quarta-feira, abril 18, 2018

NÃO MEXA COM ELAS, RAPAZ!

Cinco meninas retadas e uma banda: Lisbeth, a face mais feminista do rock baiano

Lisbeth, fotos Lanne Araújo
Nestes dias tão estranhos, em que pessoas supostamente  educadas saem do armário para ostentar (com orgulho!) seu machismo e pensamento retrógrado, a reação deve vir à altura.

E tem vindo, das diversas instâncias da sociedade que não cedem ao fascismo fascinante. Eis aqui, portanto, uma valiosa contribuição do rock baiano: a banda Lisbeth.

Com cinco garotas retadas, a Lisbeth acaba de lançar seu primeiro trabalho, o EP Dona da Rua, com quatro faixas.

Francamente feminista, faz um bem-vindo contraponto ao rock – não apenas baiano – que, por incrível que pareça, e indo contra sua própria natureza revolucionária, tem se tornado um reduto de machinhos classe-média chorões - autoproclamados “conservadores”.

“Nos assumimos como banda feminista em 2017, e ficamos com certo receio da reação do público, inclusive o do rock, que contraditoriamente, é muito conservador. Até agora, ninguém nos ofendeu diretamente por conta dos nossos posicionamentos”, conta a vocalista Ângela Maranhão.

“Mas estamos prontas pra enfrentar o que vier de positivo e negativo, defendendo o que a gente acredita. Os homens que ouvem nosso som são, em geral, nossos conhecidos e relacionados, que tem tido uma reação muito positiva. O mesmo em relação as feministas, que são um número cada vez maior de mulheres. Um apoio especial tem vindo de Tatiana Trad, baixista experiente que tem nos apoiado e nos produziu musicalmente no EP Dona da Rua, junto com Irmão Carlos”, acrescenta.

A iniciativa de formar a Lisbeth foi de Angela e de Fernanda, guitarrista que deixou a banda recentemente: "Saímos perguntando aos amigos no facebook se conheciam mulheres que tocassem instrumentos e acabamos sendo unidas pela sorte. Desde o começo nos unimos por sermos mulheres que tocam e amam o rock. Se não fosse por isso talvez nunca tivéssemos nos conhecido, já que moramos muito longe umas das outras e viemos de realidades sociais bem distintas (na época de fundação da banda, os bairros eram Paralela, Cajazeiras, Liberdade e Federação). Já a nossa nova guitarrista, Carol Pepa, conhecemos do rock – ela tocava junto com Daniela, a baterista, na banda Garotas de Liverpool", relata.

Mas sabe o que é o melhor? A Lisbeth, pelo menos no material de estúdio, se mostrou  uma banda de grande potencial, com um som que transita entre o riot grrl (facção feminista do movimento punk) da faixa-título ao pop rock de Homens Vs. Aliens.

Legítima Defesa é outra pérola, narrando de forma muito vívida os planos de uma mulher para se livrar do marido abusivo: “Não deixe o medo te envenenar / Aprenda que é bom ser um pouco má / Hoje a minha noite vai ser em paz / Depois dessa janta ele não levanta mais”.

Desce do muro aí!

Manoela (gtr), Ângela (vcl), Carol (gtrs), Mariana (bx) e Dani (btr)
Méritos também vão para os produtores do disco, a baixista Tatiana Trad (Lou, Scambo) e o inoxidável Irmão Carlos.

“Em termos de influências musicais, existem algumas bandas e cantoras que são unanimidade entre as integrantes, como The Cranberries, The Runaways, Rita Lee, Cássia Eller. Essas bandas/cantoras são de extrema importância para a constituição da banda e seu conceito, não só musical, mas também ideológico. Rita Lee e Cássia são rainhas em cantar e viver essa liberdade que muitas mulheres brasileiras buscam incansavelmente, rompendo com valores conservadores. The Runaways e The Cranberries são as influências em termos de conjunto, de banda, no sentido musical e  instrumental da coisa toda. Além dessas bases, nós somos influenciadas pelos movimentos que buscam defesa das minorias como um todo, principalmente o feminismo, que vem cada vez mais sendo interseccional e sensível a pautas que vão além do gênero”, conta Angela.

Recado dado, agora é ficar de olho pra curtir um show das garotas. Só lembre de descer do muro antes, OK?

“A situação está crítica no Brasil. A nossa democracia foi golpeada e o golpe é machista, racista, LGBTfóbico. Marielle Franco, vereadora negra, lésbica e representante da favela foi executada há mais de um mês no Rio de Janeiro e ainda não temos respostas das instituições. Ao mesmo tempo, direitos vem sendo tolhidos dos trabalhadores, a educação crítica e reflexiva vem sendo questionada, enquanto as violências contra as mulheres só crescem. Está tudo interligado e precisamos nos insurgir, inclusive através da música. É uma realidade que não permite que se fique em cima do muro, insistindo no mito da neutralidade política. Ou você é a favor da democracia ou não é, ou você é a favor dos direitos humanos ou não é. Nós somos, e continuaremos a assumir o ônus do enfrentamento, pois de nós enquanto mulheres não haverá passividade nem resignação: #MariellePresente em todas nós”.

ww.facebook.com/lisbethband



NUETAS

Já foi ao Mercadão?

Novo espaço de Messias GB, o Mercadão C.C. (embaixo do Banhoff) tem discotecagem de Big Bross & Elletra (Messias himself) quinta-feira. 19 horas, pague quanto quiser.

7 Cabeludos e o Rei

Com músicos experientes do cenário (Paquito, Morotó Slim, Maurício Pedrão, Nuno Chuck Norris), Os Sete Cabeludos fazem o repertório mais legal e menos careta de Roberto Carlos. Sexta-feira, Groove Bar, 22 horas, R$ 20 (antecipado no Sympla) ou R$ 30.

RZO, Nova  Era e MC

Grande nome do rap nacional desde os anos 90, o grupo RZO se apresenta em Salvador sábado, no Largo Tereza Batista. Os locais Rap Nova Era e MC Correria fazem as honras da casa. 20 horas, R$ 30 (antecipado no Sympla) e R$ 40 (na porta), R$ 50 (casadinha).

4 comentários:

rodrigo sputter disse...

num sei o q esse povo anda ouvindo ou assistindo o show...o rock que eu Ouço e ando num tem nada de conservador...

o som achei bem feito, gravado, mas parece mais pop q rock...falta algo delas ainda...particlar....me lembrou bastante a extinta banda Lou, de trad...quero ouvir as outras faixas...acho que faltou mais uma atitude no jeito de tocar, pois na ideoliga eu vi muita...podiam ousar mais no som...ser menos conservador...boa sorte com as minas...estamos precisando de mais atitude no rock...

Franchico disse...

É isso, Sputter, esse foi só o primeiro registro, deixa as meninas afiarem as garras. Dá pra evoluir bastante ainda, vamos incentivar, que o rock tá precisando....

rodrigo sputter disse...

quando eu vi as minas, pensei q seria algo nessa pegada:

https://www.youtube.com/watch?v=eNh1w8Wh61c

https://www.youtube.com/watch?v=bU1LB4StySo

boss hog até lancou um disco legal ano passado...ou foi esse ano...


ou isso:

https://www.youtube.com/watch?v=N84sMnOJBcQ

https://www.youtube.com/watch?v=t_6Z23fWge0

Rodrigo Souza Chagas disse...

poderiam ouvir as grandes Merceárias!!!!