação cinematográfica homônima, que contou com o grande James Gandolfini (Família Soprano) em seu último papel, como Marv.

A Entrega / Dennis Lehane / Companhia das Letras / 184 p. / R$ 39,90 /  E-Book: R$ 27,90

sexta-feira, janeiro 15, 2016

SOB NOVA DIREÇÃO

Luciana Comin, Marconi Araponga, Paulinho O e Teresa C. Foto Alex Souzan
Grupo de artistas assume Teatro Molière, da Aliança Francesa, com proposta de abrir, dinamizar e diversificar programação

Teatro pequeno (132 lugares), porém aconchegante e com excelente localização, o Molière, da Aliança Francesa, ganhou uma programação renovada e dinâmica no verão.

Fundado por quatro artistas atuantes no teatro e na música na cidade, o coletivo Guilda de Artistas assumiu a direção artística da casa, implementando uma nova programação com peças (adulta e infantil), shows musicais, oficinas e mostras na galeria anexa.

A Guilda é, por enquanto, formada por dois casais: Luciana Comin e Marconi Araponga (sócios na companhia Teca Teatro) e Paulinho Oliveira e Teresa Costalima (do Teatro Sitorne).

“Queríamos ampliar nossos trabalhos no teatro, então para nós, poder trabalhar com o Molière já é uma grande conquista”, afirma Luciana.

A menina Zizi à frente do espetáculo Rock in Family Foto Alessandra Nohvais
“Como eu e Marconi trabalhamos com teatro infantil e Teresa e especializada no público adulto, combinamos em nos associar para trazer uma programação mais diversificada para a casa, com Paulinho Oliveira cuidando da parte de shows de música”, detalha.

A programação pode ser conferida no Facebook do teatro, que, Luciana espera, venha a se tornar um centro agregador: “Nossa proposta de gestão para o Molière é que ela tenha a cara dos artistas, que não seja apenas administrativa, e sim, que promova encontros e parcerias com outros artistas da cidade”, afirma.

“A Guilda somos só nós quatro – mas por enquanto, por que estamos abertos a receber propostas de grupos e artistas para consolidar a programação”, convida Luciana.

Típicos. Ft Alessandra Nohvais
Além de mais artistas, o grupo espera atrair também, em algum momento, patrocinadores dispostos a colaborar na manutenção do espaço.

“Iniciamos esta ação de forma completamente independente, sem nenhum apoio além dos artistas se juntando para fazer acontecer. É uma oportunidade para mostrarmos nossa cara e, quem sabe  empresários ou mesmo o poder público  se interesse, já que  é imprescindível contar com algum tipo de apoio ou patrocínio”, afirma.

Family, Típicos, Eric

No palco, Luciana e  Marconi, a filha Zizi, de oito anos, e  um grupo de músicos respondem pelo espetáculo cênico-musical Rock in Family, que apresenta clássicos do rock para crianças, sempre às 11 horas, sábados e domingos, com canções dos Beatles, Eduardo Dusek, Raul Seixas e Titãs.

“Fazemos uma releitura para o universo infantil dessas canções, de  modo que todos se divirtam e cantem juntos. Entre uma música e outra, fazemos uma cena ou contação de histórias”, descreve.

“Inclusive, o Café Terrasse, da Aliança, estará aberto desde as 9 da manhã, para as famílias que quiserem tomar café juntas”, acrescenta.

Eric Assmar , em foto de Priscila Figliuolo
Já o espetáculo adulto Típicos bota no palco do Molière a dupla Clarissa Napolli e Diogo Baleeiro como um casal às voltas com sua rotina, familiares e amigos.

“É uma história do  tipo casa- separa-e-volta, uma comédia em que  pegamos situações que todo mundo vive, como  o marido fanático por futebol, a  toalha molhada na cama, e abordamos de forma engraçada”, descreve Clarissa.

Além do casal, a dupla se reveza em outros papeis, como o da sogra intrometida ou o da amiga intrigueira.

“E a gente comenta a própria peça, como um stand-up, e chamamos o publico para participar e dar sua opinião”, acrescenta.

Fãs do rock local também devem se ligar na programação do Molière, que terá shows do próprio Paulinho Oliveira (um veterano do rock local, ex-Cascadura) e Lo Han (no dia 29), Eric Assmar Trio  e Alex Mesquita (dia 22).

“Vamos mostrar músicas do meu primeiro CD e fazer uma prévia do próximo, que sai nesse semestre”, conta Eric.

“Gosto muito de tocar em teatro, a atenção do público fica mais focada, totalmente diferente de tocar em casas de show. E ainda tem o mestre Alex Mesquita, que vai fazer um show acompanhado de outros dois grandes músicos: Luciano Calazans no baixo e Marcelo Brasil na bateria”, convida.

www.facebook.com/teatromolieresalvador

Destaques da programação

Contos de Fadas, Bichos e Gente / Teatro infantil / Dias 23 e 24, 30 e 31, 17 horas / R$ 40 ou R$ 20

Foto da exposição de Alessandra Nohvais
Oficina Dança Aérea em Tecido para Crianças / Com Naia Pratta / A partir de 7 anos / Informações: (71) 9 9254-1163

Alex Mesquita +  Eric Assmar Trio  / Dia 22 / 21 horas / R$ 40 ou R$ 20 (meia, lista amiga)

Paulinho Oliveira +  Banda Lo Han /  Dia 29 / 21 horas / R$ 40 ou R$ 20 (meia, lista amiga)

Instantes de Cenas Expostas / Mostra de Alessandra Nohvais / De segunda a domingo / Galeria da Aliança Francesa / Gratuito

quinta-feira, janeiro 14, 2016

PODCAST ROCKS OFF PRESTA CONDOLÊNCIAS ÀS FAMÍLIAS KILMISTER E JONES

Cartum do alemão Rojé, pescada do site Whiplash
Oh, you pretty things, saibam que o podcast Rocks Off presta sua homenagem aos mortos ilustres da virada 2015 / 2016: David Bowie e Lemmy Kilmister.

Nei Bahia, Osvaldo Braminha Silveira Jr. e este blogueiro se reuniram na noite da última terça-feira (dia 12) para calçar suas luvas de iron  fist e chorar suas pitangas, avaliar legados, comparar estilos, origens, influências e até fazer o advogado do diabo.

Enjoy - se puder, baby...





Bônus:

quarta-feira, janeiro 13, 2016

NOVINHA NA CENA, HAVANA ROCK CLUB FAZ SHOW (QUASE) DE GRAÇA NO SÁBADO

Rapaziada da Havana Rock Club, foto  Bruno Campello
Não importa se o sentimento agora é de perda: o rock sempre dá um jeito de se reinventar e surpreender – inclusive na Bahia.

Desde a semana passada, com a Ivan Motosserra, esta coluna este blog vem apresentando aos leitores novas bandas do cenário local para 2016.

Esta semana, quem chega para ajudar a renovar a cena é a banda Havana Rock Club.

O quarteto tem, digamos, estirpe: sua origem pode ser traçada desde finada Gozo de Lebre, banda que surgiu no início da década, rompendo com aquele clima pretensioso influenciado pelos eflúvios mpbísticos dos Los Hermanos.

Banda kamikaze, a Gozo logo implodiu.

O baterista, Enrique Araújo, ainda formaria outra banda em 2014, a Donna Blues.

Uma temporada na Irlanda, porém, levou Enrique a abandonar o grupo, que se desfez.

“Quando voltei, me juntei com Dico Marques (baixista da Donna),  pegamos umas letras antigas e montamos uma banda nova, a Havana. Aí passamos a procurar músicos”, relata o ex-batera, agora à frente do microfone.

O filho do baixista

A busca por baterista e guitarrista acabou rendendo bem para a dupla. Ozzy Sampaio assumiu a batera com competência.

Já na guitarra, a Havana traz uma jovem revelação: Gabriel Grow, pelo que se ouve na faixa Pra Me Tirar do Sério, chegou para honrar a tradição baiana de guitar heroes.

“Grow nunca teve banda, mas toca muito. O pai dele é baixista da (banda)  Cheiro de Amor, Júnior Peteca. Foi um achado, mesmo”, conta, orgulhoso, Enrique.

Formada apenas em setembro, a Havana Rock Club lança EP com 5 faixas ainda este mês. A única divulgada até agora é Pra Me Tirar do Sério, que ganhou um clipe dirigido pelo parceiro e ex-vocal da Gozo de Lebre, Mateu Prates,

Pra Me Tirar do Sério surpreende pela pegada hard rock atemporal: pesada, mas acessível e divertida o bastante pra fazer voar cerveja pelo tetos dos inferninhos locais.

Neste fim de semana, o quarteto se apresenta na varanda do Taverna com Honkers, Ivan Motosserra e Os Jonsóns. É rock pra parar o trânsito do maldito Rio Vermelho.

"Sábado tem esse show na rua, dia 26 no Quanto Vale o Show? e 12 de fevereiro tocamos no concurso Pró30, do Bar 30 Segundos. Queremos fazer o máximo de shows fora do circuito tradicional do rock para tentar aumentar a audiência, mas tocar sempre no circuito também. Fora isso, vamos fazer ainda outro EP no segundo semestre e juntar tudo em um disco cheio de 12 faixas. Queremos tocar com bandas grandes e tentar sair daqui e melhorar essa cena, que tá fraca. OK, Baiana System tá bombando e tem outras coisas aparecendo, mas mesmo assim tá fraco", avalia Enrique.

The Honkers, Os Jonsons, Ivan Motosserra e Havana Rock Club / Varanda do Taverna Music Bar  / Sábado, 16 horas / Pague quanto quiser

www.facebook.com/havanarockclub



NUETAS

Retrofolia no trio em 2015. Foto Ricardo Prado
Retrofolia 2016

Separe mortalha, confete e serpentina: sexta-feira os Retrofoguetes fazem o nono ano da Retrofolia no Commons Studio Bar. 22 horas,  R$ 30 ou R$ 20 (fantasiado ou com nome  na lista amiga).

Domingão do HC

Matinê hardcore: as bandas Node, Aphorism, Derrube o Muro e Asco inauguram o Toma Sol na Cara, série de eventos do blog / coletivo TomanacaraHC. Além dos shows, rola bate-papo sobre Hardcore e Mídias de massa e bazar cultural. Dubliner’s, domingo, 15 horas, R$ 10.

terça-feira, janeiro 12, 2016

ADEUS, STARMAN

1947-2016

Ele bem que avisou.

Em seu último vídeo clipe, Lazarus (aquele que Jesus ressuscita na Bíblia), David Bowie aparece vendado e agonizando, tendo convulsões em uma cama de hospital.

“Olhe aqui pra cima, eu estou no Paraíso / tenho cicatrizes que não podem ser vistas”, canta o Starman, enquanto uma outra versão sua, em um traje preto e branco, senta-se em uma escrivaninha, rabiscando.

No fim do vídeo, ele entra em um armário enorme de madeira – um caixão apropriado para um esteta.

Ele bem que tentou nos avisar – mas ninguém viu (ou quis ver) que era mesmo um aceno de despedida.

Como sempre, David Bowie estava anos-luz à frente do resto da humanidade.

Até que a manhã de ontem caiu como um viaduto sobre o mundo, trazendo o comunicado oficial de sua morte: “David Bowie morreu em paz hoje, cercado por sua família depois de uma corajosa batalha de 18 meses contra o câncer. Enquanto muitos vão dividir a dor pela sua perda, pedimos que vocês respeitem a privacidade da família neste período de luto”.

Ziggy tocava guitarra

Nascido David Robert Jones em Londres, no dia 8 de janeiro de 1947, o homem que morreu apenas dois dias após seu aniversário – e do lançamento do seu último álbum, Black Star – não é, nem nunca foi, apenas mais um roqueiro remanescente dos anos 1960 / 70.

Com sua voz inconfundível, David Bowie foi, ao lado de  gigantes como Bob Dylan e os Beatles, um dos responsáveis por fazer do rock uma forma de alta arte.

Ou seja, de trilha sonora para bailinhos de debutantes da era Elvis Presley, Bowie fez rock para refletir o mundo que o cercava e o assombrava, com suas guerras, drogas e foguetes para o espaço sideral.

Sua vasta discografia, com 25 álbuns de estúdio, é uma das mais brilhantes e diversas da história da música pop.

A cada disco, ele parecia querer começar tudo de novo: o folk hippie de Space Oddity (1969) deu lugar ao rock pesado de The Man Who Sold the World (1970), que levou pré-glam de Hunky Dory (1971) e ao glam total de Ziggy Stardust (1972), obra conceitual sobre um astro alienígena do rock, com o qual conquistou de vez o planeta Terra.

Podemos ser heróis

Se tivesse feito só essa sequência de álbuns geniais, David Bowie já seria lembrado como um dos maiores nomes do rock.

Mas o homem, definitivamente, não era deste mundo.

Nas décadas seguintes, Bowie captaria no ar as vibrações da disco music antes que esta se tornasse moda (Young Americans, 1975), profetizaria a ascenção da música eletrônica via Kraftwerk (Trilogia Berlim, com os álbuns Low, “Heroes” e Lodger), anteciparia a onda new romantic (Scary Monsters, 1980) e reabilitaria o pop radiofônico (Let’s Dance, 1983).

No fim dos anos 1980, sentiu, antes do grunge, que era hora de um retorno ao rock pesado, formando a banda Tin Machine, com a qual lançaria dois álbuns.

E seguiu ao longo dos anos 1990 lançando bons álbuns, como Black Tie White Noise (1993) e Outside (1995).

Se tivesse apenas lançado todas essas obras, já seria considerado um dos maiores artistas da música popular do século 20.

Mas Bowie nunca  foi “só” músico. Foi também ator de cinema, em inesquecíveis filmes de vanguarda como O Homem Que Caiu na Terra (1976), Fome de Viver (1983) e Basquiat (1996).

 Ainda fez teatro, sendo lembrado  pela sua atuação como o trágico John Merrick, o  Homem-Elefante.

Desenhava as roupas de seus personagens e produziu álbuns fundamentais de Iggy Pop e Lou Reed.

Foi um talento de outro mundo.

Let’s Dance: Guia básico para amar David Bowie 

The Man Who Sold The World (1970)


Após o hit Space Oddity, inaugura a prolífica parceria com Tony Visconti (produtor) e o guitarrista Mick Ronson. Além da faixa-título, traz os petardos Saviour Machine e Black Country Rock









Hunky Dory (1971)

Obra-prima que alterna baladas emocionantes (Life on Mars?, Oh! You Pretty Things, Kooks) com rocks densos como Queen Bitch, Changes, Andy Warhol e Song for Bob Dylan. Sim, era um gênio que despontava

The rise and fall of Ziggy Stardust (1972)

Um dos maiores clássicos da história do rock e álbum que o tornou mundialmente famoso. Além da faixa-título, traz todas as outras, igualmente geniais e essenciais, de cabo a rabo

“Heroes” (1977)

Segundo LP da Trilogia Berlim e um dos mais influentes. A produção cheia de texturas, inspirada por Brian Eno, emoldura a lindíssima faixa-título, sobre amantes que se encontram no Muro de Berlim.

Let’s Dance (1983)

Em plena New Wave, Bowie entra em campo para mostrar como é que se faz. A faixa-título, Modern Love, China Girl (de Iggy Pop) e Cat People (tema do filme A Marca da Pantera) levantam pistas de dança até hoje

quinta-feira, janeiro 07, 2016

ADEUS AO SENHOR WR

Wesley Rangel, morto na madrugada de quarta-feira, enviou o que pode ser seu derradeiro depoimento à imprensa ao repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde.

Início dos 1990: Wesley com Jimmy Cliff, que gravou com o Olodum no WR
Agora que o homem não mais caminha entre os vivos, todos tem algo a dizer sobre o produtor e empresário baiano Wesley Rangel, morto aos 65 anos na madrugada de quarta-feira, no Hospital Aliança. 

E, certamente, são muitos os que lhe devem homenagens. Dos artistas fundadores da axé music ao pagode, do rock ao regional, do samba ao reggae, dos blocos afro às filarmônicas, do jazz ao blues: todo mundo que é alguém na música baiana dos últimos quarenta anos deve ter tido seu momento de reflexão sobre o senhor Wesley Rangel, desde que foi divulgado o seu falecimento.

Homem prático, mas de intuição acuradíssima, Rangel vinha ele mesmo refletindo sobre sua carreira e a música baiana em seus últimos dias.

Em outubro de 2015, ele concedeu o que deve ter sido seu último depoimento ao jornal A TARDE, a propósito de uma matéria publicada no Caderno 2+ (em 31 de outubro), sobre os 40 anos de fundação dos Estúdios WR. Por questões de espaço, quase nada foi aproveitado na matéria.

Anexo ao texto, um arquivo zipado trazia dezenas de fotos do seu arquivo pessoal. Algumas delas estão aqui.

Já debilitado pelo câncer, Rangel ignorou as perguntas enviadas por email pelo repórter e lhe enviou um extenso documento em que passava a limpo sua carreira – um texto meio currículo, meio memórias e reflexões.

“Fundei a WR em 1975, com a missão de modernizar a produção publicitária de áudio na produção de spots, jingles, trilhas e áudio visuais na Bahia”, foi como ele iniciou o texto.

Momento histórico: Dr. Cascadura e Dead Billies assinam no WR
Do Fricote ao pagode

Em trecho mais adiante, ele demonstra sua afiada intuição ao interferir de forma decisiva na gravação da fundamental Fricote, de Luiz Caldas: “Quando aluguei uma bateria eletrônica  Simmons em São Paulo, foi uma iniciativa que ainda não contava com a aprovação de Luiz e dos músicos da Acordes verdes. Avisei a ele minha decisão de gravarmos o LP Magia em meados de 1984, em uma lanchonete na Rua Manoel Barreto (Graça). Quando lhe apresentei a Simmons, ele ficou com dúvida da sonoridade”.

Mais adiante, Wesley reflete sobre o atual estado da indústria musical baiana: “Estamos em um momento de grande crise. Com o surgimento dos pequenos estúdios, nossos cantores  esqueceram que o sucesso vem com a inovação, com uma identidade definida. O que estamos presenciando é a era dos clones”, escreve.

“Outro fenômeno muito sério é o sucesso do evento em detrimento do sucesso do artista. Vimos, nos últimos anos, várias bandas surgindo com elevadas quantias investidas em marketing, esquecendo que o sucesso do artista é o que alavanca os eventos”, afirma.

Arto Lindsay, caetano Veloso e amigo no WR
Outra crítica do produtor é a tendência a imitação de estilos estrangeiros: “Vejo  uma tendência de vários profissionais baianos em copiar a música externa. Isso não traz novidade e nenhum benefício para nossa música, que tem sido matriz para vários cantores de prestígio internacional, a exemplo de Michael Jackson, Paul Simon, David Byrne e outros que vieram à Bahia para ‘beber da fonte’. E nós querendo copiar o que eles já nem fazem mais”, indignou-se.

Falando sobre o pagode, citou o preconceito dos próprios músicos com o estilo: “O próprio artista baiano nutre um velado preconceito com esse produto tão popular e tão importante para o nosso carnaval. A Bossa Nova, nossa música de maior prestígio nacional, por exemplo, não é apreciada por uma parte considerável da população brasileira que passou mais de trinta anos cega, surda e muda com aquele golpe militar que acabou com a educação em nosso País. Ao mesmo tempo, músicas como Chupa Toda e Na Boquinha da Garrafa, eu tive dificuldade de grava-las, e foram produtos de grande aceitação pelas gravadoras, meios de comunicação e o público”.

“Depois que vi Jô Soares, Xuxa e outros nomes da comunicação nacional descendo na boquinha da garrafa, depois de ver Ivete ‘chupando toda com Gilberto Gil e Bono, comecei a perceber que eu mesmo carregava uma grande dose de preconceito, o que me atrapalhou muito profissionalmente. Hoje, fujo dos preconceitos que só atrapalham o ser humano”, concluiu Rangel.


WR 40 - Após quatro décadas de criação, o Estúdio WR sofre com crise e concorrência desleal, mas segue firme fazendo a história da música baiana

(Matéria publicada  no Caderno 2+ em 31 de outubro de 2015)

Wesley (de bigode) com Elomar (de chapéu) e sua trupe
Em tempos de crise, o que mais se vê por aí é urubu torcendo pelo fracasso alheio.

Para esses, é bom reservar a máxima do rapper local MC DaGanja: “Deixa de fofoca e vai trabalhar”.

Aos 40 anos completos em agosto último, os Estúdios WR parecem levar o dito muito a sério, seguindo firme no jogo duro do negócio musical.

Criado pelo administrador e advogado Wesley Rangel em 1975 como estúdio de jingles, o WR é considerado o primeiro estabelecimento profissional da sua categoria na Bahia.

Desde então, sua trajetória e a do seu estúdio se confundem com a própria história da música baiana. Muito já se escreveu e se falou sobre a saga do estúdio e dos músicos a ele ligados na criação de todo um gênero (a axé music) e do mercado voraz que o explorou até seu quase esgotamento.

Quatro décadas depois de criado e três depois da axé music, o WR pode não ter mais o tamanho e a influência que marcaram boa parte de sua história.

Mas quem pensa que a decadência de sua cria derrubou o estúdio está redondamente enganado.

Há pouco mais de uma semana, o Caderno 2+ foi ao WR conferir um dia normal no estúdio – e tudo estava em seu devido lugar, com as duas salas principais da casa funcionando a pleno vapor.

Enquanto, no térreo, o produtor e gerente técnico Luis Fernando Apu Tude comandava as gravações do primeiro disco da banda de rock Batrákia, o cantor Pierre Onassis ocupava o estúdio do segundo andar, ensaiando com sua rediviva banda Afrodisíaco.

“Não se pode negar que há uma crise”, admite Apu, dando uma pausa com a Batrákia. “Mas aqui não pára, não. Sempre tem gente passando por aqui: Pierre Onassis, Banda Eva, É o Tchan, Tuca, Pablo e muitos outros”, afirma.

O produtor Nestor Madrid, que fez história no WR
De sua casa, onde luta contra uma enfermidade, o fundador Wesley Rangel enviou um depoimento à reportagem, na qual reflete sobre o atual estado do mercado.

“Estamos em um momento de grande crise na música baiana.  Com o surgimento dos pequenos estúdios, nossos cantores  esqueceram que o sucesso vem com a inovação, com uma identidade definida. O que estamos presenciando é a era dos clones”, escreve.

“O mercado precisa entender que o artista novo tem que ser cuidado com um produtor profissional para estudar sua linguagem”, acrescenta.

Essa é a principal dificuldade dos estúdios profissionais hoje: com o barateamento das tecnologias, artistas de fundo de quintal gravam a torto e a direito – e os resultados podem variar do sublime à mais completa porcaria.

“A grande concorrência hoje vem mesmo é dos home studios (estúdios caseiros)”, admite Apu.

“Tem o lado bom, que facilita ao artista criar coisas novas. O lado ruim é que derruba  a qualidade do áudio”, pesa.

Templo da música

Saques geniais, glórias passadas, poder, influência, dificuldades, enfermidade: de tudo isso se faz a trajetória de 40 anos desse sítio histórico da cultura musical baiana.

Mas talvez o principal ponto a ser destacado nesse momento seja a correção de uma injustiça histórica.

“Acho errado continuarem chamando o WR de ‘Templo do Axé’”, protesta Apu, se referindo ao título amealhado nos tempos de reinado do estúdio.

“O WR é na verdade o Templo da Música Baiana. Porque todo mundo gravou aqui. Da Orquestra Sinfônica (Osba) às filarmônicas, do pessoal do rock ao pessoal do samba, da MPB, foi todo mundo”, diz.

Rangel e Roberto Mendes. Todas as fotos: arquivo WR
De fato: não só pedras fundamentais do axé e do pagode foram gravadas no WR, mas também obras clássicas  da MPB, do rock e da música regional foram lá registradas.

No exterior, já é comum  estúdios históricos se tornarem até parte do circuito turístico e abertos à visitação, como Electric Lady (Nova York), Sun (Memphis),  Hansa (Berlim) e Abbey Road (Londres).

O WR, com certeza, já reúne as credenciais para tanto.

“Depois que vi Jô Soares e Xuxa  descendo na Boquinha da Garrafa,  de ver Ivete chupando toda com Gil e Bono, vi que eu mesmo carregava uma grande dose de preconceito que me atrapalhou profissionalmente. Hoje, fujo dos preconceitos que só atrapalham o ser humano”, conclui Rangel.