terça-feira, dezembro 05, 2017

ATITUDE: NEGRO ROCK

Reserve na agenda: dia 16, OQuadro lança o espetacular Nêgo Roque no Pelourinho


OQuadro, foto Rafael Ramos 
Coluna aumentada hoje por uma causa nobre: OQuadro, o espetacular grupo original de Paulo Afonso, finalmente lançou seu segundo álbum, o aguardado Nêgo Roque.

Nesta sexta-feira, o septeto aporta nas instalações linabobardianas do Sesc Pompeia (SP) para o show de lançamento nacional. No dia 15 é a vez de Aracaju.

E no dia seguinte, 16, o Largo Pedro Archanjo será o palco do encontro do grupo com seus fãs locais.

No disco, OQuadro pinta aquela sonoridade retada com rap, eletrônica, soul e rock para propor uma retomada do rock pela juventude preta.

Não que a galera tenha deixado o cabelo crescer e pendurado uma guitarra no pescoço.

A parada é mais profunda: “Falamos do rock enquanto atitude. Muito mais que distorção, (rock) é transgressão, tanto na forma de fazer a música quanto no que está sendo dito”, afirma Jef Rodriguez.

“Nesse novo álbum, o discurso está mais direto, colocando em pauta assuntos fundamentais para o momento histórico que estamos vivendo. Houve uma época em que o rock cumpriu esse papel, mas com o passar do tempo, a estética das sonoridades ganha mais atenção do que o espírito questionador que colocava os valores sociais em cheque. Isso também acontece com o rap, e com outros estilos”, acrescenta Jef, indo direto na mosca.

Lançado pelo selo Natura Musical e com patrocínio do Governo do Estado, Nego Roque foi produzido pelo próprio grupo em parceria com Rafa Dias e mixagem de andré t.

Nas tracks, participações preciosas de Indee Styla,  Raoni Knalha (ambos em Luz), BNegão (Nêgo Roque), Emicida e DJ Gug (ambos em Muita onda).

“BNegão é uma referência desde a época do Planet Hemp, a música Nêgo Roque combinou perfeitamente com ele. Emicida é um prodígio da rima, fez a letra na hora e ficou impecável. Raoni e Rafa Dias são amigos desde a época em que fizemos turnê juntos pela Europa em 2013, já temos um entrosamento natural”, diz.

“Indee Styla também é uma amiga que temos já faz um tempo e quando o refrão de Luz nasceu naquele tom, imaginamos a voz dela e ficamos felizes com o resultado. Sem contar que tem teclados de André T, uma guitarra de Chibatinha (ÀTTØØXXÁ) em O Erro Me Atrai. Parcerias que ficamos felizes em ter no álbum”, acrescenta Jef.

Pode vir!

OQuadro, foto Rafael Ramos
Sucessor do álbum homônimo de estreia lançado em 2012, Nêgo Roque pode ter demorado de sair, mas esse é o tempo do artista – e não o da indústria.

“Existem várias nuances nesse processo. Gravar um álbum não é algo simples, gera um custo e queremos sempre fazer o melhor possível. Existe uma velocidade imposta para a produção artística que tem tornado as coisas mais obsoletas, e não sei se queremos entrar nessa onda. Gostamos das coisas menos perecíveis e isso demanda um tempo”, afirma.

"Esse é o nosso álbum mais eletrônico, principalmente se comparado ao primeiro de 2012. É da natureza do hip-hop, a música feita a partir de recortes e samplers, mas quando começamos, não tínhamos acesso aos equipamentos eletrônicos comumente usados na produção de raps, daí fomos usando os instrumentos tradicionais e isso acabou determinando um estilo, uma estética, que virou nossa marca. Hoje podemos transitar pelos timbres e fazer combinações entre orgânicos e eletrônicos, abrindo ainda mais possibilidades", acrescenta.

Exuberante, a sonoridade de Nego Roque passeia por diversos ritmos e texturas da música pop contemporânea, resultado da vivência de quem respira música todos os dias.

"É uma pesquisa espontânea. Escutar músicas todos os dias nos faz perceber que as células rítmicas conversam e se conectam. Seja entre o Trap e o Punk Rock, entre o Dance Hall e o samba do recôncavo, entre o Zouk e o Samba Reggae, enfim, somos apenas ponte para essas conexões. No geral, uma ideia estimula outra e vira uma reação em cadeia. Nesse álbum tivemos letras que nasceram no estúdio, músicas que nunca foram ensaiadas antes, resultado de experimentações. O entrosamento e a confiança no outro talvez sejam a base para essa fluidez", detalha.

Como se vê, essa rapaziada não está aí para mero entretenimento, e sim para mandar seu recado: na veia, contundente, incômodo para mentes ditas (cof cof) “conservadoras”: “Não há fordismo na minha poesia, degusto o ócio e a lentidão na produção de cada linha. Indo de encontro a velocidade imposta na linha de montagem, meus versos nascem do estado de greve daqueles que vivem à margem”, avisam eles, em Pode Vir.

Meio eletrônico, meio orgânico, o novo trabalho do septeto de Paulo Afonso é o disco perfeito para fechar 2017 sambando na cara dos caretas: “ É preciso reconhecer que a indústria cultural cumpre um papel fundamental na forma como somos educados a consumir arte. O produto artístico mais veiculado é aquele que apenas entretém, principalmente para quem vive uma jornada intensa de trabalho”, afirma Jef.

“A mesma indústria que se apropria da música negra e coloca rostos brancos sorridentes para divertir o povo. Isso acontece no rock, no samba, na música baiana. Se o jovem negro abriu mão do rock, é apenas um reflexo do recorte racial que a indústria faz desde sempre”, conclui.

OQuadro é Jef Rodriguez (voz), Nêgo Freeza (voz), Rans Spectro (voz), Ricô (voz/baixo), Rodrigo DaLua (Guitarra e Synth), Vic Santana (bateria), DJ Mangaio (programações) e Jahgga (percussão).

E aí, foi boa a aula?

OQuadro: show de lançamento Nêgo Roque / Dia 16, Largo Pedro Archanjo, Pelourinho / Horário e ingressos a divulgar / www.facebook.com/OQuadromusica



NUETAS

Ronei Jorge sexta

Ronei Jorge faz aquele show bacana e astral que gente adora. Sexta-feira, Tropos Gastrobar. 21 horas, pague quanto quiser.

Flerte & Porn sexta

As bandas Flerte Flamingo e Soft Porn se apresentam  no Qattro Gastronomia & Cultura (Rua Fonte do Boi, Rio Vermelho). Cabelos ao vento, gente jovem reunida. Sexta-feira, 21 horas,  gratuito.

Lívia, BNegão, Vandal, Áurea, Ministereo

O evento Coro de Rua traz a cantora  Livia Nery convidando os rappers BNegão, Vandal e Áurea Semiséria, com o Ministereo Publico mandando ver nos beats invocados. A parada é na rua – Rua do Couro, Ladeira da Barroquinha. Domingo, dia 10, a partir das 15 horas. Gratuito. Beba água e não esquece o filtro solar.

2 comentários:

Rodrigo Sputter disse...

"o rock isso e o rock aquilo...blablabla"...a industria embranquece tudo fio...num é só o rock...mas o underground taí na resistência com negros tocando rock desde antes o termo existir...quem fica só na superfície fala isso...mas quem se aprofunda tá ligado da colé...

Franchico disse...

Fãs do Pink Floyd vão poupando seu dindin que o home vem pra Fonte!

https://istoe.com.br/roger-waters-confirma-7-apresentacoes-no-brasil-em-2018/