segunda-feira, outubro 16, 2017

JESUS HIPPIE

Alegoria do mito cristão, clássico Um Estranho Numa Terra Estranha, de Robert A. Heinlein segue atual em tempos de manipulação da opinião pública e conservadorismo hipócrita

Trinca: Heinlein, L. Sprague de Camp e Isaac Asimov. Foto USNavy/Wikicommons
Leitores habituais de ficção científica estão bem familiarizados com o conceito, mas nunca é demais repetir: quase sempre, o que parece uma extravagância com naves espaciais, robôs e alienígenas é na verdade  alegoria que aborda temas de política, filosofia, religião, sexualidade, cultura.

Lançado em 1961, Um Estranho Numa Terra Estranha, de Robert A. Heinlein (1907 - 1988) é um dos melhores e mais bem acabados exemplos da utilização da ficção científica para descrever e quem sabe, tentar modificar a realidade.

Autor de clássicos como Tropas Estelares, O Dia Depois de Amanhã e O Planeta Vermelho, Heinlein é considerado pelos estudiosos um dos Big Three, o conjunto dos três maiores escritores de FC de língua inglesa, sendo os outros dois Isaac Asimov (Eu, Robô) e Arthur C. Clarke (2001).

Em Um Estranho Numa Terra Estranha, Heinlein fez uma exaustiva releitura do mito cristão (ou de Prometeu, aquele que traz o fogo da sabedoria), adaptado para uma visão do futuro  humano.

A trama acompanha a trajetória de Valentine Michael Smith, filho de um casal de pesquisadores pioneiros que o concebem na viagem até Marte.

Pouco depois de chegar ao planeta, o casal morre pelos rigores da viagem e o menino é adotado pelos marcianos.

Uns 30 anos depois, o humano criado em Marte é trazido à Terra para facilitar as relações diplomáticas entre os planetas.

A partir daí o romance entra em uma verdadeira espiral psicodélica por meio do choque cultural entre o marciano e os terráqueos.

Absolutamente desprovido de maldade, Mike, como é chamado, se envolve com uma enfermeira (que se torna sua amante), um médico / advogado / romancista (que se torna seu guru) e diversos outros personagens à sua órbita, um mais exótico que o outro.

Amor livre


A certa altura, Mike resolve fundar sua própria religião, promovendo ideias “revolucionárias” como amar ao próximo e uma certa bondade intrínseca. Seus iniciados – na língua marciana – acabam desenvolvendo poderes psíquicos similares aos dele.

Estas particularidades, além do amor livre pregado – e fartamente praticado pelos iniciados – escandaliza os adeptos das religiões tradicionais e – claro – políticos oportunistas.

O fim dessa história não é difícil de adivinhar.

Cultuado nos anos 1960, Um Estranho... influenciou de forma decisiva a contra-cultura hippie, realmente ajudando a modificar a realidade da cultura ocidental.

No fim do livro, um ensaio defende que Mike é, na verdade, o Arcanjo Miguel.

Um Estranho Numa Terra Estranha / Robert A. Heinlein / Aleph / Tradução: Edmo Suassuna / 576 p. / R$ 69,90

Nenhum comentário: